Solidão persistente na meia-idade pode aumentar risco de Alzheimer

Estudo mostra que ficar só por muito ou pouco tempo têm impactos diferentes na saúde

Redação Publicado em 26/03/2021, às 20h00

A solidão apareceu como fator de risco independente de depressão na meia-idade - iStock

A solidão na meia-idade está ligada à demência tardia e à doença de Alzheimer, entretanto essa relação depende da persistência da solidão. Esses são os resultados de uma pesquisa baseada no Framingham Heart Study e publicada em um dos periódicos da Alzheimer’s Association

Os participantes do estudo que relataram estar constantemente solitários quando tinham entre 45 e 64 anos tiveram maior risco de apresentar demência mais tarde na vida em comparação com os indivíduos que não experimentaram a solidão. 

Entretanto, a solidão considerada transitória na meia-idade foi associada a um menor risco de demência, e os resultados foram semelhantes para chances de desenvolver a doença de Alzheimer

Permanente x transitória

Segundo os pesquisadores, o estudo é o primeiro a revelar que a solidão persistente e a transitória impactaram de maneira diferente o risco do aparecimento do Alzheimer. 

Os resultados sugerem que embora ser solitário de forma permanente seja uma ameaça à saúde do cérebro, a resiliência psicológica após experiências adversas de vida pode explicar por que a solidão transitória se comporta como protetora no contexto de início da demência.

A solidão é constantemente ligada ao Alzheimer e à função cognitiva entre idosos, mas poucas pesquisas se dedicam a estudar a solidão como fator de risco de demência entre os mais jovens. 

Dezoito anos de acompanhamento 

Neste estudo, os pesquisadores analisaram 2.880 pessoas cognitivamente normais com 45 anos ou mais, entre 1998 e 2001. Os participantes realizaram exames de saúde a cada quatro anos e, pelo menos, duas avaliações de solidão com aproximadamente três anos de diferença. 

A solidão foi mensurada com base no número de dias que os voluntários relataram sentir-se solitários na última semana. A equipe determinou a demência e a doença de Alzheimer através do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), do Instituto Nacional de Distúrbios Neurológicos e Comunicativos e Derrame e da Associação de Doenças de Alzheimer e Transtornos Relacionados (NINCDS-ADRDA). 

Todos os participantes foram acompanhados até o final de 2018 (por, no máximo 18 anos) com tempo para eventos, como morte ou início de demência ou Alzheimer.

Descobertas 

Dos voluntários, 74,3% não relataram solidão, 8,8% contaram que se sentiam solitários de forma contínua e 8,4% revelaram a solidão transitória (solidão em uma sessão, mas não na avaliação seguinte). Além disso, 8,4% tiveram solidão incidente, ou seja, que não foi observada em encontros anteriores. 

Em comparação com aqueles indivíduos que não relataram solidão, os participantes com solidão transitória, incidente ou persistente eram mais propensos a ser do sexo feminino, viver sozinhos, ficar viúvos(as), deprimidos e ter menores vínculos sociais com outras pessoas. Não foi identificada nenhuma diferença quanto à idade, escolaridade, doenças cardiovasculares ou diabetes nos quatro grupos. 

Das 2.880 pessoas, 7,6% desenvolveram demência, sendo 81,2% diagnosticados com Alzheimer. Comparando com os participantes que não relataram solidão, aqueles solitários persistentes apresentaram maior risco de desenvolver tanto a demência (13,4% vs 7,5%), quanto a doença de Alzheimer (10,6% vs 6,0%). 

Já as pessoas com solidão transitória mostraram menor risco de demência (2,1% vs 7,5%) e de Alzheimer ( 2,1% vs 6,0%). A solidão, inclusive, apareceu como fator de risco independente da existência de depressão na meia-idade. 

Veja também: 

demência solidão alzheimer

Leia também

Covid-19: depressão nos jovens pode dar origem a doenças no futuro


Exercícios aeróbicos reduzem perda de memória em pessoas com Alzheimer


Estudo revela efeitos psicológicos da pandemia na gravidez e pós-parto


Viva mais e melhor