Jairo Bouer Publicado em 16/09/2020, às 16h28 - Atualizado em 30/09/2020, às 12h49
Você sabia que a solidão faz mal à saúde? Há evidências de que pessoas com poucas conexões sociais de qualidade são mais propensas a desenvolver certas doenças, como as do coração. Agora, um estudo conclui que se sentir solitário também pode ser um fator de risco para o diabetes tipo 2.
O trabalho, publicado no periódico Diabetologia, da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes, é de pesquisadores do King`s College London, na Inglaterra. Os resultados saem num momento complicado, em que muitos pacientes idosos ou com pré-diabetes estão isolados por causa da Covid-19.
A solidão ocorre quando um indivíduo sente que suas necessidades sociais não estão sendo atendidas, e reflete um desequilíbrio entre as relações sociais desejadas e reais. Um quinto dos adultos no Reino Unido e um terço dos adultos nos EUA afirmam se sentir solitários às vezes. E mais: os jovens de hoje também se sentem sozinhos.
Como foi feito
O estudo analisou informações do English Longitudinal Study Ageing, um grande banco de dados com 4.112 adultos com 50 anos de idade ou mais. Essas pessoas passaram por exames médicos regulares entre 2002 a 2017. No primeiro ano, todos os participantes tinham níveis normais de glicose no sangue, e, portanto, não tinham diabetes.
O estudo mostrou que ao longo dos 12 anos, 264 pessoas desenvolveram diabetes tipo 2. E os pesquisadores descobriram que o nível de solidão medido no início da coleta de dados foi um preditor do aparecimento da doença mais tarde.
Essa associação entre se sentir só e desenvolver a doença se manteve mesmo quando levados em conta fatores como tabagismo, álcool, peso, nível de glicose no sangue, hipertensão e doenças cardiovasculares. A associação também foi independente de depressão, morar sozinho e isolamento social. Outro detalhe importante: a relação foi observada mesmo quando os participantes não apresentavam depressão.
Solidão não é viver só
Os autores ressaltam que existe uma diferença importante entre solidão e isolamento social. Viver só, ou num local isolado, não é o que aumenta o risco de diabetes tipo 2. O que importa é a qualidade dos relacionamentos que a pessoa tem.
Uma possível razão biológica para a associação é que a solidão constante pode levar à liberação de hormônios do estresse, que, com o tempo, interferem no metabolismo e no risco de diabetes. Mas tudo isso ainda precisa ser confirmado por estudos futuros.
De qualquer forma, fazer um esforço para ter relacionamentos de qualidade só traz benefícios. Se no momento não dá para sair muito, o jeito é conversar pelo telefone ou por videoconferência.