Muitas evidências sugerem que dedicar-se a um objetivo pode estimular as pessoas a viverem mais
Redação Publicado em 28/11/2022, às 12h00
Ter um propósito reduz o risco de de mortalidade por todas as causas, mostra um estudo. E, apesar dessa afirmação valer para todas as pessoas, independente de raça, etnia ou gênero, os efeitos são mais pronunciados entre as mulheres, de acordo com a pesquisa, liderada por Koichiro Shiba, professor assistente da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston, nos EUA.
Pesquisas anteriores já tinham encontrado fortes associações entre ter um senso de propósito na vida e maior longevidade. Para o presente estudo, publicado no periódico Preventative Medicine, pesquisadores analisaram uma amostra diversificada e nacional de adultos mais velhos naquele país.
Os dados vieram de 13.159 adultos com mais de 50 anos que participaram do 'Estudo Longitudinal de Saúde e Aposentadoria', patrocinado pelo Instituto Nacional para o estudo do Envelhecimento e pela Administração da Seguridade Social dos EUA. Após um período de acompanhamento de oito anos, 3.253 dos participantes (ou 24,7% da amostra) morreram.
A análise revelou que aqueles com maior senso de propósito reduziram o risco de morte em 15,2% em comparação com pessoas sem essa característica. Os resultados apontaram que a qualidade foi mais fortemente associada à longevidade em mulheres do que em homens, embora tenha proporcionado um benefício significativo para ambos. No caso delas, o risco de mortalidade por todas as causas foi reduzido em 34%, enquanto que, para os homens, a diminuição foi de 20%.
“Um senso de propósito na vida é até que ponto alguém sente que sua existência tem direção e objetivos finais. Um forte senso de propósito na vida parecerá diferente em pessoas diferentes. Algumas podem querer contribuir para a comunidade; outras, ter sucesso em sua carreira, ou, ainda, poder cuidar de suas famílias”, explicou ao site Medical News Today Stephanie Hooker, pesquisadora do Health Partners Institute em Bloomington, não envolvida no estudo.
Porém, para o novo estudo, uma definição mais técnica de propósito era necessária. De acordo com Shiba, os pesquisadores usaram um submódulo da Escala de Bem-Estar Psicológico de Ryff (Carol Ryff, psicóloga americana que dedicou a vida profissional ao estudo do bem-estar e da resiliência) para medir o propósito de seu estudo. “Especificamente, este submódulo consiste em sete itens como 'Eu tenho um senso de direção e propósito na vida', 'Minhas atividades diárias muitas vezes parecem triviais e sem importância para mim' e 'Não tenho noção do que estou tentando realizar na vida'”, disse o professor.
Está bem documentado que o estresse pode afetar negativamente uma variedade de sistemas do corpo, o que significa que ser capaz de gerenciá-lo é uma habilidade fundamental para manter a saúde geral. “Nosso próprio trabalho mostrou que indivíduos com maior senso de propósito relatam menos reatividade aos estressores diários e parecem menos propensos a ser estressados ou ansiosos diante de eventos ambíguos em suas vidas. Supostamente, esses efeitos ocorrem porque os indivíduos são capazes de se concentrar no quadro geral, em vez de ficarem angustiados com as questões cotidianas”, afirmou ao MNT Patrick Hill, pesquisador especializado em envelhecimento saudável e professor associado de ciências psicológicas e cerebrais na Universidade de Washington em St. Louis e não envolvido no estudo.
Stephanie acrescentou que pesquisas anteriores mostraram que pessoas com um propósito maior também se envolvem em comportamentos que promovem a saúde. “Por exemplo, eles praticam atividade física, são menos propensos a fumar e usam mais serviços de cuidados preventivos (por exemplo, consultar um médico para exames anuais)”, completou Hill.
Considerando os benefícios mais fortes entre as mulheres que vivem com propósito, Shiba observou: “Nossa especulação é que o resultado pode ser atribuído à diferença de gênero no uso de serviços de saúde, que é um dos caminhos postulados que ligam propósito e saúde”. Outra teoria pode ser que outras pesquisas mostram que os homens relutam mais em consultar médicos e outros profissionais de saúde sobre seus problemas em comparação com as mulheres.
Hill explicou que uma pesquisa anterior, feita por ele, mostrou que os cuidadores podem ver seus entes queridos ou familiares idosos como menos possuidores de propósito e direcionados, o que pode moldar como eles cuidam e interagem com eles. “Um ponto principal de nossa pesquisa é que os cuidadores devem evitar subestimar o quão determinados são seus entes queridos”, disse.
Ele recomendou que os cuidadores perguntem a seus entes queridos sobre a direção de sua vida e os encorajem a considerar como podem manter um senso de propósito, principalmente diante de possíveis problemas de saúde. “Os cuidadores podem ajudá-los a encontrar algo pelo qual viver. Isso pode estar contribuindo para a família, o lar ou a comunidade de maneira significativa”, adicionou Stephanie.
“No entanto, não precisa ser uma grande tarefa. Por exemplo, conforme descrito no livro de Atul Gawande, ‘Mortais: Nós, a Medicina e o Que Realmente Importa no Final’ (Editora Objetiva), pacientes de casas de repouso viveriam mais se recebessem uma planta para cuidar”, finalizou.
Fonte: Medical News Today
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