Sexo é uma experiência central na vida de muita gente. É parte importante da nossa existência e dos nossos relacionamentos. Em algumas fases da vida, as pessoas acordam pensando em sexo e vão dormir pensando e, muitas vezes, fazendo sexo. Sexo, de uma maneira geral, é uma vivência extremamente prazerosa.
Uma vida sexual de qualidade pode ter impactos positivos em nossa saúde, emoções, humor, e em nossas relações sociais. Tem gente que não consegue imaginar sua vida ou seu relacionamento sem sexo e isso faz muito sentido.
Mas será que ele tem que estar presente, o tempo todo, na vida de todos nós? Será que a gente é obrigada (o) a ter uma frequência sexual mínima? E algumas pessoas, como os assexuais, que podem não ter interesse em sexo, como eles ficam nesse contexto?
Aqui, vale aquela máxima que a gente sempre repete: quando se trata de comportamento sexual não existe uma regra ou uma forma única. É na riqueza da diversidade das experiências humanas que o sexo (e os relacionamentos) existem.
Assim, em algumas fases da vida, eu posso querer fazer sexo todos os dias, com parceiros ou parceiras diferentes. Em outras fases, eu posso me reservar o direito de não querer fazer sexo por seis meses ou um ano, ou, ainda, o tempo que que quiser, sem ter que ser cobrado por isso.
Esse afastamento não é obrigatoriamente causado por um trauma, um sofrimento intenso, uma experiência ruim, uma doença, ou a pressão de uma religião, por exemplo, como em geral se imagina. O desejo de não querer fazer sexo pode ser, sim, uma decisão autêntica minha, uma escolha, e tudo bem!
Da mesma forma, existem pessoas que podem não se interessar por sexo nunca ou se interessar de forma apenas parcial, ou, ainda, apenas quando essa experiência está atrelada a um relacionamento afetivo u uma conexão emocional (demissexuais).
A falta de desejo sexual não é necessariamente um problema ou uma doença, e nem precisa de tratamento para baixa libido. É uma decisão pessoal e isso não incomoda a pessoa, o que marca uma orientação sexual como qualquer outra.
É claro que depressão, problemas hormonais, estresse, crise no relacionamento, entre outras causas, podem levar a uma piora da libido e diminuir o desejo por se engajar em sexo, mas são pessoas que gostam de sexo e, momentaneamente, enfrentam uma piora do seu desejo. Diferente dos assexuais, que não gostam, não querem e não sentem falta de sexo.
Alguém pode ser assexual e, mesmo assim, querer se engajar ou se envolver amorosamente com outra pessoa. Eles não curtem sexo, mas podem nutrir afetos e sentimentos por seu parceiro.
Recado final: o ideal é que as pessoas possam ter liberdade e respeito para viver ou não sua orientação quando o assunto é sexo.
Dr. Jairo Bouer
Médico psiquiatra com formação na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), biólogo pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), e mestre em evolução humana e comportamento pela University College London, além de palestrante e escritor. Twitter: @JairoBouerDr