Pesquisa sugere que crianças com deficiência são duas vezes mais propensas a experimentarem qualquer forma de violência
Redação Publicado em 18/03/2022, às 18h00
Crianças e adolescentes com deficiência experimentam violência física, sexual, emocional e negligência em taxas consideravelmente maiores do que aquelas sem deficiência. Os dados são de uma meta-análise publicada na revista The Lancet Child & Adolescent Health e que envolveu mais de 16 milhões de jovens de 25 países.
Segundo as descobertas, jovens com doença mental e deficiências cognitivas ou de aprendizagem, como transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e autismo, são mais propensos a sofrer violência e apresentam mais do que o dobro de chances de serem submetidos a situações violentas, o que pode ter um impacto sério e duradouro em sua saúde e bem-estar.
Para os autores, os dados destacam a necessidade urgente de esforços colaborativos de governos, profissionais de saúde, assistência social e pesquisadores para conscientizar sobre todas as formas de violência contra crianças com deficiência e fortalecer os esforços de prevenção.
Os pesquisadores lembram ainda que a prática da violência tem consequências sociais, sanitárias e econômicas duradouras, incluindo taxas mais altas de abandono escolar, piores perspectivas de emprego e maior risco de doenças mentais e crônicas.
Estima-se que 291 milhões de crianças e adolescentes tenham epilepsia, deficiência intelectual, deficiência visual ou perda auditiva. Os números são maiores em outras deficiências físicas e mentais.
A grande maioria vive em países de baixa e média renda. Estigma, discriminação, falta de informação sobre a deficiência e acesso inadequado ao apoio social por cuidadores contribuem para os níveis mais elevados de violência e isso pode ser ainda mais intensificado pela pobreza e pelo isolamento social.
Os desafios únicos enfrentados pelas crianças com deficiência, como a incapacidade de verbalizar ou se defender, também podem torná-las alvo mais vulneráveis da violência.
Em 2012, uma revisão sistemática, publicada no The Lancet, estimou que mais de 25% das crianças com deficiência em países de alta renda sofreram violência e que suas chances de passar por essa situação eram mais de três vezes maiores do que seus pares não deficientes.
Esta nova análise inclui um maior número de estudos de uma área geográfica mais ampla, mais tipos de violência (por exemplo, bullying por pares e violência de parceiros íntimos) e uma gama mais ampla de deficiências (limitações físicas, transtornos mentais, deficiências cognitivas ou de aprendizagem, deficiências sensoriais e doenças crônicas), além de usar métodos atualizados para fornecer estimativas globais atuais de violência contra crianças com deficiência.
Confira:
As novas estimativas sugerem que uma em cada três crianças com deficiência é sobrevivente de violência e que tem duas vezes mais chances de sofrer violência do que crianças não deficientes.
Os pesquisadores fizeram uma revisão sistemática e meta-análise de todos os estudos observacionais que medem a violência contra crianças com deficiência publicados em 18 bases de dados de língua inglesa e três bases de dados regionais chinesas entre 1990 e 2020. Os dados foram analisados em 98 estudos envolvendo mais de 16,8 milhões de crianças, incluindo 75 estudos de países de alta renda e 23 estudos de sete países de baixa renda e de renda média.
A análise constatou que as taxas globais de violência variaram por incapacidade e foram ligeiramente maiores entre crianças com transtornos mentais (34%) e deficiências cognitivas ou de aprendizagem (33%) do que para aquelas com deficiências sensoriais (27%), limitações físicas ou de mobilidade (26%) e doenças crônicas (21%).
Os tipos de violência mais comumente relatados foram emocionais e físicos, vivenciados por cerca de uma em cada três crianças e adolescentes com deficiência. As estimativas sugerem que um em cada cinco jovens sofre negligência e um em cada dez sofreu violência sexual.
O estudo também chama a atenção para os altos níveis de bullying por pares, com quase 40% das crianças com deficiência. O bullying presencial (atos físicos, verbais ou relacionais, como bater e chutar, insultos e ameaças ou exclusão social) é mais comum (37%) do que o cyberbullying (23%).
Em geral, as crianças com deficiência que vivem em países de baixa renda experimentaram taxas de violência mais altas do que aquelas em países de alta renda. Segundo os pesquisadores, possivelmente, esse dado seja resultado do acesso limitado a serviços de prevenção e apoio, níveis mais baixos de proteção legal e atitudes e normas que estigmatizam as pessoas com deficiência e levam a uma maior tolerância social à violência.
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