Redação Publicado em 08/06/2021, às 10h00
Ficar apenas um mês sem beber pode trazer algum benefício para a saúde?
Sim. E há até estudos que comprovam as vantagens de dar um tempo no consumo de bebida alcoólica. A ideia é muito popular em alguns países da Europa, como o Reino Unido, e o mês escolhido para a empreitada costuma ser janeiro, tanto que recebe o nome de "Dry January" (ou Janeiro Seco).
Um estudo da Universidade de Sussex, na Inglaterra, de 2018, mostrou que essa "desintoxicação" de um mês traz mais energia, pele mais bonita, cintura mais fina e mais dinheiro no bolso.
Outros benefícios descritos pelos participantes foram: 88% deles disseram ter economizado uma grana com a abstinência; 80% passaram a se sentir mais no controle na hora de beber; e 76% entenderam melhor por que precisam da bebida. Além disso, 70% sentiram uma melhora significativa no sono e na saúde; mais da metade dos participantes relatou ter perdido peso no processo; 57% notaram que a concentração melhorou e 54% perceberam que a pele ficou mais bonita.
O efeito que me parece mais interessante é que a turma decidiu beber menos depois da experiência. Seis meses depois, foi constatado que a frequência de consumo tinha caído de 4,3 vezes por semana, em média, para 3,3. No mês, a redução foi de 3,4 para 2,1. Para melhorar, a quantidade de álcool ingerida em cada ocasião também diminuiu nos meses seguintes ao “janeiro seco”, de 8,6 unidades para 7,1 por dia. Lembrando que cada unidade de bebida alcoólica equivale a uma lata ou tulipa de cerveja, uma taça pequena de vinho (100 ml) e uma dose de 30 ml de destilado (como uísque, vodca ou cachaça).
Já uma outra pesquisa, publicada em julho de 2019 no Canadian Medical Association Journal, apontou que mulheres que deixaram de beber sentiram melhora na saúde mental. O estudo analisou os hábitos de consumo e os níveis autorrelatados de saúde mental de mais de 10.000 pessoas em Hong Kong e de mais de 31.000 pessoas nos EUA.
Participaram da pesquisa pessoas com 18 anos ou mais, que não bebiam ou o faziam moderadamente (em média ≤ 14 bebidas por semana [196 g de álcool puro] para homens e ≤ 7 bebidas por semana [98 g de álcool puro] para mulheres), os chamados “bebedores pesados” foram excluídos da análise. Em ambos os grupos, homens e mulheres que nunca consumiram álcool na vida relataram os mais altos níveis de bem-estar mental. O interessante da pesquisa foi mostrar uma mudança mais favorável no bem-estar mental entre as mulheres de ambos os grupos, mas isso não ocorreu com os homens.
As explicações para o mecanismo subjacente não ficaram claras. Os pesquisadores acreditam ser possível que a neurotoxicidade relacionada ao álcool se reverta após a abstinência. Assim, a cessação do álcool também pode reduzir eventos estressantes da vida, como conflitos dentro da família, dificuldades no emprego e problemas legais, resultando em melhoria do bem-estar mental.
Eles também frisam que, ao ficarem sóbrias, muitas vezes as pessoas se sentem mais calmas, a ansiedade diminui e há menos irritabilidade. O álcool pode até aliviar a ansiedade de início, mas também ajuda a ativar sistemas no cérebro que a pioram, levando a um ciclo: "preciso de mais álcool para aliviar minha ansiedade, o que piora minha ansiedade, então preciso de mais para aliviá-la".
Vale lembrar que a recomendação da OMS é que mulheres não excedam 7 unidades de bebida alcoólica por semana, e homens, 14, mas também que não passem de 4 ou 5 doses em cada ocasião. Em outras palavras, não adianta beber 7 latas de cerveja só no sábado e achar que está dentro do limite recomendado.
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