Redação Publicado em 23/06/2021, às 15h00
Uma análise feita pelo Instituto Nacional de Abuso de Drogas (Nida), com dados de mais de 280.000 jovens adultos entre 18 e 35 anos, mostrou que o uso de cannabis (maconha, haxixe etc) estava associado ao aumento dos riscos de pensamentos suicidas, assim como planos e tentativas de suicídio.
Os resultados – publicados no periódico JAMA Network Open – revelaram, ainda, que essas relações foram mantidas independente de a pessoa também estar passando por depressão, e os riscos foram maiores para as mulheres do que para os homens.
Segundo os pesqusiadores, embora não seja possível estabelecer que o consumo de cannabis tenha sido a causa do aumento do suicídio observado na pesquisa, essas associações justificam novas análises, especialmente dada a grande carga de suicídio entre jovens adultos.
Assim, à medida que essa ligação entre maconha, depressão e suicídio for melhor compreendida, médicos poderão fornecer orientações e cuidados mais adequados aos pacientes.
O artigo informou que o número de adultos estadunidenses que usam cannabis mais que dobrou: 22,6 milhões de pessoas em 2008 para 45 milhões em 2019. Além disso, a quantidade de usuários diários praticamente triplicou de 3,6 para 9,8 milhões em 2019.
Ao mesmo tempo, o número de adultos com depressão também cresceu, assim como o de pessoas que relataram algum pensamento ou plano suicida ou que morreram por suicídio.
Confira:
Para a análise, a equipe do Nida examinou dados das Pesquisas Nacionais de Uso e Saúde de Drogas (NSDUH 2008-2019), realizadas anualmente para coletar dados representativos nacionais sobre o consumo de cannabis, depressão, suicídio e outros indicadores de saúde comportamental.
Além de determinar a associação entre esses fatores, os pesquisadores também procuraram examinar se essas relações variavam por gênero. Foram analisados dados de 281.650 jovens adultos de 18 a 35 anos – é nessa faixa etária que a maioria dos transtornos de uso de substância e humor surgem, tanto em homens como em mulheres.
O estudo comparou quatro níveis de uso de cannabis: sem consumo, uso não diário, uso diário (definido como consumo em, pelo menos, 300 dias por ano) e a presença de transtorno do uso da substância (ou dependência).
Para determinar a presença da depressão, a equipe avaliou ainda a prevalência de episódios depressivos graves com base em critérios diagnósticos específicos mensurados através da pesquisa. As tendências de suicídio, por sua vez, foram analisadas separadamente (pensamentos, planos e tentativas suicidas).
Os resultados do estudo indicaram que mesmo as pessoas que não usavam cannabis diariamente, ou seja, por menos de 300 dias por ano, eram mais propensas a ter pensamentos suicidas e planejar ou tentar suicídio do que aquelas que não usavam a droga. Essas associações permaneceram independentemente de a pessoa também estar em depressão.
Entre os indivíduos sem episódio depressivo, 3% que não consumiam maconha tinham alguma ideia suicida em comparação com aproximadamente 7% das pessoas com uso não diário, 9% com uso diário e 14% com transtorno de uso de cannabis.
Já entre aquelas diagnosticadas com depressão, 35% que não usavam maconha tinham pensamentos suicidas; entre as que não usavam diariamente a proporção era de 44%; entre as que faziam consumo diário, 53%; e entre as que tinham transtorno por uso de cannabis, 50%. Tendências semelhantes foram observadas em relação a planos ou tentativas de suicídio.
As descobertas revelaram ainda que mulheres que usavam cannabis em qualquer nível eram mais propensas a ter pensamentos suicidas ou relatar um plano ou tentativa de suicídio do que homens com os mesmos níveis de consumo.
Entre aquelas sem episódios depressivos, a prevalência da ideação suicida foi de 13,9% (com transtorno de uso de cannabis) contra 3,5% (sem transtorno) entre as mulheres, e de 9,9% versus 3% entre os homens. No caso de pessoas com o transtorno e depressão grave, a prevalência do plano de sucídio foi 52% maior para as mulheres.
Segundo os pesquisadores, o suicídio é uma das principais causas de morte entre jovens adultos nos Estados Unidos e os achados deste estudo oferecem informações importantes que podem ajudar a reduzir esse risco.
A depressão e o transtorno do uso de cannabis são condições tratáveis, assim como o consumo de maconha pode ser modificado. Com uma melhor compreensão dos diferentes fatores de risco para o suicídio é possível traçar novas metas de prevenção e intervenção, além de os dados mostrarem a importância de adaptar as medidas levando em conta o gênero.
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