O uso de álcool, tabaco e drogas entre os jovens caiu drasticamente nos EUA nos últimos anos. Quem afirma é a médica Nora Volkow, que lidera os Institutos Nacionais de Abuso de Drogas, naquele país.
Em entrevista ao The New York Times, ela conta que, em 2023, 46% dos alunos de último ano do ensino secundário disseram ter bebido no ano anterior à entrevista. Essa proporção representa uma queda vertiginosa em relação aos 88% registrados em 1979, quando o comportamento atingiu o pico.
Uma tendência de queda semelhante foi observada no que diz respeito ao consumo de cigarros. Em 2023, apenas 15% dos alunos de último ano do secundário disseram ter fumado um cigarro na vida, muito abaixo do pico de 76% em 1977.
O consumo de drogas ilícitas entre os adolescentes também permaneceu baixo e bastante estável nas últimas três décadas, com alguns declínios notáveis durante a pandemia de Covid-19. Em 2023, 29% dos alunos do último ano do ensino secundário relataram ter consumido maconha no ano anterior – abaixo dos 37% em 2017 e do pico de 51% em 1979.
Mas existem algumas advertências preocupantes. Uma delas é que as mortes por overdose de adolescentes aumentaram acentuadamente nos EUA. As mortes relacionadas com o uso do fentanil entre adolescentes duplicou entre 2019 e 2020 e a permaneceu nesse nível nos anos subsequentes.
Volkow, que dedicou sua carreira ao estudo do uso de drogas e álcool, afirma que a atual taxa de consumo de drogas representa o nível mais baixo visto em décadas. E um fenômeno semelhante ocorre em relação ao álcool e ao tabaco.
Ela credita a mudança às campanhas de educação e prevenção, em especial a que é feita em relação ao tabagismo. Medidas para reforçar o cumprimento da lei no país, que proíbe álcool e tabaco para menores de 21 anos, também têm surtido efeito, segundo ela.
As mídias sociais são outro fator que influenciou o consumo. “As redes sociais mudaram a oportunidade de estar no espaço físico com outros adolescentes. Isso reduz a probabilidade de usarem drogas. E isto tornou-se dramaticamente evidente quando fecharam as escolas por causa da Covid-19. Vimos um grande salto descendente na prevalência do uso de muitas substâncias durante a pandemia. Isso pode ser porque os adolescentes não podiam estar uns com os outros”, relata.
Apesar do regresso das escolas, a prevalência do consumo de substâncias não atingiu o período pré-pandémico, segundo as pesquisas.
É possível, também, que o escapismo da internet e dos videogames tenha substituído o que se busca nas drogas.
Mas ela alerta que o uso de opioides ainda é algo preocupante nessa faixa etária, e que leva a mortes por overdose.
O vape é outro problema, pois seu consumo é superior ao dos cigarros. Em 2021, por exemplo, cerca de um quarto dos alunos do último ano do ensino secundário afirmaram ter fumado nicotina no ano anterior.
Por que os adolescentes resistiriam aos cigarros e migrariam para a vaporização?
“O que entendemos é que a vaporização da nicotina tem seus próprios danos, mas isso não foi tão bem compreendido como foi o caso do tabaco. O outro aspecto que tornou o vaping tão atraente para os adolescentes foi que ele estava associado a todos os tipos de sabores, até que o FDA (órgão regulador nos EUA) tornou sua venda ilegal.
A médica também comenta que as informações que têm circulado sobre os benefícios da maconha e de drogas psicodélicas também apresenta um novo risco às novas gerações, que demanda estratégias diferentes àquelas utilizadas para o álcool e ao tabaco.
“Embora a cannabis também possa causar dependência, talvez seja menos viciante do que a nicotina ou o álcool, e é necessária mais investigação nesta área, especialmente sobre produtos mais recentes e de maior potência. Os psicodélicos geralmente não levam ao vício, mas podem produzir experiências mentais adversas que podem colocar você em risco de psicose.”
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin