Estudo sugere que a vacina anual contra gripe reduz riscos de acidente vascular cerebral, sepse e TVP
Redação Publicado em 12/07/2021, às 11h30
Durante o Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ECCMID) deste ano, realizado on-line, foi apresentada uma pesquisa mostrando que a vacina contra a gripe pode fornecer proteção contra a Covid-19.
O estudo, uma análise de dados de pacientes do mundo todo, sugere que a vacina anual contra a gripe reduz os riscos de acidente vascular cerebral, sepse e TVP (trombose venosa profunda) em pacientes com Covid-19. Outro ponto forte da pesquisa foi apontar que vacinados também mostraram menor probabilidade de ir a um pronto-socorro ou serem admitidos em UTIs.
Infelizmente, pelo que temos acompanhado, imunizar o mundo contra a Covid-19 é um desafio imenso e, embora a produção e distribuição de vacinas aumentem diariamente, alguns países não devem vacinar um grande número de sua população até o início de 2023.
Antes desta pesquisa ser divulgada, vários estudos de tamanho modesto sugeriram que a vacina contra a gripe poderia fornecer proteção contra Covid-19 – o que significa que pode ser uma arma valiosa na luta para conter a pandemia.
Susan Taghioff, da Faculdade de Medicina Miller da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, e colegas realizaram uma análise retrospectiva de dados de pacientes de todo o mundo para ter mais dados. No maior estudo desse tipo, a equipe rastreou registros eletrônicos de saúde não identificados, mantidos no banco de dados de pesquisa TriNetX (rede global de pesquisa em saúde) de mais de 70 mil de pacientes para identificar dois grupos de 37.377 pacientes.
Esses dois grupos foram pareados para fatores que poderiam afetar o risco de Covid-19 grave, incluindo idade, sexo, etnia, tabagismo e problemas de saúde, como diabetes, obesidade e doença pulmonar obstrutiva crônica. Os participantes do primeiro grupo receberam a vacina contra a gripe entre duas semanas e seis meses antes de serem diagnosticados com Covid-19. Já os do segundo grupo também tiveram Covid-19, mas não foram vacinados contra a gripe. O estudo foi conduzido com pacientes de países como EUA, Reino Unido, Alemanha, Itália, Israel e Cingapura.
A incidência de 15 resultados adversos (sepse; acidentes vasculares cerebrais; trombose venosa profunda; embolia pulmonar; insuficiência respiratória aguda; síndrome do desconforto respiratório agudo; artralgia ou dor nas articulações; insuficiência renal; anorexia; ataque cardíaco; pneumonia; visitas ao pronto-socorro; admissão hospitalar; admissão na UTI; e óbito) foi comparada entre os dois grupos, em um intervalo de 120 dias após o teste positivo para Covid-19 .
A análise revelou que aqueles que tiveram Covid-19, e não haviam sido vacinados contra a gripe, tinham uma probabilidade significativamente maior (até 20% mais) de serem internados na UTI. Eles também eram significativamente mais propensos a precisarem dos serviços de emergência hospitalar (até 58% mais probabilidade), desenvolver sepse (até 45% mais probabilidade), ter um derrame (até 58% mais probabilidade) e uma TVP (até 40% mais provável). O risco de morte não foi reduzido.
Os pesquisadores admitem que não sabem exatamente como a vacina contra a gripe fornece proteção contra Covid-19, mas a maioria das teorias gira em torno dela, estimulando o sistema imune inato – defesas "gerais" com as quais nascemos e que não são adaptadas a nenhuma doença específica.
Os autores do estudo afirmam que os resultados sugerem fortemente que a vacina contra a gripe protege contra vários efeitos graves da Covid-19. Eles admitem que mais pesquisas são necessárias para provar e entender melhor a possível ligação, mas, no futuro, a vacina contra a gripe poderia ser usada para ajudar a fornecer maior proteção em países onde a vacina Covid-19 é escassa.
Ter acesso a dados em tempo real de milhões de pacientes, segundo os pesquisadores, é uma ferramenta de pesquisa poderosa. Além da possibilidade de fazer perguntas importantes, isso permitiu que a equipe observasse uma associação entre a vacina contra a gripe e a menor morbidade em pacientes com Covid-19.
Para eles, esta descoberta é particularmente significativa porque a pandemia está esgotando recursos em muitas partes do mundo. Portanto, a pesquisa – se validada por estudos clínicos randomizados prospectivos – tem o potencial de reduzir a carga mundial de doenças. A vacinação contra a gripe, inclusive, poderá até mesmo beneficiar aqueles que hesitam em receber a vacina contra Covid-19 devido à novidade da tecnologia.
Porém, eles frisam que a vacina contra influenza não é de forma alguma uma substituta para a vacina contra Covid-19 e que eles defendem que todos recebam essa última quando puderem. Além disso, eles lembram que a contínua vacinação contra influenza potencialmente ajuda a população mundial a evitar o que chamam de “twindemia” – um surto simultâneo de gripe e coronavírus.
Segundo os pesquisadores. independentemente do grau de proteção conferido pela vacina contra influenza para resultados adversos associados à Covid-19, por ela ser capaz de conservar os recursos globais de saúde, mantendo o número de casos de gripe sob controle, já é razão suficiente para defender esforços contínuos na promoção da vacinação contra a influenza.
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