Estudo encontrou níveis altos de certas substâncias no corpo de crianças expostas
Tatiana Pronin Publicado em 30/03/2024, às 14h00
Todo mundo sabe que o fumo passivo é prejudicial à saúde – vários estudos já comprovaram os malefícios da exposição à fumaça do cigarro. Para as crianças, os riscos incluem desde crises de asma e infecções até síndrome da morte súbita infantil.
Porém, sabemos pouco sobre os efeitos da exposição prolongada ao vapor dos cigarros eletrônicos. Um grupo de pesquisadores recentemente começou a se debruçar nesse assunto na esperança de encontrar mais respostas. Um estudo piloto recente, apresentado na conferência da Associação Nacional de Enfermeiros Pediátricos, nos EUA, descobriu que o “fumo passivo”, ou vapor de cigarros eletrônicos, pode, de fato, impactar as crianças.
O estudo, conduzido por pesquisadores das escolas de enfermagem e de saúde pública da Universidade Emory avaliou a exposição ao cigarro eletrônico, também chamado de “fumo de segunda mão”, por vários meios em crianças de 4 a 12 anos.
O grupo de teste incluiu 48 pares de pais/filhos, 22 dos quais incluíam pais que usavam vape diariamente e 26 incluíam pais que não usavam. Treze dos pais do grupo de exposição usavam cigarros tradicionais e também eletrônicos.
Tradicionalmente, os exames de sangue são considerados o padrão para avaliar os impactos do fumo passivo, mas a equipe também utilizou testes de saliva menos invasivos e testes de ar exalado para determinar a que os filhos de adultos que fumavam cigarros eletrônicos estavam expostos. Eles, então, compararam isso com um grupo de controle, com crianças que não eram regularmente expostas ao vapor do cigarro eletrônico.
Os pesquisadores descobriram que as crianças do estudo cujos pais usavam vape tinham níveis mais elevados de metabólitos ligados a produtos químicos encontrados em cigarros eletrônicos. Essas substâncias podem perturbar os níveis de dopamina no corpo, causar inflamação e danos celulares devido ao estresse oxidativo. Esse dano celular, por sua vez, está ligado a inúmeras doenças como diabetes, doenças cardíacas e câncer.
“Identificamos vários metabólitos ou substâncias que eram significativamente diferentes entre crianças expostas e não expostas”, afirmou a autora principal Jeannie Rodriguez, em entrevista ao USA Today. “Algumas dessas substâncias estão provavelmente associadas aos produtos químicos encontrados no líquido que o pai aquece, inala e depois exala. Outras que descobrimos estão associadas à produção e quebra de dopamina, processos de dano celular e inflamação. "
Ela disse que o estudo foi exploratório e uma configuração preliminar para pesquisas futuras, o que significa que não foram coletados dados sobre a ocorrência real ou probabilidade de tais condições. No entanto, as suas conclusões abrem um caminho para estudos futuros que possam explorar e abordar estes riscos mais especificamente.
Embora no Brasil os cigarros eletrônicos sejam proibidos, muita gente os adquire com facilidade. Nos EUA, eles foram introduzidos ao mercado em 2007, e muita gente acredita que esses dispositivos são mais seguros do que o cigarro tradicional. No entanto, muitos produtos químicos utilizados nos líquidos para vapes são prejudiciais à saúde, o que tem sido cada vez mais evidenciado em pesquisas científicas.
Dos pais que eram usuários de vape no estudo, mais da metade disseram achar que fumar perto dos filhos trazia um “pequeno risco à saúde ou nenhum risco à saúde”. Além disso, 12 dos 22 pais que usaram esses produtos afirmaram não saber se a exposição aos vapores dos cigarros eletrônicos era prejudicial às crianças, de acordo com a apresentação da pesquisa.
Vários pais partilharam que recorreram ao vaping como uma ferramenta para diminuir ou parar o uso de cigarros, e muitos expressaram a crença de que o vaping era, em geral, mais saudável e seguro do que o uso tradicional do tabaco.
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