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Varicela e herpes-zóster: por que é importante se vacinar

Atualmente existem dois tipos de vacinas para o herpes-zóster - iStock
Atualmente existem dois tipos de vacinas para o herpes-zóster - iStock

O herpes-zóster é uma doença infecciosa viral, causada por um vírus RNA denominado varicela-zóster (VVZ), que é o mesmo vírus da varicela (ou catapora). Popularmente conhecida como cobreiro, costuma afetar a região do tronco com aparecimento de lesões lineares, vesiculares ou bolhosas acompanhadas de muita dor.

Afeta, em geral, pessoas adultas, mas também pode acometer crianças e indivíduos com algum grau de comprometimento imunológico, como é o caso de transplantados, pacientes oncológicos, pessoas vivendo com HIV ou com doenças autoimunes, como lúpus eritematoso, artrites, etc.

Além disso, quadros agudos que levam à queda temporária do sistema imunológico (como,  por exemplo, diarreia, gripes, queimaduras solares no corpo ou febre) também podem desencadear um surto de herpes-zóster.

Varicela (catapora) 

Quando a criança não vacinada é contaminada pelo vírus varicela-zóster, ela apresentará varicela (catapora).  Os sintomas mais comuns são febre moderada a alta, acompanhada ou não de mal-estar como fadiga, dor muscular e falta de apetite. Na pele surgem lesões em vários estágios, como pápulas eritematosas (bolinhas vermelhas), vesículas ou bolhinhas e crostas. Costumam coçar bastante e podem deixar cicatrizes deprimidas.

A varicela é autolimitada, ou seja, sara sozinha. Costuma durar em torno de 7 a 14 dias, e o tratamento consiste em antitérmicos, em caso de febre, banhos com permanganato de potássio, para secar as lesões da pele mais rapidamente, e cremes com antibióticos para evitar a contaminação das feridas por bactérias.

A doença é bastante contagiosa e se dá pelo contato com tosse, espirros, secreção das lesões úmidas (vesículas ou bolhas) ou contato com objetos e materiais contaminados.

Herpes-zóster

Entretanto, apesar de o indivíduo sarar da varicela, o vírus fica alojado para o resto de sua vida em gânglios nervosos, numa espécie de hibernação, aguardando algum sinal de enfraquecimento do sistema imunológico dessa pessoa para, então, sair do gânglio onde está alojado, e caminhar pelo nervo correspondente, expressando-se,  desta vez, na forma de herpes-zóster.

Ao caminhar pelo nervo, o vírus provoca intensa inflamação, levando a um quadro que chamamos de neurite herpética.

Importante não confundir herpes-zóster com herpes simples labial ou genital, que corresponde a outra doença causada por uma família de vírus diferente (Herpes Simplex Vírus).

Na pele, o herpes-zóster faz o caminho do nervo (que chamamos de dermátomo) e se manifesta na pele como lesão linear (daí o nome de cobreiro), muito inflamada e vermelha, com vesículas ou bolhas extremamente doloridas associadas a pontos de necrose do epitélio.

Complicações possíveis

Como já citei acima, o mais comum é que o herpes-zóster afete a área do tronco. Entretanto, quando sai dessa área, o quadro pode ser bastante grave. É o que denominamos de herpes-zóster atípico, que gerar muitas complicações com sequelas e até morte.

Quadros que afetam o seguimento cefálico podem ser de extrema gravidade. Por isso, é muito importante que a pessoa afetada inicie o tratamento o mais rápido possível e de forma correta.

Tenho visto em minha clínica muitos pacientes que vão ao pronto-socorro com diagnóstico correto, porém recebem subdose de tratamento. Devido a esse problema cada vez mais comum, assim que possível, procure um médico de sua confiança para que a dose seja corrigida em tempo.

Apesar de ser também autolimitada, todos os casos devem ser tratados pelos riscos de sequela ou morte. Os medicamentos para o tratamento do herpes-zóster vão acelerar sua regressão e são o aciclovir, valaciclovir e o fanciclovir.

Uma das sequelas frequentes é a neurite pós herpética, que é a permanência de dor da região afetada por mais meses ou anos.

Quando afeta o nervo trigêmeo na face, pode acarretar sequelas graves, desde dores crônicas e até cegueira.

Quadros que acometem o seguimento cefálico ou área cervical (pescoço) também podem afetar o cérebro, provocando meningite ou encefalite herpética.

Recorrência aumentou

Atualmente temos presenciado o aumento muito grande de casos de herpes-zóster e também a recorrência de surtos na mesma pessoa, fato que era raro há cerca de 10 anos.

Considera-se que fatores ambientais, como a maior exposição do ser humano a todos os tipos de poluição e seus agentes tóxicos, que alteram o estado imunológico, têm influenciado o aumento dos casos desta doença.

Por isso, orientamos a vacinação de toda população acima dos 50 anos e todos pacientes portadores de doenças autoimunes e pessoas vivendo com HIV.

No Brasil, existem 2 tipos de vacinas para o herpes-zóster.

A Zostavax, no Brasil desde 2014, e fabricada pela Merck Sharp & Dohme, é a mais antiga e confere imunidade em cerca de 64% dos pacientes. Só pode ser aplicada em paciente acima dos 50 anos. A aplicação é realizada através de dose única subcutânea.

A segunda vacina é a Shingrix, fabricada pela GSK, que chegou ao nosso país neste ano de 2022. Pode ser aplicada em pessoas acima de 50 anos e em todos os pacientes acima de 18 anos que apresentem maior risco de apresentar herpes-zóster, o que quer dizer: todas as pessoas com algum grau de imunossupressão, como os casos já citados. São duas doses com intervalo de 60 dias entre a primeira e a segunda dose.

Além disso, o nível de eficácia é substancialmente maior, cerca de 97% para pacientes acima dos 50 anos, e 90% na população geral. A reaplicação também é muito mais cômoda, devendo ser repetida somente após 10 anos, ao contrário de primeira, que necessita ser reaplicada após cerca de três anos. 

Os efeitos colaterais mais comuns são dor, vermelhidão ou coceira no local da aplicação, dor muscular, fadiga, distúrbios gastrointestinais, cefaleia, tremores e febre. Para maioria dos casos, todos os sintomas desaparecem em 2 ou 3 dias.

Dessa forma, alertamos toda a população incluída nesta faixa de risco que se vacinem contra o herpes-zóster, evitando assim todos os riscos que a doença pode causar.

Dra. Lilian Akemi Ota

Dra. Lilian Akemi Ota

Médica dermatologista de São Paulo, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da American Academy of Dermatology. @lilian_ota