Milton Roberto Crenitte* Publicado em 04/06/2021, às 11h00
Já é possível debater e discutir questões relacionadas a velhice LGBTQIA+, pois a gerontologia, ciência que estuda o envelhecimento, avançou muito nas últimas décadas sobre o “mito da velhice assexuada”. Entretanto, não é incomum que o senso comum continue presumindo que todos os idosos são heterossexuais ou cisgênero.
Infelizmente, a invisibilidade do envelhecimento de pessoas LGBTQIA+ é uma realidade. Sofrem ao resistir à hetero-cis-normatividade e ao enfrentar o estigma do envelhecimento em uma sociedade gerontofóbica, a qual valoriza aspectos relacionados ao corpo jovem e à juventude.
Por esse motivo, alguns estudiosos já relatam que a carga de discriminação com a qual convivem é, no mínimo dupla, sem contar outras camadas de opressão baseadas no racismo e na exclusão social.
Todas essas construções socioculturais apresentam consequências sérias no acesso e na promoção da saúde desses indivíduos, prejudicando possibilidades de alcançarem o envelhecimento ativo e bem-sucedido.
Além de uma fragilidade em suas redes de suporte social, o medo de sofrer discriminação ou, até mesmo, experiências prévias negativas em serviços de saúde fazem com que evitem procurar ajuda ou o façam apenas em casos de emergência, exemplificando o porquê de mulheres cis lésbicas realizarem menos exames preventivos do que suas contemporâneas heterossexuais ou o porquê de pessoas LGBTQIA+ terem mais dificuldades em adotarem alguns hábitos saudáveis.
Por isso, espaços como este para rompermos com a invisibilidade da velhice LGBTQIA+ são fundamentais. Existem vulnerabilidades e diferenças em cada um de nós. Mas se não pararmos para nomear e entender as desigualdades e injustiças, será muito difícil construirmos uma sociedade mais justa e acolhedora para todos.
* Milton Roberto Crenitte é médico geriatra, coordenador médico do ambulatório de sexualidade da pessoa idosa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), professor da Universidade de São Caetano do Sul e colaborador da Trevoo, plataforma gratuita de busca de casas de repouso e residenciais para idosos da América Latina.
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