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Violência contra a mulher: você sabe o que é gaslighting?

Imagem Violência contra a mulher: você sabe o que é gaslighting?

Da Redação Publicado em 13/11/2020, às 17h51

Gaslighting é uma forma sutil de violência psicológica contra a mulher, que é muito frequente em relacionamentos abusivos. Consiste na tentativa de manipular uma pessoa, a fim de forçá-la a duvidar de suas próprias emoções, pensamentos ou memórias. A vítima pode ser tão pressionada a ponto de duvidar de sua própria sanidade mental.

O termo tem origem em uma peça, que tornou-se um filme em 1944, o “Gaslight” (que inglês significa “luz à gás”). No roteiro, o marido manipulador descobre que, se comprovar a insanidade mental de sua esposa, poderá ficar com toda a fortuna dela. A partir disso, ele dá início a uma série de torturas psicológicas para convencê-la de que ela enlouqueceu. No longa, uma das táticas do marido consiste em apagar e acender diversas vezes as luzes da casa, para confundir a mulher.

O gaslisghting pode ser intencional ou não, e pode ocorrer não apenas em relacionamentos românticos, mas também entre amigos, familiares ou no ambiente profissional. No contexto amoroso, porém, as consequências para a vítima podem ser mais graves, já que intimidade, confiança e sexo estão envolvidos.

Crédito: Freepik

Como identificar o gaslighting?

Esta forma de violência pode ser sutil, e às vezes demora para ser identificada. Veja algumas frases, expressões e atitudes que são manifestações típicas de gaslighting:

  • “Você está exagerando”;
  • “Você precisa de ajuda”;
  • “Eu não fiz isso”;
  • “Você está chateada por nada”;
  • “Se acalma, vai”;
  • “Você é tão dramática”;
  • “Por que você está tão defensiva?”;
  • “A culpa é sua”;
  • “Você é tão sensível”;
  • “Para de imaginar coisas”;
  • “Eu só estava brincando”;
  • “Ah claro, agora você vai com pena de si mesma”;
  • “Você não sabe? A família toda fala de você, todos acham que você está ficando doida”;
  • “Eu nunca disse que iria passar no mercado. Do que você está falando? Agora, graças a você, a gente não tem nem o que jantar”;
  • “Você está louca. Eu nunca fui nesse lugar com você. Para de inventar coisas”.

De acordo com Robin Stern, PhD e autor do livro “O Efeito do Gaslight: Como identificar e sobreviver à manipulação oculta que outros usam para controlar sua vida”, algumas sensações podem indicar que você tem sido submetida a esse tipo de abuso:

  • Você não se sente mais como a pessoa que costumava ser;
  • Sente-se mais ansiosa e menos confiante do que antes;
  • Frequentemente você se pergunta se está sendo sensível demais;
  • Você sente que tudo o que faz é errado;
  • Sempre está pensando que a culpa é sua quando algo dá errado;
  • Pede desculpas o tempo todo;
  • Tem a sensação de que algo está errado, mas não sabe dizer o quê;
  • Pensa bastante antes de responder algo ao seu parceiro;
  • Arruma desculpas para o comportamento do seu parceiro;
  • Evita dar informações a amigos ou familiares para evitar confrontos com seu parceiro;
  • Sente-se isolada dos amigos e da família;
  • Começa a sentir uma enorme dificuldade em tomar decisões;
  • Você se sente sem esperança e pouco ou nenhum prazer em atividades que antes você gostava.

Promessa de um futuro melhor

Neste tipo de abuso, também são frequentes as falsas demonstrações de melhora e arrependimento por parte do parceiro. Isto porque, para manter a vítima sob seu controle, o abusador costuma dar pequenas doses de esperança de um relacionamento melhor no futuro.

Um outro indicativo importante é a postura do abusador quanto ao futuro da vítima. Em geral, ele costuma menosprezar seus planos para o futuro, dizendo que são bobagens, que seus planos não irão se concretizar ou que ela não é capaz de nada sozinha, ainda que de maneira sutil. A solução para todos esses “empecilhos” costuma ser o abusador, que se vende como uma figura inteligente, que resolve todos os problemas e é o salvador da pátria.

O gaslighting pode vir acompanhado ou não de outras formas de abuso, como traições, possessividade, violência física e até mesmo castração financeira.

Lei Maria da Penha

A Lei Maria da Penha prevê o sofrimento psicológico como uma conduta de violência doméstica. Qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima, que tenha como objetivo controlar ações, comportamentos, crenças e decisões, que cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação são formas de violência doméstica e familiar contra a mulher.

As Delegacias da Mulher são os locais mais indicados para registrar estas ocorrências e receber o apoio necessário já que, em tese, estes são locais com profissionais especializados no atendimento a casos de violência contra a mulher, seja ela física ou psicológica. Antes disso, porém, é importante que a vítima tenha ajuda de outras pessoas, até para se sentir fortalecida o bastante para denunciar um parceiro.

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