Cerca de 15 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem um AVC (acidente vascular cerebral), popularmente conhecido como “derrame” todos os anos. Desse total, cerca de 5 milhões perdem a vida, enquanto outros 5 milhões irão enfrentar sequelas significativas. Nos EUA, assim como em vários outros países desenvolvidos, esta é a segunda maior causa de mortes, logo após as doenças do coração.
Já no Brasil a tendência era semelhante, mas se reverteu nos últimos anos. Desde 2019, os derrames matam mais brasileiros do que os infartos, e só perdem para pneumonias e sepses (infecções generalizadas) como principais causas de morte, segundo a Sociedade Brasileira de AVC (SBAVC).
Ainda segundo a entidade, o número de mortes por AVC no Brasil passou de 103.769, em 2019, para 112.052, em 2023. Só neste ano, até o mês de agosto, 50.133 brasileiros morreram por derrames no país, de acordo com dados dos registros de atestados de óbitos.
O acidente vascular cerebral pode ser definido como o surgimento de um déficit neurológico súbito e grave por um problema nos vasos sanguíneos (veias ou artérias) que irrigam o cérebro. Quando algo parecido ocorre em um vaso que irriga o coração, a condição é chamada de infarto. Tanto derrames quanto infartos são eventos cardiovasculares: “Cérebro e coração estão interligados”, explica o neurocirurgião Chris Fox, da Mayo Clinic em Jacksonville, na Flórida (EUA), que recentemente conversou com jornalistas da América Latina sobre avanços no tratamento dos AVC.
Existem dois tipos de AVC:
- Isquêmico: quando há uma obstrução ou redução do fluxo de sangue em uma artéria do cérebro, impedindo a irrigação de partes do órgão. Cerca de 85% dos casos de AVC são isquêmicos.
- Hemorrágico: quando um vaso se rompe de forma espontânea (e não por causa de um trauma) em um vaso, fazendo com que o sangue extravase para o interior ou ao redor do cérebro.
Quando uma pessoa tem um AVC, um ou mais sintomas abaixo surgem subitamente:
Se você ou alguém que está com você tiver algum desses sintomas, não espere melhorar! Chame o SAMU (192) ou vá imediatamente a um hospital (e não a um posto de saúde ou UPA), pois é fundamental passar por uma tomografia de crânio.
É importante avisar à equipe médica quando os sintomas se iniciaram para que se inicie o tratamento: “O tempo é fundamental para evitar sequelas”, explica Fox.
Em geral, até 4,5 horas do início dos sintomas, é possível administrar um trombolítico para dissolver o coágulo, no caso de um AVC isquêmico, diminuindo a chance de sequelas. Se o trombo for em uma grande artéria, pode-se realizar uma trombectomia, ou seja, a retirada com ajuda de um cateterismo.
Fox conta que houve um enorme avanço nos tratamentos do AVC, o que inclui cirurgias menos invasivas, com cateteres mais longos e finos, capazes de remover coágulos que antes não eram possíveis de se alcançar. No caso do AVC hemorrágico, ele destaca inovações no tratamento de aneurismas, dilatações na artéria que podem levar a rompimentos.
Nos EUA, os médicos costumam usar a sigla “Fast” para alertar a população sobre os sintomas de um derrame. F de “face” (para prestar atenção em alterações no rosto, como problemas de visão ou boca torta), A de “arm” (“braço”, em inglês), S de “speech” (ou “fala”) e T de “time” (ou “tempo”), para lembrar da importância de buscar o serviço de emergência o quanto antes.
No Brasil, a versão usada é Samu:
1 - Mande a pessoa dar um Sorriso (se a boca estiver torta, pode ser AVC)
2 - Mande a pessoa te dar um Abraço (se um dos braços cair, pode ser AVC)
3 - Mande a pessoa falar uma Mensagem, frase ou música (se a pessoa falar enrolado ou estranho, pode ser AVC)
4 - Chame o Samu (192) Urgente!
Grande parte dos derrames tem como causa principal os mesmos fatores de risco relacionados às doenças do coração, que por sua vez também aumentam o risco de a pessoa sofrer um AVC. Assim, para se prevenir de um derrame, é fundamental controlar as seguintes condições:
Algumas pessoas, no entanto, podem ter um AVC em decorrência de aneurismas ou outras malformações nas artérias, e nesse caso o derrame pode ocorrer em pessoas mais jovens.
Ter um estilo saudável e consultar o médico regularmente, portanto, são a melhor maneira de se evitar um derrame.
"A maioria das pessoas sabe como as mudanças no estilo de vida podem proteger o coração, e tudo o que é bom para o coração também é bom para o cérebro", finaliza Fox.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin