Cantora contraiu a doença em março deste ano e até agora sofre com suas sequelas
Redação Publicado em 27/07/2021, às 14h00
Wanessa Camargo pegou Covid-19 em março de 2021, mas até agora está lidando com as sequelas da doença. Em entrevista a Tiago Abravanel, do UOL, a cantora contou que tanto ela quanto sua mãe, Zilu Godói, que também teve a doença, estão sofrendo com “esquecimentos”.
“Peguei em março. Minha mãe falou que está com a memória ruim, eu também estou”, explicou. “Não precisam se preocupar, a pandemia tem nos trazido vários desafios e nós vamos, se Deus quiser, superar todos os dias”, comentou Wanessa.
Desde que a pandemia do novo coronavírus começou, no fim de 2019, a cada dia ficamos sabendo de alguma parte do corpo que é prejudicada por ele. Problemas respiratórios e nos vasos sanguíneos foram os mais apontados no início; porém, o vírus Sars-Cov-2, causador da doença Covid-19, também pode atacar o cérebro, como vários estudos vêm demonstrando desde então.
“O cérebro acaba sendo um alvo fácil durante o processo de doença por diversos acontecimentos em simultâneo no corpo. É exatamente por isso que muitas pessoas que foram infectadas pelo vírus Sars-Cov-2 relataram, após algum tempo, sequelas neurológicas, que incluem fadiga, sensação de falta de ar, dores musculares, cefaleia, tontura frequente, dificuldades de memória e concentração, além de insônia”, explica Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (Snola).
Ele explica que pelo menos quatro motivos estão ligados a esse ataque ao cérebro: a disfunção sistêmica, a disfunção do sistema renina-angiotensina, a disfunção imune e a invasão cerebral pelo próprio vírus. Abaixo, ele explica cada um:
Batistella diz que, quanto à disfunção sistêmica (o corpo em sofrimento), durante a doença, o organismo pode sofrer de inúmeras formas, mas uma bem chamativa para os médicos e muito temida pelos pacientes é a dificuldade de oxigenação do corpo, por frequente acometimento dos pulmões. Oxigênio é um alimento insubstituível para o cérebro, então, mesmo que ele não seja diretamente atacado pelo vírus, o simples fato de uma menor oxigenação já irá exigir mais trabalho desse órgão.
O novo coronavírus prejudica vários sistemas no nosso corpo, e um deles é um complexo sistema (renina-angiotensina), que faz com que nossas veias e artérias fiquem saudáveis na parte de dentro, na famosa camada do endotélio, uma estrutura que se parece com uma película interna em uma mangueira. O médico conta que essa película tão importante ajuda o sangue a passar sem formar trombos, ou seja, a permanecer no estado líquido, “fino”. Quando essa película fica danificada, pode desenvolver tromboses, justificando a frequência desse sintoma nos pacientes.
Já em relação à disfunção imune, Batistella relata que é sabido que o corpo está inflamado (e muito). Isso acaba de certa forma “bombardeando” o cérebro com citocinas e outros fatores pró-inflamatórios, dificultando o trabalho dos neurônios e das células que dão suporte aos neurônios. O que, muito possivelmente, também explica algumas confusões mentais, sonolência, apatia, e até mesmo delírios. Ele diz que os neurologistas acreditam, também, que essa disfunção explica algumas raras doenças neurológicas, como síndrome de Guillain-Barré e outras que costumam “caminhar” juntas durante o processo infeccioso.
No caso da invasão cerebral pelo próprio vírus, isso ocorre e parece ser comum pelos estudos de autópsia, mas, curiosamente, não parece ter relação com a gravidade da doença. “Sendo assim, mesmo que encontremos o vírus no cérebro, isso não diz que será grave, ou que irá desenvolver danos neurológicos. Aparentemente, os outros mecanismos que citei mais acima são bem mais responsáveis por tudo o que venha a ocorrer no cérebro”, explica o médico.
Já um estudo, realizado por pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, forneceram evidências de que o Sars-Cov-2 causou profundas mudanças moleculares no cérebro de quem morreu de Covid, mesmo não havendo traço molecular do vírus no tecido cerebral. Segundo os pesquisadores, os sinais que o vírus deixa no cérebro apontam forte inflamação e circuitos cerebrais interrompidos.
Também notaram semelhanças com o que ocorre no cérebro de quem teve a doença de Alzheimer ou outra condição degenerativa. E que havia mudanças importantes nelas em comparação com as amostras de tecido cerebral de pessoas que morreram de outras causas.
“Hoje percebemos que o cérebro é um alvo direto (quando o vírus vai até ele e provoca um dano) e indireto (quando problemas externos geram danos, mas não diretamente pelo vírus) na infecção pela Covid-19. O cérebro responde de forma semelhante aos danos nele causados, seja por trauma, infecção, sangramento e até mesmo por essa doença, pelo visto, como se fosse um processo de cicatrização natural. Sim, o cérebro cicatriza. Muitas vezes o que um patologista encontra é um resultado final desse processo de cicatrização”, conclui Batistella.
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