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O que realmente funciona para tratar estrias e cicatrizes?

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Como tratar adequadamente estrias e outros tipos de cicatriz, como aquelas provocadas pela acne ou por uma cirurgia ou ferimento? Em primeiro lugar, vamos entender a diferença entre essas marcas.

Estrias

Elas são um tipo de cicatriz na pele bastante comum que afeta tanto mulheres quanto homens, e surgem devido ao estiramento na pele. Podem ocorrer devido obesidade, gravidez, crescimento rápido (estirão), ou aumento súbito de determinada área do corpo (pessoas que fazem muita musculação e/ou utilizam substâncias que hipertrofiam a musculatura rapidamente).

Outras causas possíveis:

- Pacientes portadores de doenças sistêmicas como Síndrome de Cushing, Doença de Marfan e Síndrome de Ehlers-Danlos também podem apresentar estrias como um dos sintomas.

- A utilização prolongada de creme ou pomadas à base de corticosteroides também podem resultar em estrias.

Avermelhadas ou esbranquiçadas

O estiramento da pele causa um rompimento das fibras elásticas e de colágeno da derme (uma das camadas da pele). Este rompimento pode provocar uma inflamação visível com o aparecimento das estrias avermelhadas (estrias rubras), ou somente serem notadas algum tempo depois, quando elas já adquiriram uma tonalidade esbranquiçada (estrias albas).

As áreas mais afetadas nas mulheres são abdome (comum durante a gestação), mamas, coxas e glúteos. Nos homens, são comuns o aparecimento de estrias nas região tóraco lombar (devido ao estirão), região lateral do abdome, axilas, glúteos e região das panturrilhas.

Tratamentos para estrias

As estrias são difíceis de serem eliminadas, mas a associação de tratamentos podem levar a uma melhora do aspecto da região afetada.

Um dos tratamentos básicos é a aplicação de cremes que contenham o ácido retinóico em concentrações de 0,1 ou mais elevadas. Entretanto, para aplicar este produto a pele necessita estar muito bem hidratada, pois concentrações mais elevadas deste ácido podem resultar em irritação de graus variados, por isso, NUNCA utilize por conta própria.

O ácido retinoico tem a capacidade de realizar neocolagênese, ou seja, produzir colágeno. Quando a quantidade de estrias é pequena ou quando o tratamento se faz logo no surgimento das estrias, o resultado pode ser bastante satisfatório somente com este tratamento tópico.

Outras modalidades de tratamento:

- microagulhamento com drug delivery: utilização de rolos multiagulhados que perfuram a pele, atingindo a derme, e depositam substâncias com a capacidade de auxiliar os fibroblastos a produzirem o colágeno. É um método doloroso e requer cuidados rígidos quanto a assepsia para que não ocorra infecção. Deve ser realizado estritamente em consultórios médicos e com dermatologista capacitado.

- subcisão: realizado com agulhas que penetram em cada estria e rompem profundamente as camadas de fibrose e aderências que formam a estria. Pode ocorrer sangramento com formação de hematomas e, a partir deste processo inflamatório, o colágeno novo é formado. Os mesmos cuidados de assepsia devem ser tomados.

- laser fracionado ou ablativo e não ablativo: laseres fracionados ou ablativos são aqueles de potências maiores e que provocam perfuração cutânea, resultando em maior processo inflamatório. O mais conhecido é o laser de CO2. De eficácia relativa para o tratamento das estrias, têm  maior chance de deixarem cicatrizes como hiperpigmentação ou formação de cicatrizes hipertróficas ou queloideanas, que serão abordadas a seguir.

Os laseres não ablativos não provocam lesão aparente na pele, além do seu esquentamento. Neste caso, a onda do laser penetra e provoca processo inflamatório controlado com consequente produção e rearranjo do colágeno, melhorando o aspecto das estrias. Podem ser necessárias várias sessões.

Devido ao risco óbvio de complicações, esse é um tratamento que deve ser realizado somente por médicos capacitados.

- peeling de ácido retinóico: pode ser  tratamento de escolha para pacientes pouco resistentes à dor. Em geral, se utiliza o ácido retinoico em concentrações acima de 5% e o paciente vai para casa com o peeling, retirando com banho após período variável de 4 a 6 horas, em média. O resultado é variável e também são necessárias várias sessões para se visualizar alguma melhora.

Cicatrizes

Elas são marcas fibrosas na pele resultantes de algum tipo de agressão, como cortes acidentais ou cirúrgicos, tatuagens ou resultados de processos inflamatórios causados por infecções como furúnculos, abcessos ou acne, por exemplo.

Na maioria das vezes quando ocorre alguma lesão, o organismo recupera bem a região afetada deixando pouca ou nenhuma cicatriz.

Entretanto, existem pessoas que evoluem para as chamadas cicatrizes inestéticas. Neste caso, a lesão não sara de forma adequada deixando marcas na pele. As sequelas mais comuns são cicatrizes avermelhadas, escuras ou mais claras que a pele,  lesões hipertróficas e os queloides.

Quando é realizado algum corte de origem cirúrgica ou acidental na pele é comum a cicatriz apresentar uma cor avermelhada por cerca de seis meses, mas que depois desaparece completamente. Por isso, deve-se tomar o cuidado de não tomar muito sol na área afetada por esse período.

Entretanto, algumas cicatrizes avermelhadas podem ser consequência de uma neoformação capilar resultante do processo inflamatório local e não desaparecem após esse período. Para estes casos, talvez seja necessário um tratamento com laser para eliminar esses vasos capilares que dilataram ao redor da cicatriz.

Pessoas de  fototipo mais alto (maior quantidade de melanina) podem apresentar cicatrizes com cor mais escura, mas a tendência, na maioria dos casos, é elas irem clareando com o passar do tempo.

Já as cicatrizes mais claras tendem a persistir e não existe tratamento eficaz para estes casos.

Cicatrizes hipertróficas ou queloides

Cicatrizes hipertróficas são aquelas que formam cordões endurecidos e visíveis sobre a cicatriz. Podem ser da cor da pele, avermelhada ou mais escuras. Massagem e hidratação podem ajudar no amolecimento e diminuição deste tipo de cicatriz. Os curativos oclusivos à base de silicone e/ou corticoides também são de grande ajuda.

Já os queloides surgem devido a um exagero na cicatrização, ou seja, o organismo desta pessoa responde de forma exagerada a um estímulo traumático cutâneo e produz uma quantidade muito maior de tecido cicatricial (fibrose) que ultrapassa o trauma realizado. Assim, a cicatriz cresce para além da lesão.

De difícil tratamento, afeta mais grupos étnicos que apresentam maior quantidade de melanina (afro descendentes e asiáticos).

Correções podem ser realizadas através de infiltrações intralesonais com corticosteroides, 5-fluorouracil, remoção cirúrgica, laserterapia ou radioterapia.

Importante alerta é, caso a pessoa tenha tendência a apresentar algum tipo de alteração na cicatrização deve sempre se lembrar disso e ponderar sobre a realização de cortes e punturas no seu corpo, como laser para depilação, colocação de piercings, cirurgias estéticas ou realização de tatuagens.

*Dr. Lilian Akemi Ota é médica dermatologista de São Paulo, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da American Academy of Dermatology

Lilian Akemi Ota (dermatologista)

Lilian Akemi Ota (dermatologista)

Médica dermatologista de São Paulo, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da American Academy of Dermatology. @lilian_ota