Hanseníase é doença frequente no Brasil, mas pouca gente sabe disso

Brasil ocupa o segundo lugar na incidência da doença cuja liderança é ocupada pela Índia

Lilian Akemi Ota Publicado em 26/04/2022, às 10h00

Quando diagnosticada precocemente, a hanseníase é totalmente curável e não deixa sequelas - iStock

A hanseníase é uma doença crônica, transmissível e causada pela bactéria Mycobacterium leprae, e representa um grande problema de saúde pública em nosso país.

O Brasil ocupa o segundo lugar na incidência da doença cuja liderança é ocupada pela Índia. Entre os anos de 2010 e 2019 foram diagnosticados mais de 300 mil novos casos da doença em nosso país.

Prevalente em todas as regiões, apresenta áreas hiperendêmicas nos chamados bolsões de pobreza das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, mas também está presente em grande número nas regiões Sudeste e Sul.

Como a hanseníase é transmitida? 

A pessoa adquire a doença através da respiração ou aspiração de saliva contaminada (gotículas da fala, tosse, espirro ou secreções nasais). Devido a esse modo de transmissão, é muito comum o contágio entre familiares.

O período de incubação é longo e varia entre 3 a 5 anos para a pessoa contaminada desenvolver a doença.

Primeiros sinais: manchas na pele

A hanseníase acomete pessoas de qualquer idade, desde crianças pequenas até idosos.

Nervos, pele e olhos são as estruturas mais afetadas e, quando não tratadas precocemente, podem deixar sequelas deformantes e incapacitantes.

Perda de força muscular de braços, mãos ou pernas também são sintomas comuns à doença.

Manchas claras na pele, marrons ou avermelhadas e com escamas localizadas em qualquer porção do corpo podem ser um dos primeiros sinais de hanseníase, portanto devem sempre ser investigadas. Em geral, a alteração de sensibilidade na pele estão presentes nessas lesões.

Quando diagnosticado precocemente a doença é totalmente curável e não deixa sequela alguma.

O tratamento é feito através da poliquimioterapia e dispensado através do sistema público de saúde local.

Diagnóstico às vezes é tardio

É uma doença de notificação compulsória, ou  seja, devido ao seu caráter epidêmico a notificação é obrigatória, pois os dados vão ajudar a criar esquemas de abordagem para a erradicação da doença em nosso país.

Cerca de 95% dos pacientes afetados apresentam lesões de pele e, por isso, é tão importante a realização de uma anamnese detalhada e um exame físico completo.

Biópsia de pele e baciloscopia (visualização e contagem de bacilos no sangue) são exames que auxiliam o diagnóstico e prognóstico do paciente.

Entretanto, devido a falhas do sistema de saúde e dos profissionais da área médica, além da falta de esclarecimento amplo à população, é comum o diagnóstico tardio, quando o doente já apresenta a doença em estágio avançado e com inúmeras sequelas, levando até mesmo a quadros de mutilações de extremidades.

Essas lesões ocorrem porque a bactéria afeta os nervos periféricos, gerando áreas anestesiadas que progridem ao longo do tempo se não tratadas logo.

Lepra é denominação abandonada

A hanseníase foi largamente conhecida, ao longo da história humana, como lepra ou Mal de Lázaro, denominações abandonadas devido ao estigma e preconceitos como doença incurável, trazidos das épocas mais antigas.

Por isso, vale ressaltar que a hanseníase, hoje em dia, é totalmente curável. E é de importância vital a orientação para que a pessoa procure assistência médica no caso do aparecimento de manchas pelo corpo, ou áreas de pouca sensibilidade.

Por que a doença ainda não foi erradicada?

É também fundamental que o ensino médico brasileiro capacite seus médicos e outros profissionais da área da saúde a diagnosticarem precocemente a doença hansênica. O diagnóstico precoce evita complicações mais graves, além de diminuir os casos de contaminação e disseminação da doença.

Entretanto, este é um grave problema que está ocorrendo em nosso país e em nosso sistema de saúde, quer público ou privado: falta de capacitação médica.

Todo médico deveria saber diagnosticar ou pelo menos suspeitar de hanseníase e encaminhar ao dermatologista ou ao infectologista quando, ao examinar um paciente, encontra manchas pelo corpo.

Infelizmente, examinar um paciente virou raridade nas consultas médicas e mesmo entre os dermatologistas há pouco interesse nisso.

Dessa forma, a falta de profissionais capacitados e a falta de interesse dos órgãos públicos em divulgar e fazer campanhas de esclarecimento, em nosso país, são fatores que dificultam a erradicação de uma doença que já deveria estar extinta há muito tempo.

 

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