Vitor Sérgio Kawabata* Publicado em 18/08/2021, às 18h52
Continuando o artigo prévio em que abordamos algumas considerações sobre a pandemia pelo Covid-19, o único medicamento que demonstrou eficácia contra o vírus é o Remdesivir, um antiviral inicialmente desenvolvido para o vírus ebola. Antes de vocês se animarem e saírem correndo para adquiri-lo, ou começarem a atazanar seu médico para prescrevê-lo, ele não é vendido em farmácias. A disponibilidade é limitada, e o preço proibitivo. Não cura o doente. Ajuda alguns pacientes, em condições específicas, em um período determinado, reduzindo os dias de necessidade de oxigênio e tempo de internação.
O importante é lembrar que mesmo sendo uma doença muito grave, a grande maioria dos doentes sobrevive. Muitos sequer percebem que tiveram a enfermidade. O principal fator na melhora e cura é a resposta do nosso organismo ao vírus. Ou seja, o papel dos profissionais de saúde é manter o doente vivo, reduzir as complicações da doença, a fim de que ele próprio tenha tempo para eliminar o vírus.
Na UTI, fomos obrigados a mudar a nossa forma de pensar e agir. Escores e calculadoras que estimavam o risco de mortalidade do doente de UTI não servem para os enfermos com Covid. Modos e manobras ventilatórias úteis para os outros pacientes não servem para eles. A necessidade de diálise nos primeiros meses da pandemia foi assustadora.
Na primeira onda da pandemia, foram evidenciados grupos de maior risco à evolução desfavorável na infecção Covid-19, como os idosos, obesos, diabéticos, imunossuprimidos etc. Na segunda onda, mudou o perfil dos doentes da UTI. Temos doentes mais jovens, pela vacinação dos mais idosos, e pelos novos sorotipos virais. Também chamou a atenção um componente genético / familiar, que não havíamos percebido antes, como famílias inteiras tendo evolução complicada pelo vírus. Ainda não dispomos destes marcadores de má evolução. A ideia é que se você tem familiares consanguíneos que evoluíram com formas graves da infecção pelo Covid, deve ter cuidado redobrado para evitar a infecção.
Cuidados que todos nós devemos manter o tempo todo. Máscaras e álcool em gel devem continuar sendo utilizados. Ao contrário dos adeptos da desinformação, vacinados, quem já teve a doença, portadores de anticorpos no sangue, não estão totalmente livres da enfermidade, e podem não só voltar a pegar, como transmiti-la. A verdade é que existem os novos sorotipos, não entendemos completamente o vírus e todos os dias aprendemos algo novo sobre ele. Por que algumas pessoas que já tiveram a doença voltam a tê-la? Por que algumas pessoas cujas famílias inteiras ficaram doentes, ou com múltiplos contatos com doentes não adquirem a infecção, e sequer produzem anticorpos?
Apesar dos teimosos de plantão, o isolamento social é importante sim. Basta ver a fila de internação para UTI COVID do CROSS (Central de Regulação de Oferta e Serviços de Saúde) do Estado de São Paulo, e a sua clara correlação com os períodos de restrição e afrouxamento das medidas de isolamento.
Resumindo, devemos manter o maior distanciamento social possível. Vacinar para o Covid, influenza (gripe) e todas as outras doenças possíveis. Procurar cuidar muito bem da saúde. Mesmo sem Covid, precisar de atendimento em hospitais abarrotados com doentes infectados pode ser muito complicado. Muitos pacientes no Brasil e no resto do mundo acabaram falecendo por outras doenças, pela falta de locais de atendimento nos picos da pandemia.
Em suma, espero ter colaborado com algumas das minhas considerações. Agradeço muito a oportunidade de expô-las, e fico à inteira disposição para esclarecimentos adicionais.
*Dr. Vitor Sérgio Kawabata
Médico Cardiologista / Intensivista. Doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Médico da UTI do Hospital Universitário – USP. Diretor Técnico do Instituto de Ensino e Saúde da SPDM / UTIs do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
*Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo.