Eduardo Ronchetti de Castro* Publicado em 27/08/2021, às 15h30
Eu vou explicar essa matéria contando a vocês uma história que aconteceu quando eu ainda estava namorando a minha esposa.
Naquela época eu cometi um erro que quase custou meu casamento!
Eu estava na casa dela, e sua mãe, que gosta muito de decoração de interiores, veio me perguntar o que eu poderia fazer para melhorar a sala da casa!
E eu, todo empolgado para mostrar meus conhecimentos e para encantar a família da minha esposa, fui logo dizendo:
- Muda esse móvel aqui, pinta aquela parede ali, troca essa poltrona!
Para que eu fui me meter!
Já naquela época eu ouvi o que se tornaria o tema desta matéria.
- Tá bom, Edu! Obrigado, mas da minha casa cuido eu!
Vocês podem até imaginar! Quase que meu relacionamento terminou ali mesmo.
Então vamos conversar sobre como transformar as casas em um lugar bonito, agradável e também seguro, garantindo maior autonomia e conforto aos usuários.
Sabe qual é a primeira coisa que vai acontecer com você quando propuser melhorias na casa dos seus pais?
É ouvir: - Filha, muito obrigado, mas da minha casa cuido eu!
Você sabe por que isso acontece?
Porque a sua casa conta a sua história. É o seu troféu, a sua conquista.
E é preciso ter muita sensibilidade para propor mudanças na história de vida de alguém, que em muitos casos trabalhou e ralou muito para construir, reformar ou melhorar o seu lar ao longo do tempo.
Por isso, nós não podemos chegar com tudo, mesmo que com a melhor das intenções, como eu fiz com a minha sogra, e já ir arrumando tudo, mudando os móveis de lugar, decidindo o que jogar fora.
Vai por mim! Isso não vai dar certo.
Essa resistência é natural e deve ser levada em consideração.
E por isso, hoje vou abordar três pontos que podem ajudar você a minimizar a resistência dos seus pais ou dos clientes e propor as melhorias necessárias para garantir maior qualidade de vida.
É preciso conhecer o perfil, a história, os hábitos, o que a pessoa faz.
É preciso identificar seu estilo de vida, se ela é independente ou tem alguém que ajuda no cuidado dela, se usa muito ou pouco a casa.
Conhecidos todos esses hábitos, perfis e estilo de vida, vamos para o ponto 2, que eu chamo de participativo. Ou seja, o momento em que serão apresentadas soluções para melhorar a qualidade de vida de quem vive na casa. Mas aqui existe o grande segredo.
Não é você que vai propor a solução, na verdade deve fazer o seguinte:
Vai perguntar para a pessoa se ela encontra alguma dificuldade em realizar suas atividades e em qual ambiente. Vai propor duas, três ou até quatro alternativas para melhorar a condição de autonomia e evitar acidentes. Mas atenção: a escolha será feita pelo usuário. Você vai fazer o idoso encontrar as soluções junto com você, assim:
“Nesse corredor, que é muito longo, me fala se tem dificuldade de caminhar. O que será que poderia te ajudar aqui?”
É o morador da casa quem vai dizendo o que precisa.
“E essa torneira de bolinha ou essa maçaneta da porta, está difícil de usar? Será que podemos encontrar um melhor modelo para você?”
Sempre dar duas ou três alternativas. E quando a pessoa fala o que acha de cada solução ela vai pensar que quem decidiu foi ela. E na verdade foi. Você foi apenas um facilitador.
Passada a fase investigativa e a de participação é hora de propor melhorias concretas na casa.
- Mas Edu, que melhorias você recomenda? O que eu poderia propor para meu cliente, meus pais ou para minha própria residência?
Vou te dar muitas soluções, produtos e quero saber de você também a sua opinião.
E para apresentá-las, nós precisamos entender que cada uma deve estar relacionada com o perfil funcional da pessoa idosa.
- Como assim, Edu? Perfil funcional!
Eu vou explicar.
Vamos considerar uma pessoa idosa em sua plena capacidade, conseguindo fazer tudo sozinha, sem problemas. Essa é uma pessoa idosa robusta.
E na medida em que os anos passam, vem o envelhecimento. Naturalmente, a capacidade de realizar as atividades diárias vai diminuindo. Até um ponto em que o idoso não consegue mais realizar só as atividades diárias e precisa de ajuda.
Esta é uma pessoa que deixou de ser robusta e passou a ser um idoso em condição vulnerável. É um processo natural de envelhecimento pelo qual todos nós desejamos passar.
O problema é que entre uma fase e outra, se ocorrer algum acidente, uma queda no banheiro, por exemplo, pode ser que essa mudança de uma fase para outra seja muito brusca e traumática para a pessoa, e porque não dizer, para a família toda.
Por isso, nós precisamos conhecer em qual perfil funcional o idoso se encontra para propor elementos que evitem acidentes e mantenham a sua capacidade de realizar as atividades diárias com autonomia, pelo maior tempo possível.
E podemos chegar até a propor uma cama hospitalar quando a pessoa já está em um grau de dependência muito maior.
Mas antes disso, podemos propor um apoio na lateral da cama.
Em cada fase, necessidade, e momento, precisamos ter a sensibilidade para encontrar as soluções que atendam àquele instante do perfil funcional e isso vai ajudar inclusive a economizar dinheiro e, principalmente, a minimizar a resistência para implantar as soluções.
Vamos recapitular:
Ponto 1: investigar
Ponto 2: participar
Ponto 3: propor
Nas próximas matérias vamos trazer soluções práticas para você implantar em sua casa e em seu projeto.
Mandem suas dicas e dúvidas.
Abraços e até lá.
Sobre o autor:
*Arquiteto, Eduardo Ronchetti de Castro é especialista em Acessibilidade. Já realizou mais de 570 Projetos na área, mais de 200 Laudos e 85 cursos, capacitando mais 3.580 profissionais por todo o Brasil. É arquiteto formado pela Universidade Mackenzie, especializado em Design de Interiores pelo Instituto Europeu Di Design e em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Especializou-se em Acessibilidade e na realização de Projetos em ambientes públicos e privados. Integrou a Comissão de Acessibilidade de São Bernardo do Campo, atuando como revisor de obras particulares na Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo.