Marcello Barduco Publicado em 16/07/2021, às 15h09
A premiação do Oscar de 2021 escolheu como melhor filme estrangeiro uma produção dinamarquesa que tem como linha principal o álcool e seu efeito no desempenho social e profissional: Druk, Mais Uma Rodada.
A obra do diretor Thomas Vinterberg conta como as dificuldades vividas por quatro homens de meia idade, professores e amigos, em relação ao trabalho e à vida familiar poderiam ser revertidas caso a teoria de um psiquiatra norueguês (Finn Skarderud) estivesse certa: a ingestão de bebidas alcoólicas em níveis moderados traria a solução para os desajustes sentidos por eles.
Num pacto secreto, decidem fazer um “experimento”, sendo eles próprios os pesquisadores e os estudados. Desenvolve-se, então, uma história que oscila entre os momentos divertidos da euforia trazidos pelas rodadas contínuas de consumo de bebidas e a tristeza de seus efeitos mais nocivos.
Confira:
Numa sociedade em que o consumo de álcool é abusivo e iniciado na adolescência, o filme mostra que as respostas individuais à exposição contínua da substância podem ser muito distintas. Como na Dinamarca, onde se desenrola a trama, o consumo de bebidas alcoólicas no Brasil é intenso.
No filme, enquanto Martin (Mads Mikkelsen) tenta o equilíbrio entre a depressão e o despojamento motivados pelo álcool nos domínios pessoal e profissional, seus companheiros vivenciam diferentes situações, que variam desde a conquista de relacionamentos à degradação pessoal.
A forma como é conduzida a trama é divertida, apesar da seriedade do assunto. E traz para a luz as dificuldades relativas ao limite de quando se trata de uma substância aceita socialmente. Aquilo que começa como uma descoberta inocente pode, sem controle, levar a consequências graves.
Num momento em que vivemos o isolamento social, principalmente para os grupos mais vulneráveis, como idosos, a busca de opções de relaxamento e prazer através do álcool se revelou um fato indiscutível.
O consumo de bebidas alcoólicas pelos brasileiros elevou-se substancialmente, assim como eventuais efeitos de abuso da substância, como violência doméstica. A permissividade que surge em períodos de incerteza quanto ao futuro e o medo de uma doença ameaçadora são justificativas para usos e excessos.
Vale lembrar que o abuso alcoólico está relacionado à piora de funções cognitivas, capacidade de decisão, risco aumentado de queda e acidentes, piora condições crônicas, como diabetes, hipertensão arterial, arritmias e cardiopatias. Além disso, o alcoolismo por si (a dependência física do álcool) é uma doença grave, com impactos severos orgânicos, familiares e sociais.
Assim, a mensagem que tiramos do filme deve ser absorvida com a lucidez de uma pessoa que não o assistiu sob o efeito do álcool. O abuso é sempre nocivo e apesar de permitido socialmente, traz muita infelicidade para a pessoa e seu entorno.
Aprecie o filme, mas se for beber, faça com muita moderação... SEMPRE!
* Marcello Barduco - Cardiologista e Emergencista do Corpo Clínico do Hospital Sírio Libanês. Pós-graduado em Geriatria pelo IEP – Hospital Sírio Libanês. Gestor do Pronto Atendimento no Hospital Santa Cruz (2004 a 2009). Membro do Comitê de Ética do Hospital Sírio Libanês (desde 2014). Responsável técnico pela Clínica Barduco há 25 anos. Membro do Conselho Editorial da TREVOO. [email protected]