Luciene Barduco* Publicado em 10/10/2021, às 12h00
Seria tão bom se pudéssemos! Mas, infelizmente, não existe prevenção para o câncer de mama como existe com relação ao colo do útero, por exemplo. Por isso precisamos investir no diagnóstico precoce e na geração e propagação de informações adequadas sobre esse que é o câncer mais comum e o que tem maior mortalidade nas mulheres brasileiras. O Inca estima 66.280 casos novos de câncer de mama por ano.
O Outubro Rosa pretende trazer visibilidade à doença que tem uma taxa de cura de quase 90% quando diagnosticado precocemente. Seu impacto na saúde mental e qualidade de vida das mulheres é enorme e o tratamento numa fase inicial minimiza esses danos. Essa ideia surgiu em 1991 quando a Fundação Susan G Komen patrocinou uma Corrida pela Cura em New York e distribuiu a todos os participantes um laço rosa. Em 1997, outras cidades americanas promoveram ações voltadas para o câncer de mama no mês de outubro, tendo o icônico laço rosa como símbolo. O Brasil aderiu a esse movimento em 2002, quando o Obelisco do Ibirapuera tingiu- se de rosa pela primeira vez. A partir de 2008, também o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, veste-se de Rosa para chamar a atenção de todos para a necessidade de ações preventivas, acesso a meios para o diagnóstico precoce e tratamento adequado do câncer de mama.
O que podemos fazer para diminuir a chance de ter a doença? Hábitos saudáveis, mais uma vez. Todo câncer depende de uma base genética, uma "predisposição" e de fatores ambientais que podem produzir alterações celulares, mutações, que geram essa desordem chamada câncer.
- obesidade
- radioterapia prévia no tórax
- não ter filhos
- início precoce da menstruação
- menopausa tardia
- tabagismo,
- ingestão de álcool,
- sedentarismo,
- antecedente pessoal de câncer de mama,
- reposição hormonal (tempo, dose e tipo dependente.)
Herança familiar importa principalmente a linhagem materna. E se o câncer foi em mulheres jovens, a associação com herança preocupa mais ainda. Casos de câncer de ovário e pâncreas também devem ser valorizados.
Outros dados populacionais nos informam que mulheres brancas, ocidentais, têm maior risco.
Em pacientes identificadas como de alto risco para câncer de mama por serem portadoras de alguma mutação, em especial dos genes BRCA1 e 2, ou com diagnóstico de hiperplasia atípica, que é uma lesão considerada pré-maligna, está autorizado o uso de uma droga chamada Tamoxifeno, que é um bloqueador de receptores estrogênicos.
Às vezes indicamos a retirada preventiva das mamas, a chamada adenomastectomia profilática que, normalmente, preserva aréola e papila mamária. Deve ser cuidadosamente decidida pelo mastologista ou oncologista e a paciente.
Bom, já que não se pode evitar o câncer de mama, resta-nos investir no diagnóstico precoce e no tratamento adequado das lesões consideradas precursoras.
O principal exame para rastreamento da doença é a mamografia, que deve ser realizada a partir dos 40 anos. Em pacientes com história familiar preocupante para câncer de mama, a mamografia deve ser pedida aos 35 anos.
A ultrassonografia é um exame complementar ao exame físico e à própria mamografia, principalmente na mulher jovem ou com mamas densas. Dispomos também, da ressonância nuclear magnética, que é muito importante no planejamento das cirurgias conservadoras, no diagnóstico em mulheres jovens ou com próteses mamárias. Ah, e não se esquecer do autoexame das mamas, principalmente nas mulheres que, por serem jovens, ainda não realizam mamografia. Deve ser feito preferencialmente deitada, na fase pós-menstrual. O exame das mamas faz parte do exame ginecológico e deve ser realizado pelo menos uma vez por ano.
Um lembrete para todas nós. Devemos cuidar sempre da saúde, mas se Outubro chegar e seus exames não estiverem em dia, agende seu ginecologista. Não espere notar um nódulo no autoexame das mamas para procurar um médico. A chance de cura e de uma cirurgia mais conservadora depende do diagnóstico precoce. Não desperdice essa chance!
*Sobre a autora
Luciene Miranda Barduco, médica formada pela USP, colaborada da Trevoo, continua apaixonada por sua especialidade, a ginecologia e obstetrícia. Depois descobriu a mastologia e, recentemente, a sexologia. Médica, esposa, mãe da Mariana e gosta muito de tudo isso!
Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo