Carla da Silva Santana Castro* Publicado em 07/07/2021, às 09h00
O conto de Aladdin é um dos mais conhecidos da coletânea árabe “As mil e uma noites”, traduzido por Antoine Galland, em 1709. Ao enveredar pelo enredo, o leitor se depara com personagens fortes e inesquecíveis como a lâmpada maravilhosa e seu gênio, uma princesa e um plebeu, um tesouro, um bruxo, um castelo e moedas de ouro entre muitos elementos que dão vida a essa narrativa tão encantadora.
Um dos elementos mais fascinantes deste universo é o tapete mágico, que sai do seu lugar para alçar voo pelos céus sobre o Palácio de Agrabah. No filme ele está localizado próximo ao rio Jordão, rompendo a lógica dos tapetes que embelezam e protegem o chão.
É o tapete disruptivo de Alladin!
As quedas entre adultos com 65 anos ou mais são comuns, caras e evitáveis. Constituem a principal causa de lesões fatais e não fatais entre os mais idosos; dessa forma, há um grande esforço para gerenciar os fatores intrínsecos e extrínsecos - ligados ao sujeito e ligados ao ambiente.
Surgiram várias estratégias pensadas para melhorar a capacidade funcional dos idosos e remover as barreiras de mobilidade, tornando mais seguros os ambientes internos e externos das casas.
A prevenção de quedas é tarefa difícil devido a variedade de fatores que as predispõem. De acordo com os dados da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS:
Os fatores intrínsecos dizem respeito às funções e estruturas corporais do indivíduo que podem estar alteradas - o equilíbrio, a marcha, a visão, dentre outras.
Há ainda os comportamentos adotados pelo idoso. Muitas vezes, ele se coloca em risco por não reconhecer que seu corpo já não é mais o mesmo de 15 ou 20 anos atrás e decide subir num banquinho ou na ponta da cama para alcançar um objeto no alto de um armário, insiste em usar chinelos que escorregam ou roupas maiores do que seu tamanho.
Os fatores extrínsecos dizem respeito ao ambiente e tudo que faz parte dele – superfícies irregulares e escorregadias, objetos espalhados pelo chão como fios, tapetes ou animais que se deslocam pelo caminho, requerendo do idoso um rápido e eficaz ajuste corporal para que não caia no chão.
Cada fator de risco que é eliminado, consequentemente, diminui a probabilidade do idoso cair. Pense nisso!
Fatores relacionados ao ambiente, como a boa iluminação e o uso de cores claras, favorecem a visão. A disposição adequada dos móveis, permitindo a locomoção sem barreiras, a opção de não encerar o chão e evitar ter pisos escorregadios e a colocação de barras no banheiro são iniciativas que podem reduzir a probabilidade de quedas.
Afinal, os tapetes de crochê na entrada da casa, na beirada da cama ou entre os cômodos da casa, assim como as passadeiras estendidas pelos corredores sempre fizeram parte da decoração da casa. Tiveram sua permanência garantida até que o morador ou visitante atravessasse o portal dos 60+, uma alusão à caverna onde Jafar prendeu Aladdin até que encontrasse a lâmpada e seu gênio.
Os designers de ambiente recomendam que os tapetes possam ser vastos de forma que cubram a maior parte do cômodo, ou, ainda, podemos recorrer ao uso dos tecidos antiderrapantes que têm melhor fixação ao solo.
E muito embora os tapetes de crochê não se assemelham tanto aos tapetes persas, podem “subir aos céus”, como o tapete do Aladdin, levando o idoso à aterrissar no chão.
Pensando bem, os tapetes podem sair do chão e ganhar destaque belíssimo na parede, no braço do sofá, ou mesmo sobre a cômoda, não é mesmo?! Afinal, reduzir o risco de queda vale a pena e o que é bonito e significativo para o idoso merece ser exibido como um objeto de arte capaz de nos encantar!
Saiba mais sobre queda dos idosos: BVS - Ministério da Saúde - Dicas em Saúde (saude.gov.br)
*Carla da Silva Santana Castro - Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (2001). Mestrado em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba -UNIMEP (1996). Pós- Doutorado pelo Oxford Institute of Population Ageing / Universidade de Oxford (UK) (2012). Docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Conselheira membro da sociedade civil – representante da Universidade de São Paulo Presidente Gestão 2018-2020. Presidente da Sociedade Brasileira de Gerontecnologia - SBGTEC. Membro do Conselho Editorial da TREVOO (desde 2021).