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Quedas: identificar fatores de risco é o primeiro passo para prevenção

Embora as quedas sejam mais frequentes na velhice, sua ocorrência não deve ser considerada "normal" - iStock
Embora as quedas sejam mais frequentes na velhice, sua ocorrência não deve ser considerada "normal" - iStock

A queda pode ser definida como um evento inesperado que leva o indivíduo a um nível inferior ou ao chão. A prevalência delas aumenta com a idade, sendo que aproximadamente 30% dos idosos residentes na comunidade sofrem ao menos uma queda por ano. Entre aqueles residentes em Instituições de Longa Permanência ou Residenciais, a prevalência das quedas pode chegar a 50%. É importante lembrar que elas possuem origem multifatorial e ocorrem principalmente durante a deambulação.

Consequências das quedas

Embora as quedas sejam mais frequentes na velhice, sua ocorrência não deve ser considerada como algo "normal" da idade. Além das consequências físicas comumente conhecidas, como, por exemplo, escoriações, hematomas e fraturas, as quedas podem resultar também em medo de novos eventos, redução do nível de atividade física, da participação social e da capacidade funcional. As quedas geram impactos não só para os idosos e suas famílias, mas, também, para os sistemas de saúde e assistência social, já que estas estão associadas a diferentes desfechos negativos, incluindo dependência, hospitalização, institucionalização precoce e, em última instância, morte.

Fatores de risco para as quedas

Você sabia que, apesar de ser um evento inesperado, as quedas entre idosos podem ser evitadas? Em primeiro lugar, é importante identificar quais fatores de risco para as quedas estão presentes e, ainda, quais são passíveis de modificação. A partir de então, será possível desenvolver um programa de prevenção que seja realmente efetivo para a pessoa idosa avaliada. É importante lembrar que a maioria é resultado da interação complexa entre diferentes fatores de risco. E eles podem ser classificados em intrínsecos (ou seja, relacionados com o próprio indivíduo) e extrínsecos (relacionados ao meio ambiente ou a fatores externos ao indivíduo). A seguir, listamos alguns fatores de risco para as quedas passíveis de modificações e/ou intervenções:

Íntrinsecos:

- Redução do equilíbrio: idosos com redução e/ou problemas de equilíbrio têm maior chances de sofrerem quedas. A presença de déficit de equilíbrio pode ser verificada de maneira simples solicitando que a pessoa idosa permaneça na postura em pé, com o apoio de apenas uma das pernas, por pelo menos 5 segundos. Quanto maior o déficit de equilíbrio, maior é a dificuldade de retirar um dos pés do chão.

- Redução da força muscular: tanto a massa como a força muscular reduzem com o aumento da idade, sendo que os membros inferiores são mais afetados que os membros superiores. A manutenção da força muscular é importante principalmente para o reestabelecimento do equilíbrio após tropeços e escorregões. Em geral, pessoas idosas com déficit importante na força dos membros inferiores são incapazes de levantar de uma cadeira sem ajuda das mãos ou de outras pessoas.

- Déficit visual: idosos que apresentam algum tipo de déficit visual e/ou doença ocular têm dificuldade de identificar fatores de risco ambientais e, portanto, são mais suscetíveis a eventos de desequilíbrio e quedas. Avaliar a necessidade de utilização/atualização de lentes corretivas e/ou outras intervenções específicas (cirurgia de catarata) deve ser sempre considerada na avaliação dos fatores de risco para as quedas.

- Polifarmácia: o uso concomitante de 5 ou mais medicamentos aumenta o risco de interações medicamentosas e, consequentemente, de reações adversas que podem afetar a capacidade de manter o equilíbrio. Além disso, o uso de medicamentos que têm efeitos no sistema nervoso (antidepressivos, antipsicóticos, sedativos, ansiolíticos, etc.) e/ou cardiovascular (anti-hipertensivos, diuréticos, betabloqueadores, etc.) também aumenta o risco de quedas em idosos. Assim, é importante realizar acompanhamento médico frequente, seguir a prescrição do seu médico e não ingerir medicamentos sem prescrição.

- Inatividade física: com o avançar da idade, há redução do nível de atividade física e aumento do tempo gasto em comportamentos sedentários (ou seja, atividades na postura sentada ou deitada). Ambos contribuem não só para a redução da capacidade física observada com o aumento da idade, mas também para o aumento do risco de desenvolvimento de doenças crônicas. A prática regular de atividades físicas, por outro lado, tem papel importante na manutenção do desempenho físico e, consequentemente, na redução do risco de quedas.

- Alterações na marcha e déficits de mobilidade: alterações fisiológicas associadas ao envelhecimento no padrão da marcha também aumentam o risco de quedas entre idosos. A redução da altura do passo, por exemplo, pode aumentar o risco de tropeços, enquanto que a diminuição da amplitude de movimento articular pode reduzir a capacidade de recuperação do equilíbrio após tropeços e escorregões. Além disso, algumas doenças que afetam a marcha e a mobilidade (Doença de Parkinson, Acidente Vascular Encefálico e Osteoartrose) são mais prevalentes na população idosa e contribuem para o maior risco de quedas na velhice.

Extrínsecos: 

- Fatores ambientais: tropeços e escorregões são as principais circunstâncias causadoras das quedas. Assim, os principais fatores de risco ambientais associados às quedas incluem: desníveis/irregularidades no chão ou solo, objetos soltos em áreas de circulação e superfícies molhadas e/ou escorregadias. Entretanto, fatores como iluminação inadequada, ausência de corrimãos, degraus/escadas fora de padrão, entre outros, também podem contribuir para a ocorrência de quedas.

- Roupas e calçados inadequados: calçados que conferem pouca estabilidade e ajuste aos pés (chinelos, sandálias e sapatos de salto alto) e/ou possuem solados pouco aderentes (ou seja, de plástico ou de couro) aumentam o risco de quedas. Saias e calças muito longas também devem ser evitadas, já que a pessoa idosa pode prender ou enroscar o pé na barra da roupa durante a deambulação ou ao subir e descer escadas.

- Uso inadequado de dispositivos de auxílio à marcha: idosos com alterações e déficits na marcha podem necessitar de dispositivos de auxílio, como bengalas e andadores, para manterem sua independência funcional. Nestes casos, é importante que os dispositivos sejam prescritos por profissionais habilitados e que os idosos sejam orientados adequadamente sobre o uso dos mesmos. Caso contrário, os dispositivos de auxílio à marcha poderão proporcionar mais riscos do que benefícios.

Prevenção das quedas

A identificação de fatores de risco para as quedas é o primeiro passo para a prevenção de eventos futuros. Como as quedas são eventos multifatoriais, programas que abordam o assunto de forma interdisciplinar e individualizada são os que apresentam melhores resultados. Além disso, ações de caráter informativo e educacional são de extrema importância para que modificações dos fatores de risco sejam incorporadas no dia a dia da pessoa idosa.

Ruth Caldeira de Melo

Ruth Caldeira de Melo

Graduada em Fisioterapia (2000) pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestrado (2004) e Doutora (2008) em Fisioterapia pela UFSCar. Doutorado "Sandwich" (2007 - 2008) no Integrative Physiology of Aging Laboratory, University of Colorado at Boulder (EUA). Pós-doutoramento (2021) em Gerontologia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora Associada da Universidade de São Paulo (USP). Docente do curso de Bacharelado em Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da (USP). Orientadora (mestrado e doutorado) nos Programas de Pós-graduação em Gerontologia da USP e da UNICAMP. Articulista do Portal Trevoo.  Instagram: @ruthmelo