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Escola contra o bullying

Imagem Escola contra o bullying

Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h14 - Atualizado às 23h57

No domingo em que a maior parada de orgulho LGBT do Brasil (e uma das maiores do mundo) toma conta das ruas de São Paulo, é um bom momento para se repensar a questão da educação infantil no que diz respeito ao bullying, principalmente em relação à questão da orientação sexual.

Na última semana o jornal espanhol El País trouxe uma interessante matéria sobre um programa educacional de prevenção e combate ao bullying e ao assédio escolar (KIVa), desenvolvido em 2007, por pesquisadores da Universidade de Turku, na Finlândia. Hoje ele está implementado em 90% das escolas do país nórdico e vem conquistando uma série de outras nações europeias.

O método é composto por cerca de 20 aulas, aplicadas em três momentos da vida dos estudantes – aos 7, 10 e 13 anos -, nas quais eles avaliam situações em imagens com os seus professores e classificam o que consideram simples conflitos ou casos de assédio. A partir daí, partem para exercícios que melhoram a construção da convivência em grupo.

Em cada uma das escolas participantes há um grupo de professores responsáveis pelo programa, mas toda equipe escolar está atenta às situações que podem gerar conflitos e problemas. Os professores conversam com os assediadores, com as vítimas e com grupos de alunos, avaliam quando é necessário convocar os pais, e recebem suporte dos pesquisadores da universidade. A redução do número de casos é impactante.

O projeto foi uma reação aos episódios dramáticos (em 2007 e 2008), em que ex-alunos invadiram escolas e atiraram em outros estudantes por supostas situações de assédio vividas no passado. A Finlândia também apresentava, desde a década de 1990, uma das maiores taxas de suicídio do mundo, e o bullying era um dos principais fatores desencadeantes.

Um outro estudo importante, publicado no último dia 23, na versão online da revista médica americana Adolescent Health, avaliou o peso que o assédio contra minorias sexuais pode ter na saúde e no desempenho acadêmico desses jovens de ensino médio. Foram avaliados comportamentos como brigas físicas, ameaças e ferimentos por armas, bullying nas dependências da escola, porte de armas e falta nas aulas por questões de segurança. Os pesquisadores utilizaram dados da pesquisa nacional Youth Risk Behavior, dos anos de 2009 e 2011.

Os resultados mostram que garotos com orientação homossexual foram mais expostos do que os heterossexuais a ameaça e ferimento por armas, bullying e falta na escola por questões de segurança. As garotas homossexuais foram mais expostas do que as heterossexuais a todos os padrões de comportamento avaliados. A conclusão do trabalho revela que, nos EUA, jovens que fazem parte de minorias sexuais continuam a ser vítimas mais frequentes de diversas formas de violência física e emocional, o que reforça a importância de interromper esse assédio no ambiente escolar, de uma forma mais estruturada, talvez como acontece hoje na Finlândia.

No Brasil, com o número crescente de crimes e violência contra minorias sexuais, fica evidente que o combate à homofobia tem de ser feito desde cedo. Além de um amparo legal mais definido, o trabalho ativo nas escolas, com um esforço concentrado dos pais na tentativa de desconstruir estereótipos e preconceitos, parece ser a melhor estratégia para que isso aconteça.

Por falar em oportunidade de trabalhar bullying e a desconstrução de preconceitos, vale a pena levar seu filho ou sua classe ao cinema para assistir ao filme nacional Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. Uma lição de sensibilidade!

via Estadão

*Jairo Bouer é psiquiatra.