Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h13 - Atualizado às 23h57
Televisão ou internet no quarto é tudo o que seu filho quer na vida, mas novas evidências têm demonstrado que essa pode ser uma péssima ideia para a saúde dele. Pesquisa da Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, publicada no jornal inglês Daily Mail da semana passada, mostra que, para cada hora de televisão a que as crianças assistem por dia, elas perdem sete minutos de sono.
O estudo avaliou 1.800 crianças entre 6 meses e 8 anos. Quem tinha TV no quarto dormia menos. Os garotos parecem ser ainda mais sensíveis à presença da tecnologia perto da cama. A avaliação faz parte de um projeto (Project Viva), que acompanhou crianças de seu nascimento até 8 anos de idade para tentar determinar quais os fatores que podem influenciar seu desenvolvimento.
O trabalho foi um dos poucos que observaram o comportamento das crianças por um longo período de tempo, e o resultado mostra que tanto assistir a muita TV como ter uma televisão no quarto podem diminuir o tempo de sono em uma fase da vida em que dormir pelo menos oito horas é fundamental para a saúde. Algumas pesquisas recentes relacionam, por exemplo, menos horas de sono com um maior risco de obesidade em crianças e jovens.
Além disso, dormir menos pode piorar a concentração, a atenção, a memória e o rendimento em um momento em que as células nervosas estão se desenvolvendo em um ritmo acelerado e vão determinar nosso funcionamento intelectual e psíquico.
Não foi à toa que, há duas semanas, por exemplo, em Manchester, no Reino Unido, na Conferência Anual da Associação de Professores, noticiada pelo jornal Evening Standard, foi discutido o impacto que o uso dos tablets, celulares inteligentes e computadores, durante a noite, estão tendo no desempenho dos alunos em sala de aula.
Professores estão percebendo, cada vez mais, jovens sonolentos, irritados e com dificuldade de concentração após passarem noites em claro ou com poucas horas de sono por causa do uso excessivo de tecnologia, principalmente quando eles estão sozinhos, o que acontece com frequência em seus quartos à noite.
Redes sociais, serviços de troca instantânea de mensagens e jogos online seriam os principais “vilões” dessa história. Mesmo proibidos pelos pais de acessar a internet à noite, os jovens conseguem facilmente driblar esse controle graças, principalmente, aos dispositivos móveis e portáteis, como os smartphones.
Alguns desses professores, preocupados com essa queda de rendimento dos alunos na escola, e com medo do risco de dependência dos jovens à internet, sugeriram que os pais deveriam desligar o Wi-Fi de suas casas à noite, o que dificultaria o acesso das crianças.
Do ponto de vista da saúde, uma série de estudos tem demonstrado que tanto a radiação emitida pelas telas de celular e computador como a excitação psíquica provocada pelos jogos e papos online podem dificultar que o jovem “pegue” no sono. Além disso, há um problema crescente em desligar esses aplicativos no meio de uma conversa com amigos, de uma paquera ou de uma etapa eletrizante de um game, porque no dia seguinte existe trabalho ou escola.
Na semana passada, também, outra pesquisa mostrou mais um possível impacto negativo da internet, dessa vez principalmente em garotas. Realizado em universidades americanas e inglesas, o estudo sugeriu que as meninas que passam mais tempo nas redes sociais tenderiam a se comparar mais com amigas e conhecidas e teriam um risco maior de terem uma percepção negativa do seu corpo, da sua imagem e da sua aparência.
Talvez a principal conclusão de todos esses trabalhos seja que o uso das tecnologias precisa ser redimensionado, com urgência, na vida de muitos jovens.
* É PSIQUIATRA