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Paternidade tardia é arriscada?

Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h13 - Atualizado às 23h57

Pais mais velhos correm risco  elevado de ter filhos com transtornos do comportamento? Essa pergunta motivou um grande estudo, nos Estados Unidos e na Suécia, divulgado há duas semanas. A resposta apontou para uma correlação importante entre paternidade tardia e um maior número de problemas psiquiátricos dos filhos.

Já se sabia que mães mais velhas correm maior risco de ter filhos com síndrome de Down. A explicação é que, quanto mais tempo demoram para ter filhos, maior a chance de as células que dão origem aos óvulos acumularem mutações (as mulheres já nascem com seu estoque de células reprodutivas). Os homens, ao contrário, têm uma produção constante de espermatozoides, que são renovados. Não era evidente que a idade do pai poderia ter impacto tão claro na genética dessas células.

Se o resultado dessa pesquisa, publicada na revista americana Jama Psychiatry (que envolveu mais de 2,6 milhões de pessoas nascidas na Suécia entre 1973 e 2001), for confirmado em outros trabalhos, tanto a idade do pai como da mãe podem ser indicadores de risco. Numa sociedade em que as pessoas têm filhos cada vez mais tarde, esse é um dado significativo.

O estudo comparou filhos de pais na faixa dos 20 aos 24 anos a filhos de pais na faixa dos 45 anos ou mais. Os filhos dos pais mais velhos tiveram maior incidência de autismo, deficit de atenção com hiperatividade, transtorno bipolar, esquizofrenia, pior desempenho escolar, uso de drogas e risco de suicídio. Aparentemente, a idade mais avançada pode expor os homens mais velhos a uma maior influência de fatores ambientais (poluentes, toxinas etc.) que interferem na “linha de montagem” dos espermatozoides, ampliando o risco de mutações deletérias (mudanças genéticas que causam problemas).

Mesmo aumentando o risco, a maior parte desses transtornos psiquiátricos não é regra, e sim exceção entre os filhos dos pais mais velhos. A genética também não é a única definidora dessas condições. Maior habilidade social, mais experiência de vida, maior renda familiar e proximidade afetiva desses pais podem servir como fatores de proteção, quando comparados aos pais mais jovens (com menores salários, mais inexperientes ou mais ausentes).

Outra pesquisa, publicada no American Journal of Human Genetics, tentou explicar a razão de alguns distúrbios neurológicos, como autismo, serem mais comuns em homens. O resultado sugere que as mulheres precisam acumular um número maior de mutações genéticas para ter os mesmos transtornos. Por isso, os homens estariam mais expostos a essa condição.

via Época