Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h15 - Atualizado às 23h57
Quem busca parceiros sexuais em aplicativos de celular tem uma chance maior de se expor a uma doença sexualmente transmissível (DST) do que se o encontro acontecer em um bar, festa ou até mesmo em um site de relacionamento. Essa é a principal conclusão de um estudo publicado no jornal médico Sexually Transmitted Infections, revelado na última semana pelo jornal britânico Daily Mail.
No momento em que os aplicativos, que usam o GPS do celular para avisar sobre “candidatos potenciais” que estão por perto, ganham popularidade, principalmente entre os mais jovens, esse risco elevado pode ser um problema. O Tinder, por exemplo, cresce de forma impressionante a cada dia. O Grindr (um dos mais antigos, voltado ao público gay) tinha seis milhões de usuários em quase 200 países, em 2013.
A pesquisa acompanhou sete mil homens gays que se consultaram em uma clínica de saúde sexual em Los Angeles, nos EUA, de 2011 a 2013. Um terço deles só conheceu parceiros pessoalmente, 30% combinaram encontros “reais” com outros “online” e, 36% só usaram aplicativos de celular. Os “apps” eram mais utilizados pelos mais jovens e pelas pessoas com melhor nível educacional.
Em média, os encontros pelos aplicativos expunham os homens a um risco 23% maior de se contaminar por gonorréia e, 35% maior de se contaminar por clamídia. Não houve diferença em relação à sífilis ou ao HIV entre os usuários dos celulares.
Se, por um lado, as novas tecnologias permitem uma revolução, que está facilitando o encontro de milhões de pessoa ao redor do mundo, por outro, ela pode expor mais gente às DSTs. Ao conhecer alguém de forma muito rápida e fazer sexo quase por impulso, o risco de não se proteger pode ser maior. O uso de drogas recreativas entre os usuários de aplicativos também foi mais alto, o que também pode agravar falhas na prevenção.
Por falar em revolução no campo da sexualidade, artigo do final de maio do jornal The New York Times, traz uma reflexão interessante sobre os efeitos que o Truvada (medicamento contra a aids), recentemente aprovado nos EUA para uso preventivo, pode ter no comportamento sexual das pessoas. O uso profilático consiste na ingestão diária de uma pílula antiviral por quem não está contaminado pelo HIV, mas que se expõe seguidamente a risco (por exemplo, sexo com múltiplos parceiros, sem proteção). As evidências mostram que pode ocorrer uma redução da chance de contaminação pelo vírus de até 99%.
O próprio esquema atual de tratamento dos soropositivos reduz drasticamente a transmissão. O resultado preliminar de um novo estudo europeu, que está acompanhando quase 800 casais gays e heterossexuais sorodiscordantes (um é portador do vírus e o outro não) e, em que o parceiro infectado está tomando corretamente os medicamentos, trouxe um resultado animador. Em mais de 30 mil contatos sexuais, ao longo de dois anos, não houve um único caso de transmissão do vírus.
Da mesma forma que as revoluções sexuais trazida pela pílula, para as mulheres, nos anos 60 e, depois, pelo Viagra e seus similares, para os homens, no final dos anos 90, condicionaram mudanças de comportamento e, o aparecimento de novos desafios do ponto de vista da prevenção em saúde sexual, o surgimento de terapias altamente eficazes (talvez até mais eficazes que uma vacina) na prevenção da infecção pelo vírus HIV, pode fazer com que as pessoas usem ainda menos os preservativos e se exponham mais a outras DSTs.
Em tempos em que o sexo está disponível, de forma fácil e rápida, graças à revolução tecnológica, a poucos toques na tela de um celular, em que a aids poderá ser evitada com uma pílula diária e, em que a gestação indesejada pode ser driblada com a pílula do dia seguinte, os esforços para fazer com que as pessoas continuem a se cuidar e a usar camisinha vão ter que ser redobrados.
Por último, os fabricantes de alguns dos medicamentos facilitadores da ereção (responsáveis pela revolução na vida sexual dos homens mais velhos), planejam solicitar às agencias reguladoras dos EUA, Canadá, Austrália e da Europa que eles sejam vendidos, em breve, sem receita médica. Bom lembrar que apesar de baixo risco, eles podem não ser seguros para cardíacos e para quem usa alguns remédios para o coração e para redução da pressão arterial. Seria importante que alguém, além da bula, alertasse os homens mais velhos sobre esses riscos.
via Estadão