Novos dados divulgados pelo Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido mostram que os homens têm três vezes mais chance de se matar do que as mulheres.
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h13 - Atualizado às 23h57
Novos dados divulgados pelo Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido mostram que os homens têm três vezes mais chance de se matar do que as mulheres. A diferença na taxa de suicídio entre os dois sexos nunca foi tão alta no país. O aumento foi ainda mais evidente na faixa entre 40 e 44 anos de idade.
As informações foram reveladas pelos jornais The Telegraph e Mail Online na última semana. Em 1981, quando os dados começaram a ser computados, a proporção de homens para mulheres que cometiam suicídio era de 1,9. Em 2012, esse número saltou para 3,2. Entre os homens, as taxas mais elevadas migraram dos adolescentes e jovens para os de meia-idade.
Os dados britânicos mostram também que o suicídio foi a principal causa de morte entre os homens na faixa dos 20 aos 34 anos e dos 35 aos 49 anos. O número de suicídios na faixa dos 45 aos 59 anos aumentou 40% em relação à década anterior.
Para os especialistas, a crise e a recessão no país nos últimos anos explicariam, em parte, a elevação. Outros acreditam também em um “efeito de geração”. Esse grupo de homens de meia-idade faria parte da mesma geração em que os mais jovens teriam as maiores taxas de suicídio há 20 anos.
Homens mais pobres vivendo em áreas mais carentes têm uma chance dez vezes maior de cometer suicídio do que homens mais ricos, que vivem em áreas mais nobres do Reino Unido. A diminuição de postos nas indústrias, as mudanças sociais das últimas décadas, com novas formas de organização familiar, questões de gênero, aumento das taxas de divórcio e maior autonomia das mulheres podem ter deixado esse homem de meia-idade em crise.
No Brasil, na segunda-feira passada, assistimos ao trágico desfecho de uma situação em que um pai de 52 anos se jogou da varanda do seu apartamento no 13.º andar de um edifício em Osasco, na Grande São Paulo, e levou no colo seu filho de 6 anos após um suposto acesso de raiva, em que teria agredido a mulher. O professor, casado havia sete anos, tinha um casamento anterior desfeito, em que estava impedido de se aproximar da outra filha.
Em São Paulo, um levantamento realizado pelo geógrafo Daniel Hideki Bando, em tese de doutorado defendida na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em 2013, notou um aumento da taxa de suicídio entre os homens na faixa dos 25 aos 44 anos da ordem de 8,6% ao ano, a partir de 2004. Foram dez mortes a cada 100 mil habitantes. Entre as mulheres, a taxa permaneceu estável nos últimos anos, com duas mortes a cada 100 mil habitantes.
Entre os maiores fatores de risco para o suicídio estão: ser solteiro (isolamento), ter sintomas depressivos, ser portador de outros transtornos mentais, estar enfrentando uma fase de readaptação após uma mudança na vida (final de relacionamento, perda de emprego, mudança de cidade, afastamento de familiares) e ter doenças graves ou degenerativas, entre outros.
Mas por que os homens reagem de forma mais grave às adversidades da vida? Mulheres dividiriam mais os problemas com amigos e parentes (têm uma rede social mais articulada) e estariam mais preparadas para lidar com situações como perdas, abandonos e solidão. Os homens teriam menos flexibilidade para lidar com mudanças e enfrentariam maior pressão social para ter de resolver as dificuldades por conta própria, sem conseguir dividir o peso das decisões com outras pessoas.
Com a velocidade com que ocorreram as transformações sociais e o novo papel da mulher aqui no Brasil, e no mundo ocidental como um todo, o homem de meia-idade, identificado com uma cultura mais machista e, paradoxalmente, mais dependente da mulher, teria perdido o rumo. Sempre bom lembrar que a identificação dos fatores de risco e a interferência precoce nesse processo, com o apoio de uma rede de suporte, podem fazer toda a diferença nessa hora.
via Estadão