Victor Rodrigues Publicado em 01/04/2021, às 10h00
Historicamente no Brasil, os trotes sempre foram um dos principais obstáculos para os serviços de emergência, seja para o 190 (Polícia Militar), 192 ( Samu) ou 193 (Corpo de Bombeiros). Mesmo em meio à pandemia da Covid-19, diversos Serviços de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), pelo Brasil, vêm registrando altos índices de trotes pelo telefone 192.
Em Mauá, cidade com quase 500 mil habitantes, localizada na Grande São Paulo, entre março de 2020 e março de 2021, segundo dados fornecidos pelo Samu, o serviço recebeu, em média, 10 trotes por dia, totalizando mais de 3 mil deslocamentos de ambulâncias para ocorrências falsas desde o início da pandemia. O caso é considerado trote quando a pessoa liga para o 192 e passa uma informação falsa, que gera envio desnecessário de ambulâncias ao local solicitado.
De acordo com o médico regulador do Samu de Mauá, Romer Braga, os trotes sempre prejudicaram o atendimento às pessoas que realmente precisam do serviço de urgência, ainda mais agora durante a pandemia.
“Com a demanda crescente de solicitações de viatura, tanto para atendimento de Covid quanto para as outras doenças, quando um trote é atendido, uma pessoa em necessidade pode ter seu socorro postergado ou até mesmo não ser atendida. Uma vida pode ser perdida”, observa o profissional de saúde.
Embora o trote telefônico seja crime, de acordo com o artigo 266 do Código Penal, não são só as crianças que cometem essa prática.
“Diariamente recebemos dezenas de trotes com falsas ocorrências. Crianças, e muitas vezes adultos, ligam para o 192 e inventam situações de emergência que nunca existiram. Acidentes de carro, quedas de lajes, alguém com mal-estar, ou, por vezes, ligações com o único intuito de ofender quem trabalha neste serviço”, explica Romer.
Para tentar conscientizar a população, o Samu de Mauá realiza o programa “Samu na escola”, com campanhas educativas sobre a importância do serviço prestado por esse tipo atendimento e os prejuízos causados à sociedade pelos trotes feitos para a central de atendimento do órgão.
“Precisamos orientar as nossas crianças e os nossos cidadãos sobre a importância de não se realizar trotes e não obstruir as linhas telefônicas dos serviços essenciais como Samu, Polícia Militar e afins. Devemos contar com um serviço eficiente quando necessário e temos que fazer a nossa parte para que seja assim, a fim de não precisarmos ouvir um desculpe-me, mas infelizmente o atendimento deve demorar”, completa o médico regulador Romer Braga.
Vale lembrar que a pena para o trote telefônico é detenção de um a seis meses ou multa.
O Samu é um programa do Governo Federal criado em 2002, sua administração e gerenciamento é de responsabilidade dos municípios, que prestam socorro em casos de urgência e emergência. Segundo o Ministério da Saúde, o Samu conta atualmente com 114 Serviços de Atendimento Móvel de Urgência, estando em atividade em mais de 900 municípios no Brasil e atingindo cerca de 93 milhões de pessoas.