Ambiente competitivo mexe com a saúde mental dos estudantes de medicina
Anderson José Publicado em 10/04/2022, às 10h00
“Não existe abertura quando sequer cruzam o olhar com o teu em uma tentativa de apagar que você existe e está naquele ambiente. Na verdade, essas pessoas estão tão acostumadas a “silenciar” outras em redes sociais que incorporam isso na vida real. Não estou ofendendo ninguém dizendo isto, mas apenas verbalizando o que, de fato, ocorre e muitas vezes machuca.”
O depoimento acima é de B.L.P, estudante de medicina da Universidade Federal do Acre e que mora em Rio Branco, capital do estado, há alguns anos. Ele veio de uma outra cidade do sudeste do país em busca de seu maior sonho: ser médico! Com o apoio da família, o estudante consegue se manter estudando e frequentar as aulas do curso, já que ainda não consegue trabalhar por conta da carga horária do curso. O estudante relata que é tímido e, por isso, tem uma certa dificuldade de fazer amigos. Desde que mudou de cidade para estudar, passa a maior parte do tempo sozinho.
Uma pesquisa realizada pelo Health Science Center, com mais de 2 mil pessoas da Universidade do Texas, revelou que, dentro do ambiente universitário, estudantes são 6 vezes mais propensos a desenvolver ansiedade e depressão, e estar solitário pode contribuir para que alguém seja afetado por tais condições.
B.LP. tem diagnóstico de depressão e ansiedade desde 2019 e, segundo ele, seu quadro piorou com a pandemia da Covid-19, embora esteja fazendo tratamento e sentindo que seu humor está mais estabilizado. Ao ser questionado sobre o porquê de não conseguir construir laços afetivos com seus colegas, o estudante diz que até tem uma relação cordial com muitos, mas que isso não basta para construir uma amizade:
“Existe muita competição no ambiente universitário e muita panelinha. Isso dificulta muito a aproximação e a construção de vínculos”.
Confira:
Panelinha no sentido de “grupo fechado” parece vir da locução fazer panelinha com alguém, que significa “associar-se a alguém, tramar alguma coisa com alguém), que poderá vir da ideia de “cozinhar e comer em conjunto”.
Além disso, panelinha pode significar também a comunhão de pessoas que reúnem características em comum – ou não – e não fazem muita questão de agregar outros. É como se as vagas já estivessem preenchidas e a nota de corte para o processo seletivo de admissão de novos membros inclui bastante paciência e persistência. Ter um grupo de amigos que agrega outros, que cumprimenta as pessoas e que faz o mínimo esforço para ser agradável principalmente para quem “está chegando no grupo” é bastante diferente de formar uma rede fechada, intangível e impenetrável. Rede esta, muitas vezes, frágil, temporária e carregada de falsidade.
Neste sentido, quem forma panelas na verdade está perdendo a oportunidade de se abrir, conhecer outras pessoas, rir de piadas novas, aprender com os ensinamentos e experiências que o outro traz! E traz! Todo mundo tem algo a acrescentar. Panela fechada não deixa entrar novos sabores, novos temperos. Fica insossa e, uma hora ou outra, pode passar do ponto e até queimar. Um sabor agridoce de compartilhar a vida é bem mais gostoso que o sabor acre de um vinho barato que virou vinagre por permanecer fechado e se achando um vinho do Porto.
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