Jairo Bouer e veterinária especialista em comportamento Rita Ericson conversam sobre o tema em live
Redação Publicado em 23/05/2022, às 12h00
Nos primeiros meses da pandemia de Covid-19, quando foi necessário o isolamento físico, muitas pessoas se viram sozinhas e pensaram em adotar um animal de estimação. Alguns casais com filhos também pensaram em um pet como uma forma de trazer mais companhia para as crianças. Deste modo, as adoções cresceram. Porém, muita gente agora está voltando ao trabalho presencial, o que provavelmente irá trazer consequências aos cães e gatos.
Os benefícios e os desafios de se conviver com animais de estimação, e toda a responsabilidade que isso engloba, foi o tema da live realizada pela veterinária de cães e gatos Rita Ericson, consultora da TV Globo, autora da série Bichos, do G-Show, e colunista da Rádio JB FM do Rio de Janeiro, e que teve como convidado o psiquiatra Jairo Bouer.
Logo no início, Rita relembrou uma frase que Jairo sempre diz: que os benefícios de se ter um animal de estimação são bem maiores que os desafios. Ele conta que, desde criança, sempre quis ter animais, e que eles marcaram fases de sua vida. Conta também que no auge da pandemia, seus dois cães, Darwin, um Golden Retriever, e Einstein, um Bernese, eram não só companhia para passeios, como ajudavam a dar uma noção de tempo.
Rita comentou que, infelizmente, nem todo mundo tem estrutura para ter animais em casa. Elas podem ter vontade, mas não responsabilidade de se dedicar para que os pets sejam felizes. Além dos cuidados básicos, como alimentação e acompanhamento médico-veterinários, cães e gatos precisam que seus humanos tenham um tempo para se dedicar a eles. O que nem sempre ocorre, e que, agora, com a tal volta “ao novo normal”, pode piorar.
“E quem paga é o animal. Até mesmo o gato, que tem fama de ser independente, não gosta de ficar sozinho por horas. Eles são mais sutis, mas não gostam”, diz ela. E há pessoas que costumam até ficar fora o fim de semana. “Isso pode ser perigoso. Se o animal adoece horas depois, começa a vomitar e fica assim, quando a pessoa voltar dois dias depois, o quadro vai ser grave”, adverte.
Ela lembra que, claro, não tem como prever o que o animal vai demandar de você. Tem aqueles bem sossegados, que tendo água, comida e passeio, está tudo bem, mas há os diferentes também. Ela, que é especialista em comportamento animal, é chamada para casos fora da curva, como se fosse uma psiquiatra da veterinária. Ela lembra que ficar sozinho em casa para um cachorro é uma coisa normal, já para outro pode ser um desespero. E daí vem o aborrecimento da família. “Ele faz isso para te sacanear? Não, ele está em sofrimento total. Está destruindo sua casa, está fazendo xixi no seu travesseiro, roeu suas plantas? Ele não tem capacidade de elaborar isso como uma vingança. Ele está desesperado”.
A veterinária dá como exemplo aquela pessoa que saiu e deixou o animal sozinho por horas e que chega e encontra a casa detonada. A pessoa se sente culpada por ter deixado o cão sozinho, mas pergunta, brava, “quem fez isso?”. O cachorro faz cara de culpado, mesmo sem entender, mais pelo tom da voz; ele faz aquele olhar pedindo para fazer as pazes, mais pelo que ouviu, não por se sentir culpado.
Já os gatos, com frequência adoecem por estresse. Rita cita como exemplos, a cistite inflamatória felina e a idiopática: “Quase sempre são doenças causadas por estresse, que surge por causa de uma nova máquina em casa, uma mudança, a chegada de um novo gato ou até mesmo o nascimento de um bebê”.
A veterinária enfatiza a área de comportamento animal é nova, e que antes não havia aulas sobre isso na faculdade. Agora, as pessoas questionam mais os veterinários, adestradores e até quem dá banho nos pets sobre isso. “Mas ainda tem gente que acha que é mimimi. Só que ninguém é obrigado a dormir com cachorro na cama. Mas ninguém é obrigado a ter animal também. Mas se quer, ofereça tudo o que ele merece”.
Jairo lembra que vários estudos já demonstraram os benefícios que os seres humanos obtêm ao interagirem com animais, como diminuição do estresse, melhora na depressão e redução da pressão sanguínea. Mas enfatiza que o lado ruim é que ao mesmo tempo em que houve um aumento no número de adoções durante a pandemia, também houve aumento no abandono. E que a tendência é isso aumentar.
Rita diz que, infelizmente, haverá mais abandono, pois muita gente adotou (ou comprou) um animal mais por impulso: “A vida estava chata, monótona, crianças entediadas e a presença de um animal traz diferença para casa. Nós temos um termo que usamos para cachorros. Eles são um lubrificante social – facilitam o contato. Saímos com eles e as pessoas perguntam o nome, a idade, se aproximam”.
Porém, por mais delicioso que pareça ter um animal, a opção por ter um tem de ser feita com responsabilidade. E ela lembra que, quando o pet ainda é filhote, é algo desafiador. Depois acalma e o problema é quando começa a envelhecer. Surgem as dores, a necessidade de tomar remédios, provável disfunção cognitiva, parecida com o Alzheimer humano. E isso pode aborrecer a família e, com certeza, dá trabalho.
E Rita também questiona Jairo sobre muitos médicos recomendarem às pessoas, às vezes com crianças com alguma condição de saúde especial, a ter um animal, o que ela, como veterinária, acha uma loucura. “A família tem uma criança com uma questão complicada. E ela vai dar conta de cuidar também de um animal de estimação?”, pergunta.
“Ouvi isso milhões de vezes, algo como ‘aquela senhora perdeu o marido, mora sozinha, vamos dar um cachorro para ela’. Ou um adolescente, que é 'irresponsável', vamos dar o animal e ele vai mudar. De fato, é uma colocação interessante. Não é pra todo mundo. Uma família com uma criança com espectro autista está sobrecarregada, terá de tomar conta de um animal? Há lugares em que crianças poderiam ir e passar horas com animais, por exemplo”.
Outros pontos interessantes da conversa foram tratar o animal de estimação como um filho; a responsabilidade do animal ser sempre dos pais ou adultos; o uso de medicamentos, como antidepressivos, para melhorar a vida do pet; a Lei de Suporte Emocional, aprovada no Rio de Janeiro, que garante que uma pessoa com transtornos mentais tenha pleno acesso com o cão de suporte emocional em locais públicos ou privados de uso coletivo. Também determina que a entrada está autorizada em qualquer meio de transporte público e estabelecimentos comerciais e os desgastes emocionais dos veterinários que, com a chegada de novos meios tecnológicos de comunicação, teriam de estar disponíveis 24 horas para seus clientes.
Rita também aproveitou a conversa para convidar as pessoas a participarem da Roda da Conversa, um encontro on-line, que será realizado no dia 6 de junho, pelo Zoom, às 12h30. Será algo interativo, pois as pessoas poderão entrar, conversar e fazer perguntas. Para participar, é preciso se inscrever pelo Instagram https://www.instagram.com/ritaericson.veterinaria/.
Você pode assistir à conversa na íntegra no post do Instagram abaixo:
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