Como a falta de contato social impacta a saúde mental de jovens?

Em live com Daiana Garbin, Jairo Bouer fala sobre os efeitos da pandemia no emocional de crianças e adolescentes

Redação Publicado em 01/02/2022, às 15h30

Para a criança, é essencial ter interação social, estar e brincar com outras crianças - iStock

Mais ansiedade, agressividade e tristeza. Estudos já mostraram que, com a pandemia e a imposição do isolamento social, houve um aumento desses sintomas em crianças e adolescentes.

Para debater sobre os efeitos da falta de interação social na saúde mental dos jovens, Jairo Bouer participou de uma live com a jornalista Daiana Garbin. Segundo o psiquiatra, no começo da pandemia acreditava-se que os jovens, por serem mais conectados, sentiriam menos os impactos do isolamento. Mas não foi bem assim.

Essa foi a faixa da população que mais sofreu, porque, para eles, é muito importante, nesse momento de vida, a interação e contato social. Para a criança, é essencial estar e brincar com outras crianças, poder sair de casa e enxergar outras possibilidades”, explicou. 

Jairo enfatizou que, para os adolescentes, tudo isso é ainda mais importante, já que é na adolescência que há uma busca de identidade.

Os jovens realmente sentiram o impacto e está sendo muito difícil para eles. Aqui, não estamos falando apenas das dificuldades de aprendizado, mas da questão da interação social. Se pensarmos, para crianças muito pequenas, que estão no começo do projeto de criar redes sociais, essa distância cria, talvez, uma geração com mais dificuldade de interagir com o outro, principalmente os mais novos”, comentou Jairo. 

Como os pais podem ajudar?

Durante a live, Daiana contou que recebeu uma série de depoimentos de mães que estão enfrentando dificuldade em relação à saúde emocional de seus filhos. Jairo disse que, antes de qualquer coisa, é importante entender que não são casos isolados. 

“A primeira questão é esses pais saberem que não estão sozinhos. Existem muitas famílias que estão enfrentando a necessidade de lidar com jovens que estão com algum tipo de dificuldade nesse ponto da saúde mental”.

De acordo com o psiquiatra, em situações como essa, os pais precisam de três fatores para ajudarem seus filhos:

  1. Dar acolhimento;
  2. Ter atenção;
  3. Manter um canal de diálogo.

Durante muito tempo, a saúde mental esteve ligada a uma série de tabus e preconceitos, considerada até “mimimi”, “frescura” ou “preguiça”. Esse sofrimento emocional, muitas vezes, foi associado a uma questão de comportamento e caráter e não a transtornos, dificuldades e doenças.

É essencial ter um canal de comunicação para que o filho ou filha possam, eventualmente, procurar esses pais quando a coisa apertar, quando não se sentirem bem. Eles precisam se sentir confortáveis para se expressarem sobre o que estão sentindo de uma maneira desprovida de preconceitos, estigmas e tabus”, alertou Jairo.  

Confira:

Como saber que é hora de buscar ajuda?

Daiana contou que chegaram inúmeras mensagens de pais relatando que levaram os filhos à psicóloga pela primeira vez na pandemia. Outros, inclusive, contaram que precisaram buscar a ajuda de um psiquiatra, especialmente aqueles em que os jovens expressaram ideias suicidas. 

Mas quando é o momento de buscar ajuda? Segundo Jairo, nós oscilamos entre dias melhores e outros piores. Isso acontece e é ainda mais esperado na infância e na adolescência em função das mudanças dessa fase. 

Porém, quando é observada a mudança de um padrão de comportamento acontecendo há algum tempo e que está impactando, de alguma forma, a vida emocional, social, afetiva e prática desse jovem, talvez é um sinal de que é preciso buscar pelo menos a opinião de alguém que está de fora, um profissional de saúde mental

Vale lembrar que, muitas vezes, aquilo que esperamos de um quadro de depressão ou ansiedade em adultos, por exemplo, pode ser completamente diferente em uma criança ou adolescente.

Em vez de ficar muito parada, ela pode ficar muito agitada. Em vez de ficar triste e acanhada em um canto, ela pode ficar irritada e agressiva”, explicou o psiquiatra. 

Jairo explica ainda que isso não quer dizer que irritabilidade e agressividade são, necessariamente, um sinal de depressão. Porém, podem fazer parte do grupo de sintomas ou indicar que o jovem está tendo algum sofrimento mental. 

Outro possível sinal são as horas excessivas de sono – ao dormir muito, o jovem está deixando de fazer outras coisas, como atividade física, alimentar-se em horários regulares e manter contato com os amigos.

Por essa e outras razões, é importante os pais estarem atentos e, caso o comportamento chame a atenção por um período (uma ou duas semanas), é interessante ouvir a opinião de um profissional de saúde mental.          

Dá para saber do impacto a longo prazo?

Ainda é muito cedo para termos a dimensão do impacto na saúde mental das crianças, adolescentes e, até mesmo, adultos, nos próximos anos.

De acordo com psiquiatra, há aqueles que dizem que teremos uma geração diferente com alguns espaços a preencher, do ponto de vista de aprendizado na escola, interação social e, até mesmo, do desenvolvimento da linguagem. Há ainda quem defenda que viveremos uma espécie de síndrome pós-traumática coletiva, na qual todos enfrentarão mais dificuldade de interagir. 

Para Jairo, apesar de não termos a resposta para essa pergunta, não podemos deixar de lembrar que crianças são seres extremamente versáteis e adaptáveis, com uma grande capacidade de transformação, criação e aprendizado:

 Talvez, em um primeiro momento, no retorno, a gente perceba alguns padrões de comportamento diferentes. Mas, em médio e longo prazo, essas diferenças vão ser descontadas. Não acho que teremos uma geração traumatizada para sempre, isso vai ser superado porque eles têm essa flexibilidade”, opinou.      

Veja a live completa:

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