Estas são algumas das dúvidas mais comuns dos seguidores do site
Redação Publicado em 15/07/2022, às 10h00
Não é de hoje que alguns estudos têm demonstrado que a maconha pode causar infertilidade, por afetar o tamanho e formato dos espermatozoides, diminuindo suas chances de chegar ao óvulo. Já a dúvida sobre se o uso prolongado da pílula anticoncepcional pode impedir uma gravidez após o uso é uma constante na vida das mulheres mais jovens. Agora, em época de pandemia, uma nova pergunta surge: a Covid-19 pode prejudicar o aparelho reprodutor de quem teve a doença?
Pensando nestas dúvidas, tão comuns entre os seguidores, o psiquiatra Jairo Bouer aproveitou a live com o especialista em reprodução humana Rodrigo Rosa, diretor da Clínica Mater Prime, em São Paulo, para esclarecê-las.
“Rodrigo, já temos algum trabalho que aponte que a Covid-19 tenha algum impacto na fertilidade?”, questionou Jairo. O especialista comentou que os trabalhos, até agora, têm sido conflitantes. Isso porque alguns apontavam que sim, a doença afetava o sêmen e alterava os óvulos.
“Porém, trabalhos mais recentes não corroboraram essas hipóteses. No começo da pandemia, os tratamentos foram proibidos, pois não sabíamos os impactos no embrião. Hoje, está mais comprovado que não há transmissão, inclusive durante o processo de fertilização in vitro. Mas isso vale para a reprodução assistida, não para a fertilidade”, admitiu.
Ele lembra que após a fase inicial da pandemia, a Anvisa (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária) liberou os tratamentos e, hoje, não há condições que os impeça de ser realizados. “No dia da transferência, pedimos o exame, e se a paciente tiver a doença, cancelamos o procedimento. Na gestação não há correlação direta, mas a doença, aparentemente, pode trazer complicações às grávidas e, com isso, maior índice de partos prematuros, porque a gestação tem de ser interrompida antes da hora”, contou o médico.
“Outra dúvida é se a maconha causa infertilidade. Pois alguns trabalhos dizem que o uso frequente poderia prejudicar a fertilidade masculina”, perguntou Jairo. Rosa afirmou que a maconha interfere, sim, na fertilidade masculina, e também na feminina. Ele contou que sempre recomenda aos pacientes que não usem drogas ilícitas.
“Mas, por incrível que pareça, o tabagismo traz uma consequência ainda mais devastadora que a própria maconha para a fertilidade. O ideal é não consumir nenhum dos dois, mas se a pessoa falar que fuma cigarro e maconha, aconselho a cortar um e diminuir em 80% a outra, se não conseguir parar os dois”, admitiu.
A terceira dúvida trazida por Jairo foi sobre o uso prolongado de contraceptivo hormonal: “Jovens mulheres que escrevem falando que tomam a pílula anticoncepcional há vários anos e se isso pode dificultar a gravidez”.
Rosa esclareceu que o anticoncepcional, em si, não causa infertilidade futura, porém, mascara algumas causas de infertilidade, porque trata os sintomas. Ele citou, como exemplo, uma mulher com endometriose, que teria mais cólicas durante a menstruação ou dor nas relações sexuais, mas tem os sintomas amenizados pelo uso da pílula. O mesmo vale para a mulher com SOP (Síndrome dos Ovários Policísticos): “Ela não teria falta de menstruação, ciclos irregulares, aumento de acne e de pelos, porque o anticoncepcional diminui os níveis dos hormônios masculinos e regula o ciclo. Daí, ela só vai descobrir o fator de infertilidade quando suspender o método”, disse.
Ele aproveitou para fazer um adendo: “Outro fator é a reserva ovariana. A mulher nasce com um estoque de óvulos que vai diminuindo ao longo da vida. O anticoncepcional mascara a falência ovariana [menopausa precoce] porque a mulher menstrua mensalmente com a pausa da pílula e só descobre quando o problema quando para”.
O especialista ainda comentou que, segundo alguns estudos, o uso crônico de anticoncepcional pode causar uma atrofia nos ovários impactando na saúde reprodutiva como um todo. “Hoje, a visão que temos, como fertileutas [médicos especialistas em reprodução assistida] é usar o mínimo possível de anticoncepcional e optar por outros métodos tão efetivos quanto, mas menos impactantes para a saúde reprodutiva da mulher”, encerra.
Assista ao vídeo com a conversa:
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