Redação Publicado em 29/09/2021, às 10h00
A libido melhora ou piora com a idade? E o sono e a disposição, como ficam para as mulheres após os 35 anos de idade? Esses foram alguns temas abordados no terceiro episódio da série sobre saúde feminina no período de transição da idade fértil para a menopausa. O psiquiatra Jairo Bouer conversou com cinco mulheres de diferentes para saber o que mudou, e também com a ginecologista Maria Celeste Wender, que traz alguns esclarecimentos importantes sobre o assunto.
Na primeira parte do especial, mulheres de diferentes perfis contaram que se sentem muito melhor hoje, aos 40 ou 45 anos de idade, do que quando tinham seus 20 e poucos. Mas, infelizmente, algumas questões relativas à aparência começam a surgir, como cabelo mais ralo, pele mais seca e uma dificuldade maior em manter o peso, conforme exposto no segundo episódio.
Camila Dall’Agnol, de 45 anos, diz que sempre ouviu reclamações de suas alunas sobre o climatério, mas ela própria não sente nenhum sintoma clássico, como calores ou alterações no desejo sexual. “Isso me abalaria muito, eu gostaria que a minha libido não fosse impactada”, comenta. Por enquanto, ela só percebeu melhora com o passar dos anos, o que pode ser creditado ao fato de dominar melhor suas emoções e se sentir mais segura.
Para Adelaine Batista, de 42 anos, que experimentou um abalo após ter sofrido um aborto espontâneo, há alguns anos, a expectativa é que o desejo sexual ainda venha a evoluir: “A gente ouve falar que a mulher, depois dos 35 anos, melhora... fica mais ativa... então eu estou com essa crença, de que vou melhorar cada vez mais”.
Já Daniela Mol Valle, de 40 anos, faz uma observação interessante ao se comparar com a Daniela de dez anos atrás, que ainda não tinha filhos: “Não acho que diminuiu a libido, mas aumentou o cansaço e a quantidade de coisas que tem para fazer”. A saída, ensina ela, é o casal ter sempre em mente de que existe uma vida a dois a ser preservada, além da vida de pai e mãe.
A questão do cansaço, mencionada por muitas mulheres 35+, pode ter relação não apenas com o excesso de trabalho, mas também com a qualidade do repouso, que já não é mais a mesma. “Realmente mudou, meu sono ficou mais leve e acordo com muita facilidade, com qualquer barulho”, relata Ivanete Rodrigues da Silva, de 47 anos, que antes fazia juz ao ditado baiano de 'não acordar nem com trio elétrico'.
Salma Ribeiz, de 43 anos, também notou essa diferença. Quando estava na faculdade e tinha plantões noturnos, tinha condições de ir para a aula no dia seguinte cedo sem grandes problemas. “Hoje eu já não aguento esse ritmo intenso, apesar de precisar de menos horas de sono”, compara.
Confira:
Muitas mulheres nessa faixa etária também costumam apresentar mais queixas no período pré-menstrual. A ginecologista Maria Celeste Wender até cita os resultados de uma pesquisa para corroborar o que percebe na experiência de consultório: “A sensação que a gente tem é que, à medida que a idade avança, as queixas pré-menstruais vão passando mais do físico para o emocional”.
Ou seja: se adolescentes reclamam mais de cólicas ou dor na mama antes de o sangramento vir, as mulheres mais maduras relatam mais tristeza, ansiedade, nervosismo ou alterações no hábito alimentar.
Em relação à libido mais baixa associada ao climatério, Maria Celeste deixa claro que cada vez mais estudos comprovam que essa queixa é multifatorial, ou seja, não pode ser atribuída somente aos hormônios.
E usar pílula anticoncepcional, pode atrapalhar o desejo? A ginecologista responde que isso não é o mais comum, mas algumas mulheres podem ter esse efeito colateral com alguns tipos de pílula. Quando isso acontece, substituir por outro tipo de combinação hormonal vale a pena.
“Há um estudo interessante que avaliou mulheres que usavam essas pílulas para bloquear androgênio, com queixas de libido baixa; elas passaram a usar uma combinação de estradiol com nomegestrol (...) e depois de 3 meses o resultado foi que elas tinham melhorado muito com a troca da pílula”, ilustra.
Dá sim. A médica lembra que, nos últimos anos, houve uma evolução muito grande na anticoncepção hormonal, tanto em termos de dosagem, como também na qualidade dos hormônios utilizados. “Há 15 anos a gente não imaginaria que poderia ter uma pílula com estrogênio natural”, acrescenta, ao falar do estradiol.
Esse avanço todo permite que as mulheres, hoje, possam usar a pílula anticoncepcional até os 50 anos ou até um pouco mais, com tranquilidade. O receio que havia era em relação aos impactos nos fatores de coagulação, o que poderia elevar o risco de tromboembolismo (um efeito muito raro, mas que causa apreensão). Maria Celeste informa que novos produtos têm sido muito mais escrutinados. De qualquer forma, a indicação é restrita a mulheres que sejam saudáveis e que não fumam.
Assista à conversa na íntegra: