Redação Publicado em 24/03/2021, às 18h20
A atriz Samara Felippo participou de um dos debates da campanha “Supere a Depressão Pré e Pós-parto” do VivaBem (UOL) nesta terça-feira (23). No bate papo mediado pelo psiquiatra Jairo Bouer, ela contou sobre como enfrentou a depressão pós-parto e alertou sobre a importância de discutir sobre o problema que, muitas vezes, ainda é pouco falado.
O encontro também contou com a participação da ginecologista e obstetra Larissa Cassiano e da psicóloga clínica Danielle Braga, que trouxeram diversos pontos importantes como sintomas da depressão pós-parto, a influência da pandemia nessa questão, importância da rede de apoio, entre outros assuntos.
Esse é um problema extremamente comum e que afeta milhares de mulheres ao redor do mundo. Segundo dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), de 10 a 20% das mulheres irão enfrentar alguma dificuldade nesse campo durante a gestação ou no pós-parto. Outra pesquisa recente da Fiocruz diz que esse número é ainda maior, revelando que uma em cada quatro mulheres podem apresentar depressão após o nascimento do bebê.
Teoricamente, a condição pode afetar qualquer tipo de mulher. Entretanto, aquelas que vivem com maior vulnerabilidade social e econômica são ainda mais propensas a desenvolverem o problema.
A depressão pós-parto está diretamente ligada às questões emocionais, mas também pode ser associada a uma série de questões psicológicas, sociais, culturais, além da existência de predisposição genética e história pessoal.
Entre os sintomas que sinalizam o problema estão a tristeza, o desânimo, falta de motivação, irritação, sensação de que “não vai dar conta do recado”, não será uma boa mãe, não conseguirá amamentar ou dar uma atenção adequada ao bebê. Tudo isso acaba trazendo um estresse a mais para as mulheres nessa fase da vida.
Samara Felippo fez um relato emocionante sobre sua vivência com a depressão pós-parto. A atriz se separou quando a segunda filha tinha apenas 20 dias, era o auge do puerpério e sua outra filha de quatro anos também demandava atenção. A união de todo esse contexto acabou levando a atriz a um quadro depressivo.
“Eu parei de produzir leite, obviamente pelo meu emocional. Comecei a me culpar por não estar conseguindo amamentar minha filha. Eu tentei fazer de tudo e mais um pouco para conseguir produzir leite desesperadamente, mas nada adiantou. Amamentei apenas um mês e me senti extremamente culpada por isso”, contou.
Samara disse ainda que sentia muito desânimo nesse período, tinha crises de choro ao longo do dia, não queria ver a família e acabou se afastando da filha mais velha: “Eu não conseguia dar atenção a ela porque a minha fixação para amamentar era tão grande, eu tinha romantizado tanto esse momento, que fui me afundando em um buraco”.
Durante a conversa, os convidados comentaram como a gestação leva a vários gatilhos, já que, durante esse período, a mulher acaba criando inúmeras expectativas - menino ou menina, preocupação com o crescimento do bebê, ansiedade para o parto - e é difícil entender que nem tudo é possível e está sob seu controle. No caso da amamentação, por exemplo, existe a ideia de que é algo automático e todo mundo conseguirá fazer com facilidade, mas nem sempre é assim.
A crença de que é preciso ser uma “supermãe”, dar “conta do recado” sozinha é o que, provavelmente, prolonga ainda mais o sofrimento de muitas mulheres em situação de depressão pós-parto.
A maternidade é idealizada e é imposta uma regra de que, ao ter um bebê, este precisa ser necessariamente o melhor momento da vida da mulher. Essa pressão social e o sentimento de culpa que tudo isso gera causa um estresse adicinal e dificulta o acesso delas aos serviços de saúde porque, de alguma forma, acabam com vergonha de pedir ajuda e compartilhar dificuldades.
De acordo com a ginecologista e obstetra Larissa Cassiano, a via de parto em si não influencia diretamente o surgimento da depressão pós-parto, mas a forma como ele acontece e todo o acolhimento que a mulher recebe nesse momento pode afetar negativamente e levar ao quadro depressivo.
A violência obstétrica é maior e mais frequente entre mulheres negras e periféricas, isso porque, em hospitais públicos, gestantes dividem o quarto com outras mulheres, não há nenhuma privacidade na maioria das vezes, a equipe responsável precisa dividir a atenção entre todas as pacientes e, algumas situações acabam fazendo com que a mulher sinta-se constrangida.
Atualmente, há diversos relatos de parto na internet e muitos acabam idealizando o ato de parir. Sendo assim, é importante lembrar que não é porque a mulher precisou passar por cesárea devido a uma complicação clínica ou o bebê nasceu prematuro que ela será menos mãe do que aquela que deu à luz de forma natural.
Ao longo do bate-papo, Samara revelou que, durante a depressão pós-parto, tinha como rede de apoio a sua mãe, mas não a queria por perto, por mais que precisasse. Em seu caso, a idealização de ter um parceiro ao lado, colocando a bebê para arrotar enquanto ela amamentava, por exemplo, não se concretizou e acabou levando a uma frustração e a ideia de “preciso dar conta de tudo sozinha”.
Vale lembrar que a rede de apoio não é apenas o companheiro/companheira ou a família, é qualquer pessoa que estende a mão e se mostra disposta a escutar, como um grupo de apoio. Até porque, dentro da própria casa, muitas mulheres sofrem com julgamentos e não recebem a ajuda necessária.
Segundo a psicóloga Danielle Braga, o nascimento de um bebê também traz um luto sobre todas as idealizações das mulheres em relação a ser “uma mãe perfeita” ou “mãe de revista”, mas a realidade é totalmente diferente. A mulher precisa buscar ser a mãe possível e o melhor que ela possa ser.
Portanto, contar com a rede de apoio é importante para que a mulher perceba a realidade na qual está inserida e as pessoas que convivem com ela, se conseguirem identificar sinais o quanto antes e incentivá-la a buscar ajuda, maiores são as chances de diminuir os possíveis impactos da depressão em sua vida.
A Associação de Psiquiatria Americana diz que até 50% dos casos de depressão pós-parto começaram durante a gestação e, até mesmo, no começo da gravidez. Esses sinais, se não percebidos nem pela mulher ou valorizados pela família, são altas as possibilidades altas de levar a uma depressão pós-parto.
Realmente, a pandemia deixou tudo mais difícil, visto que os hospitais precisaram alterar os protocolos de segurança como forma de evitar ao máximo o contágio da Covid-19. Entretanto, muitas gestantes apresentam dificuldade em lidar com essa situação, algumas idealizam um fotógrafo no quarto, por exemplo, ou ter a família inteira acompanhando de perto ou, ainda, precisam manter o bebê afastados dos avós.
Essa nova realidade de chegar em casa com o bebê, não ter uma rede de apoio presencial e o contato ser feito, na grande maioria das vezes, por videochamada, pode ser um gatilho e acabar desencadeando um quadro depressivo.
Sendo assim, mesmo de longe, é preciso manter-se atento aos sinais. É importante que as mulheres tentem voltar-se para si, reconhecer que precisam de ajuda e se acolher. Uma vez compreendidos os sintomas, é mais fácil revelar a vulnerabilidade e reduzir as chances de prolongar a depressão.
A presença do parceiro - ou parceira - tanto no processo da gravidez, como no parto, é super importante. Existem estatísticas que comprovam que a mulher pode reduzir o estresse de 15% a 30% só por ter a presença de um companheiro, dependendo do caso.
A presença do pai, atualmente, está sendo discutida de uma forma mais responsável. A mulher fica grávida e fará todo o processo de parto, mas o parceiro também está grávido, não fisiologicamente falando, mas faz parte daquele momento da mesma forma.
Há algumas fantasias de que só a mãe conseguirá cuidar do bebê. A mulher tem o papel fundamental de dar à luz e amamentar, mas todas as outras funções podem ser compartilhadas com o pai. Assim como a mãe, ele tem um colo, aconchego e carinho.
É fundamental entender que o homem não é apenas um figurante, o filho também é dele e a responsabilidade pela formação da criança é de ambos. Desde o início da gestação, o ideal é o parceiro - ou parceira - participar do pré-natal e envolver-se na preparação para a chegada daquele bebê.