Doutor Jairo
Testeira
Colunas / Consultório LGBTQIA+ » LGBTQIA+

Antidepressivos e libido: medicamentos podem atrapalhar a vida sexual?

A população LGBTQIA+ apresenta maior chance de desenvolver transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade - iStock
A população LGBTQIA+ apresenta maior chance de desenvolver transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade - iStock

Bruno Branquinho Publicado em 12/07/2021, às 11h47

No consultório e no instagram recebo muitas queixas de pessoas LGBTQIA+ dizendo que o uso de antidepressivos está atrapalhando a sua vida sexual. Por isso, resolvi fazer esse texto para falar sobre quais são realmente os efeitos colaterais sexuais relacionados ao uso dessas medicações e o que se pode fazer a respeito disso.

Mas, antes disso, a pergunta: por que essas pessoas estão usando antidepressivos?

A população LGBTQIA+, em função de suas repetidas experiências de menos direitos, violências e preconceitos ao longo da vida, apresenta maior chance de desenvolver alguns transtornos psiquiátricos, como depressão e transtornos de ansiedade. 

Quando a gente pensa no tratamento psiquiátrico desses transtornos, a principal classe de medicamentos utilizada é dos antidepressivos. Então, não surpreende que muitas pessoas LGBTQIA+ que me procuraram estejam usando essas medicações.

A grande questão é que toda medicação pode ter efeitos colaterais e, no caso dos antidepressivos, eles podem afetar a vida sexual. É importante ressaltar que o fato de poder ter efeitos colaterais não quer dizer que, necessariamente, eles vão existir. Isso depende de cada organismo e da dose da medicação utilizada. 

Confira:

Outro ponto importante de se destacar é que quadros depressivos e ansiosos também podem levar a queixas sexuais, como queda da libido e problemas na ereção, então é preciso uma avaliação com o psiquiatra para verificar exatamente o que está acontecendo.

Afinal, que tipo de efeitos colaterais sexuais podem acontecer em decorrência do uso de antidepressivos?

Apesar de esses serem os mais comuns, há uma infinidade de outros efeitos colaterais sexuais secundários ao uso de antidepressivos relatados, como o priapismo, o vaginismo, mudanças na lubrificação genital, ejaculação retrógrada, entre outros.

O que se pode fazer?

Há algumas estratégias que podem ser adotadas para melhorar as queixas apresentadas pelo paciente. Cada caso é um caso e a escolha do que fazer deve ser feita após análise e discussão entre psiquiatra e paciente.

A primeira possibilidade é esperar. Algumas vezes os efeitos colaterais sexuais podem ser mais intensos no começo do tratamento e diminuírem com o passar do tempo até, eventualmente, não incomodarem ou mesmo sumirem.

Outra opção é a troca do antidepressivo na tentativa de uma boa resposta terapêutica sem esse tipo de efeito colateral. Há alguns antidepressivos que têm menor chance de gerar essas queixas, como é o caso da bupropiona, a trazodona e a mirtazapina.

A depender do caso, também pode-se optar por reduzir a dose do medicamento. Muitas vezes, doses menores da substância podem fazer com que os efeitos colaterais sejam menos intensos ou desapareçam.

E uma última opção seria a associação de medicações para “combater” os efeitos colaterais indesejados. Como exemplos, há medicações que auxiliam no aumento da libido (trazodona, por exemplo) ou na manutenção da ereção (sildenafila, tadalafila...) que podem ser utilizadas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes enquanto estão em tratamento com antidepressivos.

Tabu da sexualidade e saúde mental 

A sexualidade e a saúde mental são dois tabus em nossa sociedade e é importante que esses assuntos sejam discutidos para que as pessoas não precisem enfrentar questões relacionadas a isso sem a ajuda necessária. 

É comum que pacientes não se queixem de problemas na esfera sexual por não se sentirem à vontade durante a consulta, então é tarefa do médico criar um ambiente acolhedor e incluir em sua anamnese perguntas sobre sexo e sexualidade. A melhor forma de garantir um bom resultado em qualquer tratamento médico é que haja uma relação de confiança e diálogo entre o médico e seu paciente.