Quando as pessoas chamam esses jovens da maneira que eles preferem ser chamados, o risco de depressão e suicídio despenca
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h52 - Atualizado às 23h53
Imagine o que é ter sido tratado a vida inteira como uma pessoa diferente da que você é. E agora imagine que, de repente, as pessoas finalmente comecem a te chamar pelo seu nome. É um alívio, não é? Pois é mais ou menos assim que se sente um transgênero, indivíduo que não se identifica com seu sexo biológico. Quase sempre essas pessoas escolhem um nome, ou apelido, diferente do que aparece na certidão de nascimento.
Um estudo com adolescentes transgênero de 15 a 21 anos mostra que quando esse nome é aceito por quem convive com eles, seja em casa, na escola ou no trabalho, a propensão desses jovens à depressão e ao suicídio cai drasticamente.
O trabalho foi realizado por uma equipe da Universidade do Texas, em Austin, nos Estados Unidos, e contou com 129 participantes. Apesar de o número parecer pequeno, este é considerado um dos maiores estudos já feitos com jovens transgênero. Estima-se que eles representam cerca de 1% da população.
Os pesquisadores compararam os indivíduos que eram chamados pelo nome que escolheram e os que continuavam a ser tratados pelo nome atribuído após o nascimento. A diferença foi clara: o primeiro grupo relatou 71% menos sintomas de depressão severa, 34% menos pensamentos sobre suicídio e 65% menos tentativas de suicídio.
Os resultados, publicados no Journal of Adolescent Health, ainda mostram que quanto maior o número de contextos em que o jovem é chamado da forma preferida, mais forte era sua saúde mental, mesmo quando outros fatores que aumentariam os riscos foram isolados.
Estudos anteriores conduzidos por essa mesma equipe, liderada pelo pesquisador Stephen Russell, já haviam mostrado que um a cada três jovens transgênero consideram, ou já consideraram, suicídio. Agora está claro que o antídoto para o sofrimento pode ser muito simples. Mas depende dos outros.