Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h49 - Atualizado às 23h53
Adolescentes que têm o costume de se cortar, arranhar ou queimar têm sido uma preocupação crescente entre pais e profissionais de saúde, já que diversos estudos apontam a conexão entre automutilação e tentativas de suicídio. Agora, pesquisadores norte-americanos alertam para uma nova modalidade de comportamento autodestrutivo: o digital. Muitos jovens têm criado perfis anônimos e postado ofensas contra si mesmo na internet numa tentativa de pedir socorro.
Um dos primeiros casos de “autocyberbullying” a ganhar destaque na imprensa internacional foi o de uma jovem inglesa chamada Hannah Smith, que se matou em 2013, após supostamente ter sido alvo de ofensas numa rede social. A polícia acabou descobrindo que ela própria tinha sido a autora dos posts interpretados como a causa do suicídio. A família contou, no entanto, que ela já tinha sido agredida fisicamente antes de tudo acontecer.
Oss pesquisadores Sameer Hinduja, da Universidade Florida Atlantic, e Justin Patchin, da Universidade de Wisconsin-Eau Claire, que estudam cyberbulling há bastante tempo, decidiram investigar melhor o fenômeno. Para isso, eles usaram uma uma amostra representativa de 5.593 alunos de 12 a 17 anos de idade que estudam nos Estados Unidos e responderam a questões abertas sobre o tema.
A conclusão surpreendeu os pesquisadores: cerca de 1 em 20 estudantes admitiram ter postado conteúdo ofensivo contra si próprio em redes sociais. O comportamento foi mais comum entre os garotos (7%) do que entre as garotas (5%). Desse total, metade disse ter feito isso só uma vez, mas 13% dos participantes assumiram ter agido dessa forma diversas vezes. Os resultados foram publicados recentemente no periódico Journal of Adolescent Health.
As razões apresentadas pelos jovens variaram bastante. Enquanto muitos meninos admitiram ter cometido o ato apenas por brincadeira, ou para chamar atenção, a maior parte das garotas alegou ter feito isso porque estava se sentindo deprimida ou magoada, o que é preocupante. Os dados qualitativos da pesquisa mostraram que o objetivo dos adolescentes era obter algum tipo de resposta ou reação dos amigos.
Os adolescentes identificados como não heterossexuais foram 12 vezes mais propensos a cometer o autocyberbullying. Jovens que já se envolveram em episódios de automutilação, que já usaram drogas e apresentavam sintomas depressivos também tiveram uma tendência maior ao comportamento.
Os autores do estudo esperam que mais pesquisas sejam feitas sobre o tema. Por mais desconcertante que pareça, talvez seja preciso levar em consideração que, em certos casos de cyberbullying, o agressor e o alvo podem ser a mesma pessoa. E o que é mais importante: muitos dos adolescentes envolvidos nesse tipo de comportamento realmente precisam de ajuda.