Cochilar depois do almoço pode melhorar desempenho na escola

Até uma hora de sono no meio do dia beneficia o aprendizado e a memória, segundo estudo com jovens chineses

Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h53 - Atualizado às 23h53

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Crédito: Fotolia

Tirar um cochilo depois do almoço não é um hábito comum no Brasil. A tendência, aliás, é bem diferente: as pessoas têm tido cada vez menos tempo para fazer essa refeição. Mas um estudo chama atenção para o potencial benefício das sonecas no meio do dia para a capacidade de aprendizado e memória dos adolescentes. Em outras palavras, a prática pode ser sinônimo de melhor desempenho na escola.

A pesquisa, financiada pelos Institutos Nacionais de Saúde, nos Estados Unidos, foi coordenada pela pesquisadoras Jianghong Liu, da Universidade da Pensilvânia, e Xiaopeng Ji, da Universidade de Delaware. Como nos EUA o descanso após o almoço é ainda menos comum que no Brasil, elas fizeram um experimento com 363 estudantes do distrito de Jitan, na China, com 12 anos de idade, em média. Lá, as sonecas depois da refeição fazem parte da rotina nas escolas e nos ambientes de trabalho, assim como as tradicionais “siestas” dos espanhóis. Além disso, era importante analisar os efeitos da prática como rotina – levar gente para o laboratório poderia distorcer os resultados.

Sabe-se que todos os adolescentes enfrentam uma alteração no seu ciclo de sono e vigília, chamado de circadiano: a vontade de dormir e de acordar atrasa em mais ou menos duas horas nessa fase, em comparação com o ciclo de crianças mais novas ou adultos. Vários estudos inclusive já mostraram que os jovens poderiam ter um desempenho muito melhor na escola se as aulas começassem um pouco mais tarde. Mas implementar esse tipo de mudança não é tão fácil.

No final das contas, o que acontece é que os adolescentes dormem tarde e acordam cedo. Para piorar tudo, a luz emitida por tablets e smartphones, bem como a excitação provocada por videogames e redes sociais, piora – e muito – a qualidade do sono desses garotos e garotas. Resultado? Uma privação crônica, que afeta o cérebro e faz com que prestar atenção na aula e memorizar as matérias seja quase impossível.

De acordo com as pesquisadoras, os adolescentes (e muitos adultos, também) têm facilidade para pegar no sono entre meio-dia e 2 da tarde. Mas, em geral, o estímulo é cortado por aulas à tarde ou programas extracurriculares. Para pais e mães que trabalham, levar o filho para almoçar e descansar em casa, para depois seguir a rotina à tarde, é quase sempre inviável.

Muita gente também teme que deixar o jovem dormir depois do almoço pode atrasar o sono ainda mais à noite. Mas não é isso que as pesquisadoras constataram: os estudantes com hábito frequente de cochilar no meio do dia eram os que dormiam melhor.  Mas  o ideal é que a soneca seja de meia hora ou, no máximo, de até uma hora. Mais do que isso pode atrapalhar o ciclo circadiano. Outro detalhe é o horário: se for feita após as 4 da tarde, atrapalha o sono noturno.

Muitos trabalhos já comprovaram os benefícios da “siesta” para o rendimento de adultos no trabalho, mas havia poucos com adolescentes. Também por causa isso, as autoras do estudo destacam que ainda é preciso estudar melhor a relação entre o cochilo e a melhora no aprendizado entre os jovens, envolvendo diferentes culturas.  De qualquer forma, se dormir o suficiente é importante para todo mundo, para eles é ainda mais. A privação crônica de sono pode deflagrar até quadros de ansiedade e depressão, o que é perigoso nessa fase que já costuma ser complicada por natureza.

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