Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h55 - Atualizado às 23h53
Você já ouviu falar em transtorno dismórfico corporal? Possivelmente não. Mas jé deve ter reparado em algum conhecido ou celebridade que se acha gorda apesar de ser magérrima, que vive fazendo procedimentos estéticos até ficar com o rosto estranho, ou que não consegue pensar em outra coisa senão no volume dos músculos. Essa preocupação excessiva em alguma suposta falha na aparência é comum, e pode se transformar num problema sério de saúde física e mental.
Segundo pesquisadores, as redes sociais e o acesso a ferramentas que permitem a edição de imagens até a perfeição, antes restritas a revistas, pode estar deflagrando novos casos desse transtorno. À medida em que as pessoas publicam versões melhoradas de si mesmas o tempo todo, indivíduos com propensão a problemas de autoimagem passam a ficar cada vez mais insatisfeitos com o que veem no espelho.
O transtorno, que tem uma prevalência de 2% da população e faz parte do espectro obsessivo-compulsivo, pode ser associado a outros, mais conhecidos, como a anorexia e a vigorexia. Mas há manifestações menos conhecidas, ou identificadas como doenças, como é o caso da dermatilomania, a compulsão a cutucar espinhas, cutículas, pelinhas em volta das unhas ou qualquer casquinha que se forma no corpo, a ponto de causar infecções e deformações na pele.
Pesquisadores da escola de medicina da Univerisdade de Boston falam, ainda, em um fenômeno que foi batizado como “dismorfia do Snapchat” – muitos jovens têm procurado a cirurgia plástica para fazer alterações no corpo com base nas modificações que conseguem fazer com as ferramentas de edição de imagem dos celulares e redes sociais.
A equipe usa como referência estudos segundo os quais 55% dos cirurgiões plásticos relatam ter recebido pacientes que querem melhorar sua aparência em selfies. O problema é que na esmagadora maioria das vezes, os procedimentos não são indicados nesses casos, porque a insatisfação não tem fim. O que muitas dessas pessoas precisam é de terapia, comenta os autores, no trabalho publicado na revista Jama.
Muitos pais entendem que um procedimento estético pode melhorar a autoestima dos adolescentes, e acabam aceitando pagar pelas intervenções. Muitas vezes eles próprios estão numa fase de se preocupar com rugas e fazer tratamentos, e acham natural que os filhos também queiram melhorar a aparência. Mas é importante que eles tenham conhecimento sobre o transtorno dismórfico e ajudem os jovens a entender que, sem filtro e sem maquiagem, ninguém é perfeito.