Estudo indica que ambas as condições envolvem anormalidades nas regiões ligadas às sensações de prazer e recompensa
Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h53 - Atualizado às 23h53
Muita gente se sente deprimida porque não consegue vencer a obesidade. Por outro lado, a depressão também pode deflagrar o ganho de peso em alguns indivíduos. Mas será que esses dois problemas de saúde podem ter uma origem em comum? Alguns pesquisadores sugerem que sim.
Um estudo recém-publicado por uma equipe de médicos da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, indica que tanto a obesidade infantil quanto a depressão são deflagradas por anormalidades nas regiões do cérebro ligadas ao sistema de recompensa. São esses circuitos que fazem as pessoas se sentirem satisfeitas depois de comer um ou dois pedaços de bolo, por exemplo, ou sentirem prazer num passeio ou conversa com os amigos.
As descobertas, publicadas no periódico Hormones and Behavior, foram baseadas em análises de exames de ressonância magnética cerebral de crianças e adolescentes de 9 a 17 anos de idade. Os 42 participantes tinham enfrentado sintomas depressivos e também dificuldades para manter um peso saudável. O experimento partiu de evidências anteriores que ligavam essas alterações à depressão e à obesidade isoladamente.
Os pesquisadores perceberam que os jovens com ambas as condições apresentam volume reduzido em duas áreas do cérebro envolvidas nas sensações de recompensa – o hipocampo e o córtex cingulado anterior. Essas alterações, segundo os autores do trabalho, também foram associadas ao nível de resistência à insulina apresentada pelos pacientes. Pessoas com esse quadro, um fator de risco para o diabetes e a obesidade, precisam liberar mais hormônio para metabolizar o açúcar do sangue.
Para a equipe, coordenada pelo professor de psiquiatria Manpreet Singh, os dados são um argumento a mais para que as crianças e suas famílias entendam que não se trata de falta de força de vontade. Isso ajuda a combater o estigma que envolve a depressão e o sobrepeso e funciona como estímulo para que as pessoas busquem ajuda para solucioná-los.
Os autores ainda acrescentam que essas mesmas áreas do cérebro estão ligadas a processos neurodegenerativos, nos idosos, o que reforça a necessidade de que outras pesquisas, como essa, identifiquem quando a vulnerabilidade começa. Quando a depressão e a obesidade têm início da infância, é comum que ambos os problemas persistam ao longo da vida. Mas, assim como uma condição pode exacerbar a outra, o tratamento da primeira pode ter impacto importante para a segunda e vice-versa.