OMS inclui compulsão sexual em lista de transtornos; o que isso significa?

Transtorno do comportamento sexual compulsivo foi adicionado como transtorno do impulso na nova versão do CID

Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h54 - Atualizado às 23h53

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Crédito: Fotolia

A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou no mês passado sua nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, o CID-11, e algumas novidades ganharam destaque na imprensa, como a inclusão do “transtorno do comportamento sexual compulsivo”.

A nova versão só vai ser apresentada no ano que vem, e, na prática, não traz grandes mudanças para os pacientes. Mas as atualizações refletem mudanças de conceitos, e isso sim pode trazer benefícios para as pessoas com o tempo. Uma das novidades do CID-11 é a criação de um capítulo sobre saúde sexual. Entra aí, por exemplo, a incongruência de gênero, que antes era considerado um problema de saúde mental. O objetivo da OMS foi diminuir o estigma enfrentado por quem não se identifica com seu sexo biológico.

Mas o transtorno do comportamento sexual compulsivo não entra na nova categoria. Ele foi adicionado como um transtorno do impulso, da mesma forma que a cleptomania ou a compulsão por jogos de azar. A dependência por jogos eletrônicos, por sinal, foi incluída nesse capítulo também.

Muitos especialistas discordam das novas classificações, por motivos variados. Mas o objetivo da OMS é ajudar centenas de pessoas que têm prejuízos sérios na vida por causa desses comportamentos compulsivos e não buscam auxílio pelo receio de serem estigmatizados.

A compulsão por sexo, de acordo com a classificação, é caracterizada por um padrão persistente de falha para controlar impulsos sexuais repetitivos e intensos, por no mínimo seis meses. A busca constante por atividade sexual tem um foco central na vida dessas pessoas, a ponto de negligenciarem a própria saúde e integridade, outros interesses e responsabilidades, o que resulta em enorme prejuízo para a vida pessoal, profissional, familiar e afetiva. Essas pessoas fazem um esforço enorme para mudar, mas não conseguem, o que só aumenta o sofrimento. No fim das contas, o sexo traz pouco ou mesmo nenhuma satisfação.

Em português claro, um indivíduo com o transtorno não consegue ter uma vida normal e produtiva, muito menos se manter num relacionamento. É bem diferente de pessoas que aproveitam seu tempo livre para ir atrás de aventuras sexuais, simplesmente porque isso lhes dá prazer ou emoção. Em outras palavras, o transtorno não pode ser usado como desculpa para qualquer caso de infidelidade.

O CID considera as parafilias um critério de exclusão para o transtorno de compulsão sexual. Ou seja: pedófilos e pessoas que sentem desejo de se masturbar na frente de outras sem o consentimento delas, por exemplo, entrariam em outra categoria de transtorno mental.

Vale lembrar que o transtorno bipolar e o uso de certas substâncias, como cocaína e ecstasy, também podem provocar interesse aumentado em sexo ou um comportamento de desinibição sexual temporário, e aí o diagnóstico seria outro. Algumas demências ainda podem ter a hipersexualidade como sintoma, e até certos medicamentos, como os utilizados no mal de Parkinson, poderiam ter impacto nos impulsos, de acordo com estudos recentes.

Para quem é dependente de álcool, drogas ou apostas, a abstinência é indicada. No caso do sexo, isso está fora de cogitação. O tratamento envolve psicoterapia e, eventualmente, o uso de certos medicamentos. Grupos de autoajuda também podem ser úteis. Mas é importante lembrar que não existe nenhuma droga ou terapia específica para esse fim.

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