Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h51 - Atualizado às 23h53
Estudantes universitários estão mais preocupados em ter o corpo e a mente perfeitos e uma carreira brilhante, hoje em dia, do que os de gerações anteriores, e isso pode ter um impacto significativo na saúde mental dos jovens, segundo uma pesquisa recém-publicada pela Associação Americana de Psicologia, nos Estados Unidos.
De acordo com a entidade, este é o primeiro estudo a analisar como o perfeccionismo tem se modificado ao longo das gerações. O trabalho, conduzido por pesquisadores das universidades de Bath e York St John, no Reino Unido, contou com dados de 41.641 universitários norte-americanos, canadenses e britânicos, desde o final da década de 1980 até 2016.
Os autores, os pesquisadores Thomas Curran e Andrew Hill, mediram três tipos de perfeccionismo: o “auto-orientado”, ou seja, o desejo irracional de ser perfeito; o “socialmente direcionado”, que é a percepção de que os outros esperam que você seja perfeito; e o “orientado para os outros”, quando as expectativas são depositadas em outras pessoas.
A análise, publicada na revista Psychological Bulletin, indica que a pontuação aumentou significativamente entre as gerações mais recentes. Entre 1989 e 2016, o escore do perfeccionismo auto-orientado aumentou 10%; o do socialmente direcionado, 33%; e o orientado para os outros, 16%.
Os dados indicam que a pressão exercida pelas mídias sociais é um fator importante para essa mudança. A comparação constante com os outros faria jovens adultos sentirem essa necessidade maior de se aperfeiçoar, aumentaria a insatisfação com o próprio corpo e também o isolamento social. Mas os autores esclarecem que são necessários mais estudos para comprovar essa relação de causa e efeito. O desejo de ganhar dinheiro, ter boa educação e objetivos ambiciosos em relação à carreira são outros pontos que refletem o perfeccionismo atual.
Os autores também notaram que hoje os universitários se preocupam mais em ter notas altas e compará-las com as de seus colegas. Isso indica que a meritocracia e a competição entre os estudantes têm sido estimuladas pelas faculdades. O problema é que as metas impostas aos alunos, ou até autoimpostas, muitas vezes são irrealistas. E isso pode, em parte, explicar por que os níveis de depressão, ansiedade e pensamentos suicidas também estejam mais altos entre os jovens da geração atual.