Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h50 - Atualizado às 23h53
Adolescentes sempre reclamam que os pais pegam muito no pé. Mas tudo indica que pais presentes, que impõem regras e estão sempre de olho no que os filhos estão fazendo tendem a enfrentar menos problemas com eles em relação a abuso de álcool e outras drogas.
A conclusão não é minha! É de um estudo conduzido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que contou com dados de 6.381 alunos de escolas públicas de 11 a 15 anos de seis cidades diferentes. Os participantes responderam a questionários de forma anônima, e sem a presença da professora na classe.
Apesar da pouca idade, 16,6% dos estudantes declararam beber com frequência ou de forma pesada (no mínimno quatro, para as garotas, ou cinco doses de bebida, para os garotos, em uma única ocasião). O uso de álcool junto com outras substâncias, como cigarro, maconha, cocaína, crack ou inalantes, foi citado por 1,8% dos alunos.
A partir das respostas dos garotos, os pesquisadores puderam avaliar o comportamento dos pais. Eles foram classificados como “autoritários” (aqueles que exigem muito, mas são pouco sensíveis às necessidades dos filhos e pouco abertos ao diálogos), “autoritativos” (aqueles que exigem, mas são participativos e afetuosos), “permissivos” (afetuosos e sensíveis, mas que evitam cobrar ou controlar os filhos) e “negligentes” (que não cobram e nem são sensíveis às necessidades dos filhos).
Os resultados indicaram que o estilo autoritativo foi o que trouxe maior fator de proteção para os jovens. No outro extremo ficaram os negligentes, o que não é nenhuma surpresa. O segundo lugar ficou com os autoritários e o terceiro com os permissivos. Alguns estudos já indicaram que o estilo autoritário dos pais até seria um fator de risco para o uso de drogas entre os filhos, o que não foi o caso deste. De qualquer forma, estar presente e impor limites foram as qualidades que fizeram diferença para evitar o uso abusivo de substâncias entre os adolescentes, segundo os pesquisadores.
Um dado que chama a atenção é que os estudantes com maior propensão ao uso abusivo de álcool e de outras drogas foram justamente os das classes mais favorecidas. O resultado contrasta com o de estudos europeus e norte-americanos, em que a pobreza aparece como fator de risco importante para o uso de drogas.
O trabalho foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e publicado na revista Drug and Alcohol Dependence. O recado dos autores é que os programas de prevenção deveriam não só envolver os alunos, mas também os pais.