Novos medicamentos para perda de peso, como a semaglutida, têm chamado muita atenção, mas nem sempre são fáceis de obter, especialmente para os jovens. Assim, adolescentes que navegam no TikTok frequentemente veem outras opções que não exigem receita médica e saem em busca de experimentações. Não é raro encontrar expressões como “Ozempic natural” para certos suplementos, ou mesmo influenciadores que indicam o uso de laxantes ou diuréticos para estimular a perda de medidas.
Cerca de 1 em cada 10 adolescentes ao redor do mundo já utilizaram produtos para perda de peso sem prescrição em algum momento de suas vidas, de acordo com uma pesquisa publicada recentemente no periódico JAMA Network Open. Segundo os autores, o uso desses produtos em uma idade jovem pode representar riscos tanto imediatos quanto a longo prazo para a saúde.
Pílulas dietéticas, laxantes e diuréticos foram os produtos sem prescrição mais frequentemente utilizados, de acordo com o estudo. E as meninas são significativamente mais propensas do que os meninos a procurá-los: quase 1 em cada 10 jovens do sexo feminino entrevistadas tinha usado um produto para perda de peso não apenas durante a vida, mas também no último ano.
Os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática de 90 estudos, incluindo mais de 600 mil participantes com menos de 18 anos de idade. Mais da metade dos estudos era baseada na América do Norte, mas pesquisas da Ásia, Europa e outras regiões também foram incluídas.
Entre os jovens globalmente, os pesquisadores calcularam que 2% tinham utilizado esses produtos na última semana, 4,4% no último mês, 6,2% no último ano e 8,9% alguma vez na vida.
Suplementos não são fiscalizados com o mesmo rigor dos medicamentos, e nem sempre é possível confiar no que está na embalagem. A curto prazo, produtos mal regulamentados que atuam como estimulantes podem apresentar riscos cardíacos.
Os especialistas também alertam que, a longo prazo, comportamentos insalubres de controle de peso, incluindo o uso de produtos para perda de peso sem prescrição médica, podem contribuir para o aumento do peso corporal.
O uso desses produtos ainda pode colocar os jovens em risco de desenvolver distúrbios alimentares, como anorexia, bulimia ou vigorexia. E estudos também descobriram que o uso desses produtos está associado a baixa autoestima, depressão e uso de substâncias.
O trabalho também aponta que tratamentos médicos baseados em evidências para a obesidade são necessários para manter as crianças afastadas dessas opções sem prescrição. No ano passado, a Academia Americana de Pediatria lançou diretrizes clínicas para tratar a obesidade, que se concentravam principalmente em abordagens de comportamento e estilo de vida. No entanto, mesmo nos EUA são poucos os jovens que têm acesso a esses tratamentos.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin