Médico da Mayo Clinic conta o que funciona para evitar ou tratar o desgaste nas cartilagens
Tatiana Pronin Publicado em 21/10/2022, às 10h00
A osteoartrite (também chamada de osteoartrose ou artrose) é o nome que se dá ao processo de degeneração que afeta as cartilagens – estruturas essenciais para o bom funcionamento de articulações como ombros, joelhos e quadril. Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a condição é responsável por 7,5% de todos os afastamentos do trabalho, no Brasil.
Antes de mais nada, é importante fazer uma distinção: a artrose é uma das causas mais comuns de artrite (termo usado para designar qualquer inflamação na articulação). Porém, a artrose é uma condição muito diferente da artrite reumatoide, uma doença cuja inflamação se desenvolve por alterações no sistema imunológico, e não pelo desgaste da cartilagem.
O cirurgião ortopedista Joaquin Sanchez-Sotelo, da Mayo Clinic nos EUA, explica que as cartilagens fazem com que os ossos das articulações deslizem uns sobre os outros feito cubos de gelo, ou seja, sem atrito. Quando essas estruturas se desgastam, o corpo começa a formar esporões ósseos e, em determinado momento, a movimentação começa a causar dores, que podem se tornar incapacitantes ao longo do tempo.
Embora o desgaste das cartilagens seja comum com o envelhecimento, nem todo idoso irá sofrer com a artrose. E mais: embora seja mais comum a partir dos 60 anos, há quem desenvolva o problema aos 40 anos, a ponto de precisar se submeter a uma cirurgia de prótese. Sanchez-Sotelo explica que os pacientes podem ser divididos em três categorias:
- as que nascem com algum tipo de deformidade na articulação que a torna mais propensa a degenerar
- as que sofrem algum tipo de lesão ou fratura na articulação, decorrente de quedas ou acidentes, e então passam a sofrer com a artrose
- as que não têm histórico de lesões, mas possuem cartilagens mais propensas à degeneração, por uma disposição genética. É a chamada artrose degenerativa idiopática.
Em um webinário realizado esta semana, o cirurgião esclareceu alguns fatos e mitos comuns sobre a artrose, e deu recomendações gerais para quem deseja manter suas articulações saudáveis por mais tempo. Veja quais são:
O sobrepeso é uma das principais causas de desgaste das articulações, “portanto evitá-lo é parte importante da prevenção”, ressalta o cirurgião da Mayo Clinic. Esse fator de risco explica por que as cirurgias em decorrência da artrose são mais comum nos joelhos, em primeiro lugar, e depois, no quadril – essas são as articulações que mais sofrem quando há sobrepeso ou obesidade.
Sanchez-Sotelo comenta que existem muitos suplementos comercializados com o objetivo de evitar ou melhorar o desgaste nas articulações, como os de condroitina, glucosamina e colágeno. “Não há evidências convincentes de que funcionem”, avisa. O médico pondera que alguns pacientes relatam melhora na dor ao usar esses produtos, mas sugere que pode se tratar de um efeito placebo. Embora tomar um suplemento de colágeno não vá fazer mal às articulações, as pessoas podem gastar muito dinheiro e não ter o resultado esperado.
O cirurgião da Mayo Clinic diz que não existem alimentos específicos capazes de reverter o processo degenerativo da artrose, embora muito tenha se falado sobre o efeito anti-inflamatório de certas dietas. No entanto, ele avisa que toda dieta para perda de peso é bem-vinda para quem tem o problema, já que diminui a sobrecarga nas articulações.
Em relação a nutrientes específicos, ele observa que é importante garantir o aporte adequado de cálcio e de vitamina D, para conservar a massa óssea. Ele lembra que a osteoporose, comum principalmente nas mulheres após a menopausa, pode aumentar o risco de fraturas que terão impacto significativo nas dores e no processo degenerativo da artrose.
Por fim, ele afirma que o consumo adequado de proteínas é de extrema importância para pacientes submetidos a cirurgias nas articulações. O que nos leva à recomendação abaixo:
Nossas articulações estão mais protegidas quanto mais fortes estiverem os músculos que ficam ao redor delas. Por isso exercícios de força e resistência são fundamentais para evitar lesões e também adiar o desgaste das articulações. Contudo, quem sente dores precisa ser acompanhado por um profissional, como o fisioterapeuta, que saiba quais os melhores movimentos e atividades para fortalecer a musculatura sem sobrecarregar as juntas.
Ficar muito tempo parado prejudica o metabolismo, facilita o ganho de peso e, portanto, pode ser um fator de risco para artrose. Quem sofre com o problema também precisa do movimento, pois costuma ter a chamada “dor de início”, que incomoda depois que a pessoa fica muito tempo na mesma posição. Esse é mais um motivo para buscar orientação adequada ao se exercitar: caminhar demais também pode causar muita dor em quem tem artrose no joelho ou no quadril, por isso é preciso encontrar um equilíbrio.
Sanchez-Sotelo, que atua nos EUA, conta que tem atendido muitos pacientes jovens com artrose devido a esportes de alto impacto como o futebol americano e o crossfit. Além disso, quem exagera no carregamento de peso também pode sofrer mais com a condição, ainda mais se já houver uma predisposição genética. A corrida também não é a melhor atividade para quem tem uma tendência ao quadro – a bicicleta ou atividades na água podem ser mais indicadas.
O médico da Mayo observa que o apoio pode ser útil para reduzir a carga sobre as articulações do quadril, joelho e tornozelo, e diminuir a dor. O uso de adereços como joelheiras também pode transferir a carga para o lado mais saudável da articulação.
Analgésicos como o paracetamol e anti-inflamatórios como aspirina e ibuprofeno não precisam de receita para serem adquiridos, e podem trazer alívio para a dor da artrose. Mas é importante que os usuários se informem sobre as dosagens máximas, e consultem seus médicos, ainda mais se tiverem outras doenças. Em excesso, o paracetamol é tóxico ao fígado, por exemplo. E os anti-inflamatórios podem causar doença renal, úlceras e sangramentos, se houver exagero. Quem utiliza essas drogas com frequência deve fazer exames de rotina.
Quando a dor e a inflamação nas articulações são muito intensas, o médico pode recomendar algumas injeções com corticoide, tratamento conhecido como “infiltração”. Mas esse recurso deve ser utilizado de forma pontual: a longo prazo, o uso excessivo pode prejudicar as articulações, segundo estudos.
Hoje, é frequente a indicação de injeções de substâncias derivadas do ácido hialurônico (viscossuplementação), que podem reduzir bastante a dor e adiar a cirurgia para colocação de prótese. Essas substâncias são parecidas com o líquido sinovial, presente nas articulações, que funciona como uma espécie de lubrificante. Não há efeitos colaterais e o resultado pode durar até um ano. Só médicos habilitados podem aplicar essas injeções – em geral um reumatologista ou ortopedista.
Ao ser questionado sobre alguns tratamentos mais recentes, como o uso de células-tronco e de plasma rico em plaquetas, Sanchez-Sotelo diz que, até o momento, há poucas evidências consistentes de sua eficácia, embora alguns pacientes relatem melhoras. É possível que no futuro haja mais novidades no campo da medicina regenerativa para quem sofre das articulações.
Quando a viscossuplementação, fisioterapia e analgésicos comuns não são mais capazes de aliviar a dor, a cirurgia pode ser necessária. Em alguns casos específicos, ainda pode haver indicação de uma artroscopia (uma cirurgia menos invasiva) para retirada de fragmentos que se desprendem e que podem provocar dor ou dificultar os movimentos. O último recurso é a colocação de prótese, um procedimento que passou por muitos avanços e que hoje pode ser indicada até para idosos. Mas é importante lembrar que as próteses têm uma duração de 15 ou 20 anos, apenas.
Fontes: Mayo Clinic e Sociedade Brasileira de Reumatologia
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