Cármen Guaresemin Publicado em 09/12/2021, às 11h00
O colágeno é a proteína mais abundante do corpo humano, respondendo por cerca de um terço da composição proteica. É um dos principais construtores de fibras de ossos, pele, músculos, tendões e ligamentos. Também é encontrado em muitas outras partes do corpo, incluindo vasos sanguíneos, córneas e dentes.
Você pode pensar nele como a “cola” que mantém todas essas coisas juntas e, na verdade, colágeno vem da palavra grega “kólla”, que significa cola. Conforme você envelhece, seu corpo produz menos colágeno e com qualidade inferior. Um dos sinais visíveis é na pele, que fica menos firme e flexível. A cartilagem também enfraquece com o passar da idade.
Atualmente, há uma série de suplementos (e até cosméticos) que prometem recuperar a proteína, mas eles funcionam de verdade? Algo importante que é preciso entender: estimular é importante, mas também devemos poupar colágeno. A seguir, especialistas tiram dúvidas.
“Na pele o colágeno se organiza na forma de fibras e é sintetizado a partir de células chamadas fibroblastos, localizados principalmente na derme. Essas fibras são responsáveis pela força tênsil da pele (daí o fato de não conseguirmos esticá-la ou rasgá-la, por exemplo). A quantidade de colágeno presente na derme pode variar de acordo com idade, sexo e etnia. Porém, diversos estudos mostram que conforme envelhecemos a síntese de colágeno pelos fibroblastos diminui”, afirma o dermatologista Renato Pazzini.
“Além disso a ação do sol e radicais livres (oriundos principalmente da poluição) a que somos expostos no dia a dia faz com que haja uma quebra dessas fibras colágenas. Por isso pessoas mais velhas costumam ter uma pele mais flácida”, completa.
Portanto, a forma mais inteligente de poupar colágeno também é a mais importante para se prevenir contra o câncer de pele: usar filtro solar. O sol degrada colágeno. “O protetor solar é vital para a prevenção do câncer de pele - mas também para manter a pele jovem, firme e elástica, com o colágeno preservado. Devemos ter o hábito do uso regular do filtro solar: ele é o creme antienvelhecimento mais importante”, explica o dermatologista Daniel Cassiano.
A aplicação inicial é estratégica para o sucesso da fotoproteção; muitos estudos demonstram que uma primeira aplicação correta pode compensar eventuais incorreções na reaplicação. O ideal é um intervalo de 15 minutos entre a aplicação do produto e o início da exposição ao sol. Nesse quesito, ainda é possível potencializar a ação do produto, por meio do uso de antioxidantes. “Eles combatem os radicais livres. Além disso, aplicá-los antes do protetor solar potencializa a defesa da pele. A vitamina C, o ácido ferúlico, a niacinamida e o resveratrol são altamente interessantes para poupar e construir colágeno”, diz Cassiano.
Couro cabeludo e pálpebras, por exemplo, são duas áreas de difícil aplicação do protetor solar, então entra em cena o acessório. Assim, você não deixa tudo a cargo do protetor solar. “Principalmente as pessoas de fototipos mais baixos e peles mais sensíveis, o uso (e abuso) do protetor solar é mais do que recomendável, mas é bom lembrar dos acessórios: óculos, chapéu e roupas com proteção UV. Evite também a exposição solar após às 9 e antes das 16 horas”, explica a dermatologista Paola Pomerantzeff.
Confira:
As fontes alimentares de proteínas como carnes, ovos, laticínios e leguminosas são importantes para fornecer aminoácidos necessários. Também é necessário ter cuidado com dietas muito restritivas: “Além do déficit calórico, o déficit proteico e a pouca ingestão de água são os fatores alimentares que mais rapidamente impactam negativamente as estruturas da pele”, explica a médica nutróloga Marcella Garcez.
Os micronutrientes também são importantes: a vitamina C e o silício, por exemplo, são cofatores para produção de colágeno, então fontes desses nutrientes devem estar na dieta. Outra estratégia é encher o prato com antioxidantes. Eles combaterão os radicais livres que degradam colágeno. Tente encher metade do prato com folhas e vegetais ou aumentar o consumo de frutas.
Existem algumas doenças que também provocam “defeitos na fabricação do colágeno”. Essas patologias podem ser hereditárias, como em algumas síndromes, ou adquiridas. Como foi dito, a vitamina C, ou ácido ascórbico, é um cofator importante para a produção do colágeno, por isso é comum vermos produtos à base dela utilizados como antienvelhecimento.
A nutricionista Adriana Stavro explica que há cerca de 28 tipos de colágeno identificados, porém, o tipo I é o mais comum na pele, ossos, dentes, tendões, ligamentos e órgãos. O colágeno tipo II está presente nas cartilagens. O colágeno tipo III se encontra na pele, músculos e nos vasos sanguíneos, e o colágeno tipo V é um dos principais componentes das superfícies celulares e da placenta.
“Os colágenos são diferentes de acordo com a composição de cadeia, e repetição do aminoácido. Todo o colágeno começa como pró-colágeno, que nosso corpo produz combinando dois aminoácidos - glicina e prolina”, afirma Adriana.
Abaixo, a nutricionista lista os nutrientes que aumentam a produção de colágeno:
Vitamina C: encontrada em frutas cítricas, pimentões e morangos.
Prolina: encontrada na clara do ovo, gérmen de trigo, laticínios, repolho, aspargos e cogumelos.
Glicina: encontrada na gelatina e em alimentos proteicos (carnes, frango).
“Além disso, proteínas de alta qualidade que contenham aminoácidos necessários para formar novas proteínas. Carnes, aves, frutos do mar, laticínios, legumes e tofu são excelentes fontes de aminoácidos”, lista Adriana.
Recentemente é possível notar diversas marcas de colágeno nas prateleiras de farmácias e até lojas de suplemento, prometendo uma pele mais jovem e menos flácida. Mas será que isso é possível?
“A resposta para essa pergunta ainda não foi completamente elucidada pela ciência. O que temos até o momento são estudos pequenos que mostram uma melhora na qualidade da pele, textura e elasticidade. As revisões sistemáticas, que são estudos maiores que reúnem esses pequenos, também mostram que os peptídeos de colágeno e os colágenos hidrolisados melhoram as características morfológicas e estruturais da pele”, esclarece Pazzini.
Ele completa: “Apesar dos resultados até o momento serem positivos, precisamos olhar com cuidado os dados. Esses estudos, em sua maioria, são patrocinados pelas próprias indústrias cosmecêuticas que produzem esses produtos. Além disso, até o momento não há um estudo que compare os produtos com um placebo ou com uma outra fonte proteica qualquer”.
Pazzini explica que ao pensamos em como o processo de digestão ocorre precisamos ter em mente que o colágeno é uma proteína grande, que precisa ser quebrada pelas enzimas para ser absorvida. Assim, aquele colágeno que você toma não necessariamente vai chegar até a pele.
“Quando os pacientes me perguntam se vale a pena tomar suplemento de colágeno, a resposta é: depende. O custo ao longo de um ano de suplementação via oral equivale ao de um bioestimulador injetável de colágeno, que proporciona resultados palpáveis e comprovados pela ciência. Então, se o paciente precisa escolher entre um ou outro, eu sugiro o bioestimulador injetável. Porém, se custo não for um problema, a associação da suplementação de colágeno vira oral ao tratamento pode trazer benefícios”, finaliza Pazzini.
Fontes:
Adriana Stavro é nutricionista, mestre pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) pelo Hospital Israelita Albert Einstein;
Daniel Cassiano é dermatologista, membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica. Cofundador da clínica GRU Saúde;
Marcella Garcez é médica nutróloga, mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Abran e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da Abran.
Paola Pomerantzeff é dermatologista, membro da SBD e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD);
Renato Pazzini é dermatologista dos Hospitais Albert Einstein e Oswaldo Cruz, Membro da SBD e preceptor da residência em Dermatologia na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS/RS).
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