Tatiana Pronin Publicado em 16/04/2022, às 14h00
Até saber sobre a aposentadoria do ator Bruce Willlis, em função do diagnóstico de afasia, pouca gente já tinha ouvido falar no assunto. A afasia não é uma doença, mas uma condição causada por danos nas regiões do cérebro envolvidas na linguagem, que pode ser consequência de doenças, lesões ou eventos cardiovasculares.
Só no Canadá e nos EUA, onde há mais estimativas, acredita-se que mais de 2 milhões de pessoas vivem com afasia. Nesses países, assim como no Brasil, o quadro é causa importante de incapacidade. Conheça, a seguir, as principais características da condição:
1 - Dificuldade para encontrar a palavra certa ao se comunicar. A pessoa pode acabar utilizando uma palavra relacionada ou até inventada.
2 - Cometer erros de gramática ou sintaxe, como omitir a terminação de certas palavras (por exemplo, deixar de fora o “s” relativo aou plural, ou errar a conjugação verbal).
3 - Colocar as palavras na ordem errada, ao construir frases, também é comum para quem sofre de afasia.
4 - Levar mais tempo que o normal para processar o que é dito, o que resulta em demora para formular respostas.
5 - Dificuldade para compreender algumas letras, sons de falas ou palavras específicas ou ouvir ou ler.
6 - Para quem usa linguagem de sinais, a capacidade de se expressar e entender também pode ser afetada negativamente.
7 - Algumas pessoas com afasia também podem ter problemas para entender formas de comunicação não verbais, como gestos e expressões faciais.
A afasia é normalmente causada por um acidente vascular cerebral (AVC), o popular "derrame", que gera interrupção do fluxo sanguíneo para ou dentro do cérebro. Cerca de 30% dos indivíduos que sofrem AVC apresentam essa sequela. Outras causas possíveis incluem lesão cerebral traumática, tumor cerebral ou infecção, como é o caso da meningite.
A afasia também é um componente chave de uma doença neurodegenerativa progressiva chamada afasia progressiva primária, um tipo de demência frontotemporal que costuma se manifestar mais cedo do que outros tipos de demência, como o alzheimer.
Indivíduos que vivem com afasia podem experimentar algumas dificuldades nas habilidades de atenção, memória e pensamento, como resolução de problemas ou planejamento. Isso ocorre porque essas outras funções cognitivas muitas vezes são utilizadas em conjunto com a linguagem.
Existe uma enorme variação nos sintomas – enquanto uma pessoa apresenta dificuldade em todas as modalidades de linguagem, outra pode ter problemas só para falar, por exemplo. Também existe um espectro de gravidade da afasia. Em casos mais leves, o desafio se dá mais para ler ou ouvir histórias complexas. E há indivíduos bilíngues ou multilíngues que apresentam dificuldades em todos os idiomas conhecidos, ou apenas em um deles.
Confira:
Viver com a afasia é um desafio para as pessoas, bem como para seus familiares e amigos. A dificuldade de ler rótulos, explicar sintomas de uma doença ou pedir ajuda na rua, entre tantas outras atividades que envolvem a linguagem, podem se tornar um grande problema.
Assim como Bruce Willis, certos profissionais que dependem da linguagem podem ter de abandonar suas carreiras bem mais cedo que o desejado. Além disso, relacionamentos podem ser prejudicados. Por todos esses motivos, não é incomum que pessoas com afasia também desenvolvam problemas de saúde mental, como a depressão.
Além de consultar o neurologista para entender a origem da condição, o trabalho com um fonoaudiólogo é fundamental. Existem diversas intervenções possíveis para melhorar as habilidades de linguagem e, principalmente, compensar os déficits que a pessoa tem para minimizar o impacto da afasia no dia a dia.
* Texto atualizado em 3/5/2022, para correção do número estimado de indivíduos com afasia nos EUA e Canadá: 2 milhões (e não 2 bilhões)
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