Redação Publicado em 03/02/2022, às 13h00
Quando você pensa em um sociopata, provavelmente imagina Christian Bale em Psicopata Americano (American Psycho), ou Anthony Hopkins em Silêncio dos Inocentes (Silence of the Lambs). Mas, como para a maioria das condições de saúde mental, a sociopatia – ou transtorno de personalidade antissocial – existe em um espectro, e nem todos os sociopatas são assassinos em série. Segundo estudos acadêmicos, o transtorno afeta cerca de 1% a 2% da população mundial, ou seja, uma a cada cem pessoas. Considerando esta estatística, só no Brasil, seriam de 2 a 4 milhões de pessoas que atenderiam aos critérios diagnósticos da doença. Portanto, as probabilidades de que você conheça alguém que tenha o transtorno são grandes.
O que é sociopatia? Segundo psiquiatras, é uma síndrome caracterizada por mau comportamento ao longo da vida. Pessoas com transtorno de personalidade antissocial tendem a ser enganosas e impulsivas, ignorando responsabilidades e, nos piores casos, não têm consciência disso.
O distúrbio pode ser relativamente leve. Talvez essas pessoas mintam, talvez tenham problemas com seus cônjuges, e será só isso. No outro extremo do espectro estão os ladrões e assassinos, sendo que a maioria das pessoas está no meio do espectro, segundo Donald Black, autor do livro Bad Boys, Bad Men: Confronting Antisocial Personality Disorder (Sociopathy), ou, em tradução livre: Garotos Maus, Homens Maus: Confrontando o transtorno de personalidade antissocial (sociopatia), não lançado no Brasil.
Uma coisa a notar: embora tenhamos a tendência de usar os termos "sociopata" e “psicopata” de forma intercambiável, eles significam coisas diferentes. Ao comparar ambos, Black diz que a maioria dos sociopatas são propensos ao comportamento impulsivo e, muitas vezes, são vistos como perturbados ou desequilibrados, enquanto um psicopata é frio e calculista, às vezes até encantador. Para o especialista, a psicopatia é vista como o extremo do espectro antissocial porque praticamente todos os psicopatas são antissociais, mas nem todos os antissociais têm psicopatia.
Para ser diagnosticado com transtorno de personalidade antissocial, uma pessoa deve ter pelo menos 18 anos e um histórico de agressão, quebra de regras e falsidade que remonta à infância. A seguir, algumas das outras características a serem observadas, com base nos critérios listados no Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, utilizado nos EUA.
Talvez um dos sinais mais conhecidos de transtorno de personalidade antissocial seja a falta de empatia, particularmente a incapacidade de sentir remorso por suas ações. Muitas pessoas com o transtorno parecem não ter consciência de terem agido mal, mas nem todas. Já os psicopatas nunca têm empatia, o que os torna especialmente perigosos. Como explica Black, quando você não sente remorso, você fica meio livre para fazer qualquer coisa – qualquer coisa ruim que vier à mente.
Pessoas com transtorno de personalidade antissocial acham difícil formar laços emocionais, então seus relacionamentos são muitas vezes instáveis e caóticos, segundo o psiquiatra. Em vez de forjar conexões com as pessoas em suas vidas, eles podem tentar explorá-las para seu próprio benefício por meio de engano, coerção e intimidação.
Os sociopatas tendem a tentar seduzir e agradar as pessoas ao seu redor para o próprio ganho ou entretenimento. Mas isso não significa que todos sejam excepcionalmente carismáticos. Pode ser verdade para alguns, e muitas vezes se diz que sociopatas são superficialmente encantadores. Black já comentou que não usaria o termo "charmoso" para descrever muitos homens antissociais atendidos no hospital e no ambulatório onde ele atua.
Os sociopatas têm a reputação de serem desonestos e enganadores. Eles geralmente se sentem confortáveis mentindo para conseguir o que querem ou para se livrar de problemas. Eles também têm a tendência a embelezar a verdade quando lhes convêm.
Alguns podem ser abertamente violentos e agressivos. Outros vão cortá-lo verbalmente, não deixando você falar. De qualquer forma, as pessoas com transtorno de personalidade antissocial tendem a mostrar um desrespeito cruel pelos sentimentos de outras pessoas.
Os sociopatas não são apenas hostis, são também mais propensos a interpretar o comportamento dos outros como hostil, o que os leva a buscar vingança.
Outro sinal de que alguém pode ter transtorno de personalidade antissocial é o desrespeito às obrigações financeiras e sociais. Ignorar responsabilidades é extremamente comum, segundo Black. Pense, por exemplo, em não pagar pensão alimentícia no vencimento, permitir que as contas se acumulem e tirar folgas do trabalho regularmente.
Todos nós temos nossos momentos impulsivos: uma viagem de última hora, um corte drástico de cabelo ou um novo e caro par de sapatos que você "precisa ter". Mas para alguém com transtorno de personalidade antissocial, tomar decisões impulsivas sem pensar nas consequências faz parte da vida cotidiana, segundo o psiquiatra. Eles acham extremamente difícil fazer um plano e cumpri-lo.
Combine irresponsabilidade, impulsividade e necessidade de gratificação instantânea, e não é de surpreender que os sociopatas se envolvam em comportamentos de risco. Eles tendem a ter pouca preocupação com a segurança dos outros ou consigo mesmos. Isso significa que o consumo excessivo de álcool, abuso de drogas, jogo compulsivo, sexo inseguro e hobbies perigosos (incluindo atividades criminosas) são comuns.
A terapia pode ajudar a controlar alguns dos sintomas e efeitos colaterais, principalmente em casos mais leves. Mas é incomum que um sociopata procure ajuda profissional. Black afirma que uma das coisas curiosas sobre esse distúrbio é a falta geral de percepção. A pessoa pode reconhecer que tem problemas. Ela percebe que está em apuros, pode saber que seu cônjuge não está feliz e que tem problemas no trabalho. Mas tende a culpar outras pessoas e outras circunstâncias.
O psiquiatra, no entanto, dá uma boa notícia: os sintomas do transtorno de personalidade antissocial parecem melhorar um pouco com a idade, especialmente entre os sociopatas mais leves e aqueles que não usam drogas ou bebem em excesso. Mas se você conhece alguém com o transtorno, a melhor coisa a fazer é ficar longe, aconselha o médico:
Evite-os. Evite-os da melhor forma que puder, porque eles vão complicar sua vida".
Fonte: Health
Veja também: