Mais uma pesquisa reforça a ideia de que as pessoas comem gorduras e carboidratos em excesso quando, na verdade, estão ávidas por proteínas, um macronutriente que o nosso organismo "valoriza" muito. O trabalho, feito por cientistas australianos, contou com 9.341 pessoas, que tiveram seus hábitos alimentares acompanhados durante um ano.
A Hipótese de Alavancagem de Proteína foi apresentada pela primeira vez em 2005 pelos pesquisadores David Raubenheimer and Stephen Simpson, que participaram desta pesquisa. Segundo a tese, como grande parte das dietas modernas consiste em alimentos altamente processados e refinados – que são pobres em proteínas – as pessoas são levadas a consumir alimentos mais densos em energia até que satisfaçam sua demanda de proteína.
As proteínas são os blocos de construção da vida: cada célula do corpo as contém e elas são usadas para reparar células ou produzir novas. De acordo com os pesquisadores, mais de 1 milhão de formas de proteína são necessárias para permitir que o corpo humano funcione. São fontes comuns desse nutriente alimentos como carnes, leite, peixes, ovos, soja, legumes, feijão e alguns grãos, como gérmen de trigo e quinoa.
Veja o que diz o professor David Raubenheimer sobre o macronutriente:
Está cada vez mais claro que nossos corpos se alimentam para satisfazer um alvo proteico. Mas o problema é que os alimentos nas dietas ocidentais têm cada vez menos proteína. Então, você precisa consumir mais para atingir sua meta de proteína, o que efetivamente eleva sua ingestão diária de energia.”
O estudo atual, publicado na última edição da revista Obesity e conduzido pela Universidade de Sydney, foi baseado em uma pesquisa nacional de nutrição e atividade física realizada pelo Australian Bureau of Statistics (ABS). Os participantes tinham idade média de 46,3 anos.
Eles descobriram que a ingestão média de energia da população foi de 8.671 quilojoules (kJ), com uma proporção média de energia proveniente de proteína de apenas 18,4%, em comparação com 43,5% de carboidratos e 30,9% de gordura.
Ao analisar a ingestão de energia versus o horário de consumo, eles descobriram que o padrão correspondia ao previsto pela Hipótese de Alavancagem de Proteína. Aqueles que consumiam quantidades menores de proteína na primeira refeição do dia aumentavam a ingestão geral de alimentos nas refeições subsequentes.
Já aqueles que consumiam a quantidade recomendada de proteína de manhã não fizeram a mesma coisa - e, de fato, diminuíram sua ingestão de alimentos ao longo do período.
Eles também encontraram uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos na terceira refeição do dia: aqueles com maior proporção de proteína no café da manhã tiveram uma ingestão menor mais tarde.
Enquanto isso, aqueles que consumiam alimentos com baixo teor de proteína no início do dia passaram a aumentar o consumo de comida mais tarde, como num mecanismo de compensação. Isso aconteceu apesar de a primeira refeição ter sido a menor para ambos os grupos – com a menor quantidade de energia e alimentos consumidos, enquanto a última refeição foi a maior.
Os participantes com proporção menor de proteína que a recomendada na primeira refeição consumiram mais alimentos densos em energia, ricos em gorduras saturadas, açúcares, sal ou álcool – ao longo do dia. E, também, menos que os cinco grupos de alimentos recomendados (grãos, legumes, frutas, laticínios e carnes). Ou seja, eles tinham uma dieta geral mais pobre a cada refeição, e com sua porcentagem de energia proteica reduzida também, apesar do aumento da ingestão de itens mais calóricos.
Raubenheimer e sua equipe já tinham visto esse efeito antes em outros estudos, inclusive em ensaios clínicos randomizados (em que os participantes são escolhidos aleatoriamente). O problema, segundo ele, é que pesquisas sobre hábitos alimentares não são fáceis de serem feitos.
Embora muitos fatores contribuam para o ganho de peso – incluindo padrões alimentares, níveis de atividade física e rotinas de sono – os cientistas da Universidade de Sydney argumentam que a poderosa demanda de proteínas do corpo e a ingestão de alimentos altamente processados e refinados para tentar aplacá-la é um fator-chave para a obesidade no mundo ocidental.
Barras de proteína são produtos que estão na moda, e já representam um mercado milionário nos EUA. Mas um pequeno estudo recente aponta que a inclusão desse tipo de alimento na dieta requer parcimônia.
Pesquisadores da Universidade do Estado da Arizona, nos EUA, acompanharam um grupo de 21 pessoas que não eram atletas, com idade média de 22 anos. A maioria era do sexo feminino e 30% estavam acima do peso. Todos consumiram uma barra com cerca de 20 gramas de proteína por dia, com cerca de 170 calorias cada uma, ao longo de uma semana.
No final dos 7 dias, os participantes tiveram um aumento de massa gorda em torno de 3%. O resultado foi surpreendente: a equipe achava que o aumento de saciedade produzido pelo consumo extra de proteínas reduziria a ingestão calórica, o que não aconteceu. Os resultados foram apresentados em um encontro científico anual sobre obesidade.
Para os pesquisadores, é preciso aconselhar os consumidores de que a ingestão de uma barra de proteína precisa substituir as calorias de outras refeições, e não pode ser simplesmente adicionada à ingestão calórica diária.
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Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin